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João Batista

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No nosso Mundo Terra é um organismo vivo e, como tal, efetua espiritualmente um lento inspirar e expirar: no ponto máximo do verão atinge o expirar mais completo e no ponto mais baixo do inverno, o inspirar. Durante a primavera e o verão a Terra está num estado como o do sono do ser humano, isto é, fora de seu corpo físico e no inverno, ao inspirar, estaria na situação do ser humano acordado. A humanidade era completa composta de seres cósmicos que acompanhavam este ritmo da Terra: no verão se exaltavam, saíam de si.

No hemisfério norte, os costumes do solstício em volta de uma fogueira, em pontos culminantes das montanhas, traduzem o êxtase, o extrapolar-se das almas humanas. Neste ponto máximo, a Terra tem a sua matéria elevada para o espiritual. No inverno acontece o inverso: o espiritual se infiltra na matéria terrena quando a terra inspira. (Isto ocorre agora no hemisfério sul!). Mas, hoje em dia, a humanidade conseguiu interferir em grande escala neste processo, porque ela não acompanha mais espontaneamente este ritmo, (distanciamento das mudanças na natureza, viagens rápidas de um hemisfério a outro, etc.)

João Batista ainda é o homem arquetípico, que vivia nesta relação com a Terra. Lá onde nasceu, no hemisfério norte, o verão atingia o ponto alto, e sua formação no ventre materno se deu durante o sol crescente, na expiração da Terra. Sua alma também se exteriorizara e ele surgia como imensamente grande e misterioso aos homens aos quais falava. (Isto se pode verificar em ilustrações em que João Batista aparece quase gigante.) Trazia ele em si a tendência cósmica original da humanidade daquela época, que é o estar em êxtase, em transe.

Em relação a este fato, João batista era o oposto de Jesus Cristo, cujo nascimento caiu no inverno mais profundo e seu corpo se desenvolveu no ventre materno, quando o sol se recolhia e a terra inspirava. Assim, Jesus tornou-se o representante arquetípico do outro princípio do mundo que é: o homem terreno pode se tornar um recipiente de um ser espiritual superior.

Resumindo temos então João batista, o antigo ser humano cósmico, encarnação do princípio do êxtase, do sair fora de si. E Jesus Nazareno, o novo ser humano terrestre, que encarna o ser que, mesmo sendo pequeno, pode crescer ao receber o Eu crístico no seu eu humano.

Duas vezes, João Batista foi o maior e o último dos profetas. Ele sabia que o antigo modo da humanidade de se ligar com a respiração da Terra ia terminado e que esta ligação estava ressecando e fenecendo. Ele via o desligamento da proximidade de Deus e o céu que os humanos haviam tido espontaneamente.

E o que via se traduz nas suas palavras: “Já o machado está nas raízes das árvores”. Mas também sabia que algo novo surgia. Também profetizou a nova messiânica, a vida nova resultante de um conteúdo espiritual novo, no íntimo mais profundo de cada ser humano. E de si dizia João Batista: ”Eu devo diminuir, ele deve crescer.” Eu devo diminuir significa que aquela força dada pela natureza de crescer para fora de si é que deve diminuir e Ele deve crescer significa o que não traz mais força espontânea. Deste ponto em diante, a fogueira do êxtase se transformou em oferenda, em sacrifício, num sinal de que o velho Adão se sacrificava, para que pudesse crescer e surgir um Adão novo.

E como tal é preciso que também os festejos juninos se tornes cristãos. Um tempo virá em que será festa de intensa elevação a dimensões novamente cósmicas, porque ainda hoje nos prendemos muito facilmente a contextos antigos.

Mas temos que começar aos poucos. Se refletirmos, veremos que o dia 24, São João, não é mais o ponto alto do verão no hemisfério norte (inverno aqui no sul) como o era há 2000 anos atrás, antes das várias reformas de calendários. Se pensarmos também nas festas realizadas em fins-de-semana, antes e após o dia 24 (que não é feriado), veremos que a distância da hora certa de festejar o solstício é bem grande e variável. É importante, pois, sabermos que se trata de uma época e não apenas de um certo dia.

Deste modo vamos, entender que a época de São João é muito mais do que a festa em que o cristianismo recebe o seu caráter cósmico, dado pela natureza. A festa em que isto se dá é a ascensão de Cristo, pois é nesta que podemos entender que Cristo se une ou liga com todo o mundo terrestre. Temos ai o ressureto que transforma o antigo, velho cosmo em um cosmo novo, pois se uniu a ela, transformando-o. este é o grande e desconhecido mistério da Ascensão: Cristo é Senhor dos elementos: no inverno (terra se endurece, a água se cristaliza) na primavera (água= a terra amolece, as plantas desabrocham) no verão (fogo = o calor da época) no outono (ar = as ventanias). Explicando: a terra como um corpo de elementos, materiais vitais, de alma e espírito. Na matéria, o corpo físico, em tudo fluído é a sua vida que flui. Sua respiração e o ar em que tece a sua alma. E o calor que vem de tão longe, de fora da esfera terrestre, nos deixa adivinhar uma parte espiritual.

