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A Vivência da Páscoa (Bernardo Kaliks)

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Existem várias formas para poder se relacionar com esta festa. A época atual, tão longe de todo o religioso ou do autenticamente espiritual, oferece, paradoxalmente, muitos elementos que possibilitam uma relação com esta festa.

A Festa da Páscoa é a festa que lembra a Paixão, a Morte e a Ressurreição do Cristo. O Cristo, um Deus, um ser que nunca tinha estado na terra, e que só conhece a Eternidade, vincula-se ao ser humano, expondo-se à experiência mais difícil que todos os homens devem enfrentar: a experiência da morte. E Ele a vence: Ele leva consigo o corpo físico naquilo que conhecemos como a Ressurreição.

Hoje em dia, o ser humano passa mais e mais freqüentemente por experiências que, de uma ou outra forma, lembram algo assim como a morte; freqüentemente as pessoas se confrontam por exemplo: com a profissão assumida anos antes, e percebem como esse impulso profissional está chegando a um fim, e nada se percebe que possa substituí-lo; a falta de motivação profissional, após anos, gera uma sensação de vazio na alma, um “nada”, que nos faz ter a sensação de um fim, de uma “pequena morte”. Não só profissionalmente pode esta acontecer mas também em relação à família. Com freqüência pessoas que chegam aos 42-45 anos de idade com trabalho relativamente estável, uma família relativamente bem constituída, filhos adolescentes ou já entrando na Universidade, sentem uma falta de sentido em tudo isso, e gostariam de poder “começar de novo”, deixar tudo isso para trás; e isto pode ser muito dramático, porque os próprios relacionamentos, a sua pobre qualidade, acentuam a sensação de falta de sentido, que o próprio esvaziamento interior tinha gerado.

Estes são exemplos cada vez mais freqüentes, em maior ou menor grau, e nas mais diversas situações, todos nós passamos por esta experiência de “fim”, de “nada”, de “sem sentido”.

Mas a mesma coisa nós encontramos não só na vida pessoal, encontramo-la embutida naquelas coisas que para nós tinham um significado mais transcendente, na ciência por exemplo, o desenvolvimento científico trouxe, com a aplicação dos seus resultados, conseqüências imprevisíveis para a natureza: as repetidas catástrofes ecológicas na segunda metade no nosso século ilustram isto com muita clareza. Mas o leitor não deve pensar que estas conseqüências são o resultado de um descuido apenas: nessa opinião está embutida uma enorme ingenuidade. A realidade é que a própria metodologia das ciências, o próprio método científico gera essas graves conseqüências, pois o método científico tem limitações: esse método tem os recursos para descrever a composição material do mundo, mas ele não pode explicar a natureza da vida; para esta precisa-se de um outro método, desenvolvido por Rudolf Steiner na sua Antroposofia. O método científico tradicional, nas suas aplicações práticas, desenvolveu todo o bem estar material que conhecemos na nossa civilização, mas chegou num ponto onde a sua aplicação mais sofisticada inverte esse bem estar em situações de desastre, que são inesperadas e assustadoras. Isto leva mais e mais muitas pessoas a perceber que também aqui, nas ciências, chega-se a um ponto final que mostra o futuro como uma incógnita assustadora. A situação na medicina (os problemas da Bioética), a situação na pedagogia e na educação da criança, na agricultura, etc., etc., mostra-nos que chegamos ao final de um caminho. Este final é como uma morte. Mas o impulso do Cristo trouxe a Ressurreição. E é com estas forças da Ressurreição que devemos aprender hoje a nos colocar na vida, também dentro das ciências. Isto traz um novo conhecimento do homem e da natureza, que nos ensinará a agir de forma diferente.

E esta situação é ilustrada para nós na semana da Páscoa onde a Paixão, a Morte e a Ressurreição podem nos inspirar a refletir sobre a seriedade do momento que vivemos e da seriedade com que devemos nos confrontar com as mudanças pelas quais devemos passar.