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Textos Rudolf Steiner

A idéia de pentecostes como base no sentimento para a compreensão do carma

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Palestra proferida em Dornach, em 04 de junho de 1924

Rudolf Steiner



Quando observamos o modo como atua o carma, precisamos dirigir nossa atenção ao fato de que o Eu do homem, que representa o verdadeiro carma, a mais profunda essência do homem, possui de certa forma três instrumentos, através dos quais se manifesta no mundo: o corpo físico, o corpo etérico e o corpo astral. O homem, no fundo, apenas se reveste do corpo físico, do corpo etérico e do corpo astral. Ele não é nenhum destes corpos, pois ele, no fundo, é o Eu. E é o Eu também que sofre o carma e forma o carma.
 
O que importa, no entanto, é levar em consideração a relação do homem como Eu para estas três, por assim dizer, formações instrumentais, com os corpos físicos, etérico e astral, a fim de obter, justamente com base nisto, uma compreensão da essência do carma. E conseguiremos obter um ponto de vista a observação do físico, do etérico, do astral no homem, um ponto de vista válido em relação ao carma, se levarmos em conta o seguinte:
O físico, como o vemos no reino mineral, o etérico, como o encontramos atuante no reino animal, tudo isto encontramos ao redor do homem na terra.
 
Temos no cosmo ao redor da terra, por assim dizer, aquele universo para o qual a terra se estende em todas as direções. É verdade que sentimos um certo parentesco entre aquilo que se passa na terra e aquilo que se passa no cosmo circundante. Mas a pergunta surge, de qualquer maneira, para a ciência espiritual: este parentesco é tão, digamos, trivial como a ciência natural contemporânea o imagina?
 
A ciência natural contemporânea examina as propriedades físicas daquilo que, com vida ou sem vida, existe na terra. Ela pesquisa, em seguida, as estrelas, o sol, a lua, etc., e ela acha – está especialmente orgulhosa por ter descoberto isto: que, no fundo, estes corpos celestes seriam o mesmo que a terra.
 
A este modo de ver chega-se, no entanto, somente através de um processo cognitivo que em parte alguma abrange o próprio homem, que, no fundo, só abrange o extrahumano. No momento em que compreendemos realmente o homem como parte integrante do universo, neste momento podemos encontrar a relação que existe entre cada um dos membros instrumentais do homem, o corpo físico, o corpo etérico, o corpo astral – e as respectivas entidades, aquilo que, no ser cósmico, lhes corresponde.
 
Encontramos então, para o corpo etérico, lá fora no cosmo, em toda parte, o éter universal. É verdade: o corpo etérico do homem tem uma forma humana específica, ele contem certas formas de movimento, etc.- estas são diferentes no éter universal. Mas, de qualquer maneira, é verdade que o éter universal é da mesma espécie que aquilo que se encontra no corpo etérico do homem.
 
Da mesma forma, podemos falar de uma semelhança entre aquilo que se encontra no corpo astral do homem e um certo astral que lá fora no cosmo atua através de todas as coisas e de todos os seres.
 
Chegamos a descobrir assim algo extremamente importante, algo que, em sua essência, é, no fundo totalmente estranho ao homem contemporâneo.
Vamos a partir de uma idéia esquemática: imaginemos na terra o homem com seu corpo etérico, ao redor da terra então o éter universal, que é da mesma espécie que o éter humano. Entretanto, temos no homem também o corpo astral; no cosmo ao redor, também há astralidade. Mas onde a encontraremos? Onde está ele? Pode-se encontrá-la, só que primeiro é preciso descobrir o que, no cosmo, revela astralidade: em algum lugar, temos que dizer, está a astralidade. Mas será que a astralidade no cosmo é totalmente invisível, totalmente imperceptível, ou será que é perceptível, de alguma maneira? Naturalmente, o éter, no fundo, também é, de início, imperceptível para os sentidos físicos. Se os senhores contemplarem um pequeno pedaço de éter – se permitem que use essa expressão, - então os senhores, com os sentidos físicos, não verão nada, simplesmente olharão através dela, o éter parecerá nada. Se contudo considerarem o éter circundante em seu todo, então os Senhores enxergarão o céu azul, que, no fundo, também não existe, justamente porque percebem o fim do éter. Quer dizer, os Senhores percebem o éter como azul do céu. A percepção do azul celeste é, em realidade, a percepção do éter. De modo que vale dizer: enquanto percebemos o azul do céu, estamos percebendo o éter ao nosso redor.
 