Da ascensão passamos para o Pentecostes quando o ser humano, através da sua possibilidade de se unir com o ressureto, adquire a capacidade de se unir também ao novo cosmo. Ao ser batizado com água, o corpo humano fica preparado para ser um receptáculo puro e limpo e, quando em Pentecostes o Espírito Santo veio para batizar com língua de fogo recebemos a possibilidade de abrigar em nossa alma um conteúdo celestial superior.

Nesta época de São João podemos reviver a vida tão dramática e cheia de pontos altos que teve João Batista. No dia 06 de janeiro batizou um ser humano que não reagiu como o haviam feito os outros, extasiando-se: nele se deu pela primeira vez a moradia do Cristo em um ser humano! Aconteceu o imenso milagre de Jesus Nazareno receber a entidade do cristo, um ente solar. O maior representante do antigo cosmo ajudou a uma entidade nova chegar à terra, iniciando uma nova era.

João Batista ainda continuou em grande evidencia, porém logo se inicia sua vida de sacrifícios: seu destino desenrolou-se e o grande batizador é encarcerado e não pode mais exercer a sua grande atividade. Quem o substitui? Os discípulos se tornaram discípulos de Jesus Cristo, mas todos ainda ficavam bem retraídos. E aconteceu então o trágico desfecho no dia 29 de agosto como nos diz a tradição em que a cabeça de João Batista é trazida ao salão em que Herodes dava uma festa.

Este foi o sinal para serem procurados novos caminhos e, 3 anos após, levaram ao Mistério da Morte e Ressurreição, da Ascensão e Pentecostes.

Mais uma ajuda para facilitar a compreensão das palavras de João batista: ”Eu devo diminuir, ele deve crescer”. Vejamos que a Terra no outono e no inverno não fica mais pobre, ela não perde o que o verão trouxe para o exterior e a visão, o que são bênçãos e presentes divinos! A Terra absorve, interioriza, tornando tudo o seu corpo, ela sim, incorpora tudo! E é no outono que os frutos amadurecidos são ofertas e dádivas. “Eu preciso diminuir” sem me tornar pequeno e mesquinho moralmente, devo tentar trazer para dentro de mim o que nos rodeia espiritualmente. Isto com toda a modéstia) possível, trazendo a imensa riqueza celestial para ser incorporada corretamente em minha forma humana.

Nós não podemos ter perdido tudo o que, quando crianças, trouxemos de imenso e maravilhoso em forças celestiais para a terra! Nós não perdemos esta riqueza ao nos tornarmos adultos! Só não sabemos o que fazer com ela e por isso ela fica bem no fundo, nos recônditos mais profundos, em carne, ossos e sangue. Mas, podemos trazê-la à tona podemos trabalhá-la e descobrir novamente esta magia da riqueza espiritual e celeste. Então: é de noite, quando dormimos, que nos tornamos maiores que o nosso corpo físico, e quando estamos acordados voltamos aos limites deste corpo; porém trazemos conosco o que nos foi presenteado pelos céus noturnos. Só que não sabemos mais aproveitar logo no dia seguinte o que lá trouxemos.

Vamos pensar na situação do batismo do rio Jordão. João Batista com a sua enorme alma, e com isto o representante máximo da humanidade antiga, não pelo físico (apesar de muitas vezes, ser representado assim), mas por tudo o que traz em sua volta. E vem alguém para ser batizado, alguém que nasceu meio ano após ele ter nascido. E é um ser humano completo, com sofrimento e desavenças que o amarguram, tornando-o menor (pois esta amargura diminui o ser). Então, este ser é pequeno e João Batista é tão imenso. Mas ao ser Jesus, batizado por João, Jesus vai crescer e muito. Como assim? Ele cresce imensamente, porque o pequeno ser humano Jesus recebe o Cristo, uma entidade solar. Jesus incorpora um conteúdo celeste infinito. E assim surge um novo conceito de tamanho, que não é o que João Batista possui, dado espontaneamente pela natureza.

Por isso, o ser humano pequeno pode dizer: “Não eu, mas o Cristo em mim.” E quando João Batista diz: “Ele deve crescer" nós entendemos que devemos diminuir para que Cristo em nós possa crescer e com Ele também cresce o nosso Eu superior.

Esta é a visão que devemos ter da época festiva de São João: que novamente surja uma grandeza no ser humano. Não aquela grandeza atávica, mas aquela grandeza que pode surgir como uma chama que aquece e purifica, o nosso interior. O contrário dela, seria a chama transe ou êxtase que exterioriza o ser humano, o deixa fora de si.

Não é necessário esperarmos esta época de São João para tentarmos acender e atiçar este fogo interior. Através dessa interiorização, podemos novamente ter inspiração: deixando para trás tudo o que foi como transe, (o que antigamente se considera como enriquecedor da alma), tudo o que foi herdado; “eu devo diminuir” (ficar pequeno, colocar dentro de mim, absorver) para poder ser um ser humano acordado desperto. Nossa alma deve estar sempre de prontidão para podermos nos interiorizarmos, deixar de procurar no exterior riquezas, distrações e passatempos.

 

(texto extraído do livro "A Ciranda das Festas Anuais" de Emil Bock. Publicado na Apostila Edições Moiras do Grupo Pró-Comunidade de Cristãos de Curitiba, 1996. Tradução e adaptação: Martha M. Walzber)