De início, olhamos através do éter. Isto ele tolera, de início, mas ele, de qualquer maneira, fez com que o percebamos no azul celeste. Portanto, a existência do céu azul para a percepção do homem é caracterizada corretamente quando se diz: é verdade que o éter não é perceptível, porem ele se eleva até a perceptibilidade pela grande majestade com que se coloca no mundo, anunciando-se, revelando-se no azul do céu.
 
Na ciência física pensa-se de maneira materialista sobre o azul do céu. Acontece que, para a ciência física, é difícil refletir de maneira sensata sobre o azul celeste, simplesmente porque a ciência física precisa compreender: lá, onde se encontra o azul do céu, não há nada de físico. Mas, mesmo assim, faz-se de toda espécie de acrobacia mental, a fim de explicar como raios de luz são refratados de um modo todo especial para provocar este azul do céu. Aqui, no entanto, já começa o domínio do suprassensorial. E no cosmo as coisas são de tal natureza que o suprassensorial torna-se perceptível, só que precisamos descobrir onde é que ele se torna perceptível.
 
O éter, portanto, torna-se perceptível através do azul do céu. E agora, em algum lugar está o astral no cosmo. O éter, através do azul celeste, transparece no sensorial. Onde é que o astral do cosmo transparece no visível, no perceptível?
 
Pois vejam bem, na verdade, cada estrela que vemos brilhar no céu é um portal de entrada para o astral. De modo que, em toda parte, onde estrelas reluzem, é o astral que reluz para dentro do nosso mundo. Quando, portanto, os Senhores vêem o céu em sua multiplicidade, aqui as estrelas amontoadas em grupos, aí mais dispersas,  mais distantes uma da outra, então os Senhores precisam dizer a si mesmos: nessa maravilhosa configuração luminosa, o corpo astral invisível, suprassensorial do cosmo faz com que o enxerguemos.
 
Daí também não é lícito encarar o mundo das estrelas da forma não espiritual. Erguer o olhar para o mundo das estrelas e falar de mundos de gás incandescente, é a mesma coisa – desculpem a comparação paradoxa, mas ela é correta em todos os detalhes – como se alguém acariciasse os Senhores e, ao acariciá-los com a mão, mantivesse os dedos um pouco afastados um do outro, e os senhores dissesem: aquilo que sentem aí, são pequenas fitas que estão sendo colocadas sobre suas faces. Assim como não estão sendo colocadas pequenas fitas sobre suas faces, quando alguém os acaricia, assim também não se encontram lá em cima aquelas coisas das quais a física fala; o corpo astral do universo que exerça permanentemente sua influência sobre a organização etérica, da mesma forma como o acariciar age sobre as suas faces.
 
Só que é organizado para uma duração muito longa. Daí a permanência de uma estrela, que sempre significa uma influência do mundo astral sobre o éter universal, ser mais duradoura que o acariciar; o acariciar, o homem não o suportaria por tanto tempo. Mas acontece que, no universo, isto dura mais, porque as proporções no universo são gigantescas. De modo que o céu estrelado deve ser visto como uma manifestação anímica do astral universal.
Ao encará-lo assim, o cosmo torna-se para nós repleto de vida, até de vida anímica, realmente vida anímica. Pensem tão somente uma vez em como o cosmo está morto quando se olha para fora e se imaginam corpos de gás incandescente. Pense quanta vida tudo adquire quando se sabe: estas estrelas são a expressão do amor com que o cosmo astral atua sobre o cosmo etérico. Esta é uma expressão inteiramente correta.
 
Mas agora pensem naqueles fenômenos enigmáticos que não podem ser explicados apenas através de coisas físicas, pois estas, no fundo, não levam a compreensão alguma, nos fenômenos do resplandecer repentino de cartas estrelas, em determinadas épocas. Estrelas que ainda não estavam aí, aparecem, desaparecem novamente. Quer dizer que um acariciar breve também existe no universo. Em épocas quando, eu diria, os Deuses querem agir do mundo astral para dentro do mundo etérico, a gente vê tais estrelas que resplandecem e logo perdem novamente a luminosidade.
 
Assim temos dentro de nós, através de nosso corpo astral, as mais variadas sensações de bem-estar; assim, temos no cosmo, através do corpo astral, as configurações do céu estrelado. Não é de admirar, pois, que uma ciência antiga, instintivamente vidente, chamava este terceiro membro do homem de corpo astral, já que ele é da mesma natureza que aquilo que nas estrelas se revela. Só o Eu não encontramos revelando-se neste universo circundante. Por quê?
 
Bem, descobriremos por que é assim, se dirigirmos nossa atenção ao fato de que Eu do homem em sua manifestação na terra – isto é no cosmo que, no fundo, é um mundo trimembrado, físico, etérico e astral é uma repetição de vidas terrenas passadas. E ele também passa sempre por novos períodos de vida entra a morte e um novo nascimento.
 
Aí (nestes períodos) constatamos que o mundo etérico que circunda o mundo físico não tem para este Eu nenhum significado. Pois o corpo etérico, conforme sabemos, é deixado para trás, pouco tempo após a morte. Só o mundo astral, que reluz através das estrelas, tem um significado para o Eu durante a vida entre a morte e um novo nascimento. E neste mundo, que reluz através das estrelas, neste mundo vivem então os seres das hierarquias superiores, com as quais o homem, entre a morte e um novo nascimento, forma seu carma.
 
Entretanto, observando este Eu, ao passar pelo nascimento e pela morte, e entre a morte e um novo nascimento, não podemos permanecer no espaço. Duas vidas terrenas eu se seguem não podem, obviamente, acontecer no mesmo espaço, quer dizer naquele universo que depende da existência simultânea no espaço. Aí estamos saindo do espaço e entrando no tempo. E de fato, saímos do espaço, entramos no fluxo puramente temporal, quando observamos o Eu em suas subseqüentes vidas terrenas.
 
Agora pensem porém: no espaço, naturalmente, existe o tempo, mas não há meios, dentro do espaço, para vivenciar o tempo como tal. Não há meios. Somos forçados a vivenciar o tempo sempre através do espaço e dos fenômenos que neste ocorrem. Os Senhores, quando querem vivenciar o tempo, olham por exemplo ao relógio, ou então, se quiserem, olham para a trajetória do sol – o relógio é, na verdade, apenas um reflexo terreno da trajetória solar. Mas o que os senhores vêem aí? Os senhores vêem posições dos ponteiros ou posições do sol, fenômenos especiais. Pela mudança de lugar dos ponteiros ou do sol, isto é, pelo fato de termos perante nós alterações no espaço, temos uma noção do tempo. Mas, no fundo, não há, no espaço, nada do tempo. Há tão somente ordenações espaciais diferentes, posições diferentes dos ponteiros, posições diferentes do sol. O tempo, os Senhores o vivenciam somente depois de passarem para o vivenciar anímico. Aí, porém, vivenciam-no realmente, - e aí os Senhores também saem do espaço. Aí, o tempo é uma realidade. O tempo, no âmbito terrestre, não é realidade, absolutamente.
 
O que é preciso vivenciar, portanto, se do espaço, no qual vivemos entre o nascimento o nascimento e a morte, quisermos passar para o estado onde não há espaço, estado em que vivemos entre a morte e um novo nascimento, o que é preciso para tal? Bem, meus caros amigos, precisamos morrer. E considerem, em toda sua nitidez, em toda sua profundidade, o fato de que, na terra, o tempo só pode ser vivenciado através do espaço, através de localizações no espaço, através de objetos espaciais; que o tempo, na terra, não pode absolutamente ser vivenciado em sua realidade: encontrarão então, no fundo, uma outra palavra para designar a realidade contida na constatação: a fim de entrar no tempo em sua realidade, temos que sair do espaço, eliminar tudo que é espacial. Isto quer dizer: morrer. Significa morrer!
 
Cumpre-nos agora dirigir o olhar a este mundo cósmico que nos circunda em volta da terra, com o qual nos assemelhamos através do nosso corpo etérico, com o qual nos assemelhamos através do nosso corpo astral, e olharemos então ao espiritual deste mundo cósmico. Houve povos, houve grupos que olhava, só para o espiritual deste mundo cósmico em seu aspecto espacial. Privam-se assim de pensamentos sobre as subseqüentes vidas terrenas. Pois só aqueles homens, só aqueles grupos que conseguiam imaginar o tempo em seu aspecto puro, em seu aspecto não espacial, podiam ter pensamentos sobre as subseqüentes vidas terrenas.
 
E se conseguirmos abstrair aquilo que representa o nosso mundo terrenos e seu redor, isto é: o nosso cosmo, o nosso universo, e se avisarmos o espiritual que lhe corresponde, então teremos mais ou monos aquilo de que podemos dizer: é preciso que exista, para que possamos entrar para a existência como homens terrenos. É preciso que exista.
 
Sim, esta idéia: que tudo aquilo que acabo de caracterizar tem que existir, para que possamos entrar para a existência na Terra como homens terrenos, esta idéia tem um enorme alcance. Enorme sobretudo quando imaginamos o espiritual de tudo que assim foi caracterizado. E quando imaginamos este espiritual nesta sua – eu diria – forma puríssima e exclusiva, então teremos mais ou menos aquilo que era chamado de Deus por aqueles povos que se limitavam á contemplação do espaço.
 
Esses povos, em seus ensinamentos de sabedoria, pelo menos sentiam: o cosmo é permeado e transpassado por algo. Divino, e desse Divino distingue-se aquilo que há aqui na Terra ao nosso redor, no mundo físico.
 
Pode-se distinguir então aquilo que, neste cósmico, Divino, espiritual se manifesta como etérico, olhando para nós no azul do céu: Pode-se distinguir o astral neste divino, que nos olha através do céu estrelado.
 
Imaginemo-nos bem concretamente nesta situação, que estamos na Terra como homens no universo e dizemos: nós seres humanos temos o corpo físico, - onde está o físico no universo? Aí voltamos aquilo a que já aludi. A ciência física procura encontrar no universo tudo aquilo que também há na Terra. Mas a organização física propriamente dita não está no universo. O homem começa com a organização física, tem então a etérica, depois a astral; o universo já começa com organização etérica. Aí fora, o físico não está em lugar algum. O físico se encontra na Terra, e é completamente ilusório falar do físico no universo. No universo, há o etérico e depois o astral. O que o universo ainda tem como terceiro componente, apresentar-se-á, ainda hoje, perante nossas almas. Porém, a trimembração do cosmo é diferente da trimembração do cosmo qual a Terra faz parte.
 
Se contudo, nos colocarmos na terra com um tal sentimento; se sentirmos o físico do nosso habitat imediato, aqui na Terra, sentirmos o etérico que há na Terra e no universo, atuando em conjunto a partir da terra e a partir do universo, como etérico, se olharmos para o astral que através das estrelas reluz em direção à terra aqui embaixo, e mais intensamente nos reluz a partir da estrela solar, - quando olhamos para tudo isto e colocamos diante da nossa alma a grandiosidade desta idéia do universo; então achamos muito certo que naqueles tempos, quando, partindo da uma vidência mais ou menos instintiva, a humanidade não pensava só abstratamente, mas tinha a capacidade de sentir a grandiosidade das idéias, os homens foram levados a compreender: uma idéia tão grandiosa, em sua plenitude, não se pode pensá-la o tempo todo, é preciso focalizá-la uma vez, deixá-la agir em toda sua imensa gloriosidade sobre a alma, e em seguida deixar com que atue no íntimo do homem – sem que a consciência a estrague, a corrompa. E se refletirmos acerca da pergunta de como é que a antiga vidência instintiva pôs em prática este modo de pensar, acharemos que, de tudo quanto afluí aí para pôr em prática esta idéia dentro da humanidade, em nossa época temos ainda a instituição da festa de NATAL.
 
Na noite de Natal, quando o homem imagina como ele, aqui na terra, com seu corpo físico, seu corpo etérico, seu corpo astral, tem afinidade com o cosmo trimembrado que em seu etérico, no azul do céu, tão majestoso, mas ao mesmo tempo tão misteriosamente mágico lhe aparece de noite, - como ele se defronta com o astral do universo, nas estrelas que reluzem: então ele sente, no relacionamento sagrado do universo ao redor com aquilo que está no plano terrestre, como ele, com o carne de sua individualidade, as encontra agora dentro do espacial. E ele pode contemplar então o mistério de Natal, o menino que nasceu, o representante da humanidade na terra, deslocado para este mundo espacial para nele nascer, iniciando sua infância. E ele diz, quando se apercebe da idéia de Natal em sua plenitude e nesta sua grandiosidade, ao contemplar o menino nascido no Natal: EX DEO NASCIMUR. Do divino nasci, do divino que traspassa e permeia o espaço.
 
Mas então, depois de sentir isto, tendo se compenetrado disto, ele consegue lembrar-se daquilo que, através da Antroposofia, se lhe havia revelado como verdade sobre o sentido da terra. Este menino, para o qual olhamos, é o invólucro externo daquilo que, neste momento, está nascendo no espaço. E de onde ele provém para nascer no espaço? Isto, conforme as nossas explanações de hoje, só pode ser o tempo. É do tempo que ele nasce.
E se acompanharmos, em seguida, a vida deste menino, como ele é compenetrado pelo ser crístico, descobrimos: é do sol que vem este ser, este ser crístico. E erguemos agora o olhar para o sol e dizemos a nos mesmos: ao olhar para o sol, devemos ver nos raios solares o tempo que no espaço permanece oculto. No interior do sol está o tempo. E é deste tempo tecente no interior do sol que o cristo saiu, entrando no espaço, na terra.
E o que represente o Cristo na terra? O Cristo na terra representa aqui que, de fora do espaço, se liga à terra, que provém de fora.
 
Parem agora para pensar como a nossa idéia do universo, em relação á idéia comum real tudo o que acabamos de colocar diante da nossa alma! Temos aí no universo o sol com o tudo que, de início, se nos apresenta juntamente com o sol no universo, no cosmo, o que está contido no azul celeste, no mundo das estrelas. Em algum lugar, também aparece aí a terra com os seres humanos. Mas, ao erguermos o olhar para o sol, olhamos também para o fluxo do tempo.
 
Segue-se daí uma conclusão muito importante. A conclusão de que o homem só olha de forma correta para o sol, quando, olhando para o sol, mesmo que o faça apenas mentalmente, esquece o espaço e só leva em consideração o tempo. Assim encarado, o sol não só irradia a luz, mas também o próprio espaço. E quando olhamos para dentro do sol, olhamos para fora do espaço. O sol se distingue como estrela, porque olhamos para fora do espaço. Mas é deste fora-do-espaço que o Cristo veio aos homens. Quando o cristianismo foi fundado na terra por Cristo, o homem já se encontrava por um tempo demasiadamente longo somente no EX DEO NASCIMUR. Tornara-se afim com ele. Perdera o tempo completamente. Tornara-se um ser totalmente espacial.
 
Temos tanta dificuldade, com a consciência formada pela civilização contemporânea, de compreender as antigas tradições, pois estas, no fundo, sempre levam em conta o tempo e não o espaço, o espaço é considerado apenas um apêndice do tempo.
 
Veio então o Cristo e trouxe novamente o tempo aos homens. E o coração do homem, a alma do homem, o espírito do homem, ao se ligarem a Cristo, reconquistam a corrente do tempo da eternidade a eternidade. Que outra coisa resta a nós seres humanos quando morremos, quer dizer quando deixamos o mundo espacial, senão agarrar-nos aquilo que então nos devolve o tempo, já que a humanidade, na época do Mistério do Gólgota, havia se tornando um ser espacial a tal ponto que perdeu o tempo! O Cristo trouxe novamente o tempo aos homens.
 
E se, ao saírem do espaço, os homens não quiserem extinguir-se também com sua alma, é preciso que morram em cristo. Podemos ser homens espaciais, podemos então dizer: EX DEO NASCIMUR; podemos olhar então para o menino que, saindo do tempo, penetra o espaço, a fim de unir o Cristo aos homens.
 
Não podemos porém pensar no marco final da vida terrena, no morrer, desde o Ministério do Gólgota, se não quisermos pagar com a perda do tempo pela de Cristo, se não quisermos ser banidos para dentro do espaço e ficar no espaço como fantasmas. Aí, temos que morrer em Cristo. Aí, precisamos compenetrar-nos do Mistério do Gólgota. Aí, temos que encontrar e juntar ao EX DEO NASCIMUR o IN CHISTO MORIMUR. Temos que juntar à idéia de Natal a idéia de Páscoa.
 
E assim, o EX DEO NASCIMUR faz surgir diante da nossa alma a idéia de Natal, assim i IN CHRISTO MORIMUR faz surgir diante da nossa alma a idéia de Páscoa.
 
Podemos dizer: na terra, o homem tem seu físico, seu etérico, seu astral. O etérico também se encontra lá fora no cosmo; o astral também se encontra lá fora no cosmo; o físico só existe na terra, não há, lá fora no cosmo, nada físico. Assim, temos que dizer: terra = físico, etérico, astral; cosmo = o físico não existe, mas existe sim o etérico e o astral.
 
O cosmo, entretanto, é trimembrado também. O que ele não tem na parte de baixo, ele o acrescenta na parte de cima. Nele, o etérico é o componente inferior: na terra, o físico é o inferior. Na terra, o astral é o componente superior; no cosmo, o superior é aquilo que o homem, conforme sabemos; só possui hoje de forma rudimentar, aquilo de que um dia estará tecida sua Personalidade Espiritual. Podemos dizer: no cosmo, existe a Espiritualidade universal* como terceiro componente.
 
E as estrelas nos aparecem agora como manifestação de alguma coisa. Eu as comparei ao ato de acariciar; a Espiritualidade universal que está por trás delas, é o ser que nos acaricia. Só que aí, o ser que acaricia não é uma entidade, mas toso o mundo das hierarquias. Quando olho para um homem, para sua estatura, seus olhos, que brilham ao meu encontro, quando ouço sua voz, esta é a manifestação do homem. quando olho para cima para a imensidão do universo, quando olho para as estrelas, são as manifestações das hierarquias, as manifestações das hierarquias despertando sensações em nós. Quando olho para dentro da infinidade do firmamento azul do universo, vejo manifestar-se externamente seu corpo etérico, que, no entanto, é a parte inferior de todo este mundo hierárquico.
 
E temos, então, um vago vislumbre, ao olhar para a amplidão do cosmo, de algo que vai para além do terrestre, assim como a terra com suas substâncias e forças físicas desce para aquém do cósmico. E a terra tem um subcosmico no físico, o cosmo tem um supraterrestre na Espiritualidade universal. (obs do digitador: este trecho estava ilegível e pode conter algum erro)
 
A ciência física fala de um movimento do sol. Ela pode falar assim. Pois, de fato, dentro da imagem espacial que nos circunda como cosmo, certos fenômenos indicam que o sol está em movimento. Esta é, contudo, somente a imagem do movimento solar que aparece no espaço. E quando se fala do verdadeiro sol, é simplesmente sem sentido dizer: o sol se locomove no espaço; pois o espaço é irradiado pelo sol. O sol não só irradia a luz, ele também forma o espaço. E a locomoção do próprio sol é espacial só dentro do espaço, ela é temporal.
 
O fenômeno que se nos apresenta aí, de o sol correr em direção á constelação de Hercules, - é tão somente o reflexo de uma evolução temporal do ser solar.
 
Sim, nos seus discípulos íntimos, Cristo disse: olhai para a vida na terra. Ele tem afinidade com a vida do cosmo. Enquanto para a terra e o cosmo circundante, é o Pai que vive neste universo. Deus Pai é o Deus do espaço. Eu porém tenho a mensagem a vos dar que vim do sol, do tempo – do tempo que só recebe o homem quando este morre. Eu trouxe a mim mesmo a vós, de dentro do tempo. Se me recebeis (disse Cristo), recebeis o tempo e não sereis fadados ao espaço. Mas, para tal, também tereis que encontrar a passagem da trindade – do físico, etérico, astral – para a outra trindade: do etérico, astral, Espiritualidade universal. A Espiritualidade universal tão pouco se encontra no plano terrestre, quanto o físico-terrestre se encontra no cosmo. Eu porém vós trago a mensagem, pois eu sou do sol.
 
Sim, o sol tem um tríplice aspecto. Vivendo dentro do sol e olhando do sol para a terra, o que se vê é o físico, etérico, astral. Ou então, tendo em mira o próprio sol, o que se vê, lembrando-se da terra ou olhando para ela, é sempre o físico. Olhando para o lado oposto, olhamos para a Espiritualidade universal. Faz-se um movimento pendular de vai-e-vem entre o físico e a Espiritualidade universal. Permanece estável, no meio, só o etérico e o astral. Olhando porém para o universo lá fora, o terrestre desaparece totalmente. Está aí o etérico, o astral e a Espiritualidade universal. Esta vista se vos apresentará ao chegarem ao tempo solar entre a morte e um novo nascimento.
 
Imaginemos, pois, o homem encapsulando-se totalmente em seu estado de espírito próprio á vida terrena: ele poderá sentir o divino, pois ele nasceu do divino: EX DEO NASCIMUR.
 
Imaginemo-lo agora não se encapsulando dentro do mundo espacial, mas aceitando Cristo que veio do mundo temporal para o mundo
espacial e trouxe o próprio tempo para dentro do espaço terrestre: desta maneira, o homem, ao morrer, vence a morte. EX DEO NASCIMUR. IN CHRISTO MORIMUR.
 
Cristo, porém, traz a mensagem que, uma vez vencido o espaço e reconhecendo-se o sol como o criador do espaço, quando, através de Cristo, nos sentirmos estando no sol, transferidos para dentro do sol repleto de vida; então o físico-terrestre desaparece, o etérico, o astral está aí. O etérico resplandece, agora não como azul celeste mas como resplandecer róseo-claro do cosmo. E deste esplendor róseo-claro não reluzem as estrelas, as estrelas agora nos tocam com seu amor. E o homem – quando realmente se aprofunda em tudo isto – pode sentir-se como estando na terra, despojando do físico, o etérico perpassando-no e raiando em lilás-róseo; as estrelas não como pontos luminosos, mas sendo radiações de amor, como o acariciar amoroso humano. Mas ao sentir isto, o Divino dentro de si, o fogo Divino universal como essência do homem, ardendo de dentro dele, sentindo-se no universo etérico, vivenciando as manifestações espirituais no raiar astral no universo: isto evoca então no homem a vivência interior do raiar do espírito, que representa a vocação do homem no universo.
 
Aqueles a quem Cristo havia comunicado isto, após terem se compenetrado desta idéias por um tempo suficientemente longo, passaram a sentir então a atuação desta idéia nas labaredas fogosas da festa de Pentecostes. Sentiram então como o morrer ocorre através do cair e escorrer do físico da terra. Sentiram porém: isto não é a morte, em verdade, no lugar do físico da terra abre-se a Espiritualidade do universo: PER SPIRITUM SANCTUM REVIVISCIMUS.
 
Assim, pode-se olhar para esta trimembração da primeira metade do ano: a idéia do Natal = EX DEO NASCIMUR: a idéia da Páscoa = IN CHRISTO MIRIMUR; a idéia de pentecostes = PER SPIRITUM SANCTUM REVIVISCIMUS.
 
E resta a outra metade do ano. Quando a compreendemos as mesma forma, aí também revela-se ao homem o outro lado da vida. Compreendemos aquela relação do físico para com o anímico do homem e para com o suprafísico, que inclui a liberdade da qual o homem participa na terra, compreendamos na correlação do Natal, a Páscoa e Pentecostes o homem livre na terra. E compreendendo-o a partir destas três idéias, da idéia de Natal, da idéia de Páscoa e da idéia de Pentecostes, e servindo-nos esta compreensão de estímulo para tentarmos compreender o restante do ano, apresente-senos então a outra metade da vida humana, à qual aludi dizendo: quando olhamos para o destino do homem – as hierarquias aparecem atrás dele, o trabalho, o tecer das hierarquias. Por isso é tão grandioso olhar da verdade para dentro de um destino humano, porque todas as hierarquias estão atrás dele.
 
Mas é, no fundo, a linguagem das estrelas que ressoa ao nosso encontro da idéia de Natal, Páscoa e Pentecostes: da idéia de Natal, na medida em que a terra é uma estrela no universo, da idéia de Páscoa, na medida em que a estrela mais brilhosa, o sol, nos oferece a graça de suas dádivas, da idéia de Pentecostes, ao luzir para dentro da nossa alma aquilo que está oculto do outro lado das estrelas e que nas labaredas fogosas retorna luminosamente de dentro da alma para fora.
 
O que foi apresentado desta maneira a respeito do pai, portador da idéia de Natal, que no entanto envia o Filho, para que se complete a idéia de Páscoa, e então a respeito deste filho, que por sua vez traz a mensagem do espírito, para que, na idéia de Pentecostes, a vida humana na terra se complete numa trindade, - se os senhores meditarem isto a fundo, se refletirem bem sobre isto: então os Senhores obterão, em adição a todas as bases para a compreensão do carma que já lhes dei, também uma base sensitiva.
 
Tentem uma vez fazer com que a idéia de Natal, Páscoa e Pentecostes, revirada assim como hoje a reviramos, aja em profundidade sobre a emoção humana, sobre o sentimento humano, - tentem isto, aprofundem esta sua sensação, esta sensação que deve continuar vivendo na forma da calorosa, da fogosa idéia de Pentecostes, tragam-se consigo, - e então, quando, após a minha viagem que sou obrigado a empreender, justamente na época de pentecostes, por causa do curso de agricultura, nos reunirmos novamente, poderemos continuar a falar sobre o carma.
 
E sua compreensão será frutificada de modo significante por aquilo que a idéia de pentecostes representa. Assim como, outrora, ao ser instituída a festa de Pentecostes, na primeira celebração da festa de Pentecoste, luziu algo de dentro de cada apóstolo, assim, no fundo, a idéia de Pentecostes deveria reviver também para a compreensão antroposófica.
 
Algo deveria começar a luzir de dentro de suas almas. Por isso, lhes dei para levarem consigo como sentimento pentecostal para a continuação dos pensamentos sobre o carma que são a outra metade do ano, aquilo que hoje tenho a dizer a respeito da correlação da idéia de natal, de Páscoa e de Pentecostes.

*em alemão: Geistselbstigkeit