Textos Diversos

João Batista, portal entre o mundo físico e espiritual

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 Todos os anos, nesta época, quando me coloco a refletir sobre João Batista sou tocado por um forte sentimento de devoção. A vida de João é uma grandeza tão imensa, de uma dimensão indescritível, só menor do que os acontecimentos que ele anuncia.

A imagem que surge é a de que João representa o portal por onde Cristo penetrou no ambiente histórico universal, dentro da esfera humana. Imagine-se um portal que une o mundo físico ao espiritual, o mundo dos homens ao divino.

A tarefa de João era preparar a terra e os homens para a vinda do Cristo. João viveu única e exclusivamente em função desta tarefa até as últimas conseqüências. João era um homem em que a encarnação no físico era plena, com total domínio da sua corporalidade. João viveu no mesmo ambiente e percorreu a mesma região que o cristo percorreria em sua peregrinação. João cultivava uma intima relação com o espaço físico e etérico daquela região e, principalmente, João batizava. O batismo que realizava conduzia a que o batizado pudesse ter uma visão do que estava por vir, isto tinha o objetivo de preparar um grupo de almas, tal como os doze apóstolos que comporiam o círculo mais íntimo em torno do cristo. Então podemos dizer que João preparou o ambiente físico, etérico e anímico, onde o Cristo atuaria. João era o portal por onde o Cristo penetraria na Terra. O portal físico, etérico e astral que purificaria o espaço para o mais supremo espírito se revelar.

João viveu exclusivamente em torno da sua tarefa, transbordando em humildade e coragem. João atuou como um ser livre e por isso perturba aos que não compreendiam que um novo tempo estava por vir.

Quando João batizava, ele dizia: ”eu batizo com água, mas Aquele que virá depois de mim batizará com o fogo do espírito, pois Ele é maior do que eu. Ele já vivia antes de mim e viverá depois de mim.”. Esta declaração dá a indicação da íntima relação que existe entre a individualidade de João e a manifestação do Cristo que ele anunciava.

Somente João viu o espírito divino aproximar-se sob a forma de uma pomba branca.

Mesmo tendo vivido entre os essênios,João respeitava os essênios pela sua espiritualidade, porém não se tornou um deles. João era livre, viveu pela sua missão e por isso foi decapitado.

   Ainda no livro com o ciclo denominado “Quinto Evangelho” R. Steiner relata os encontros que Jesus de Nazaré teve com João no período em que ambos transitavam entre os essênios. Num desses encontros Jesus viu Elias, o grande profeta representante do espírito do povo hebreu, em João. João era, realmente, o Elias reencarnado.

Grandes mistérios residem nesta personalidade. R. Steiner em diversas vezes apontou para isto e indicou que aí vivia uma personalidade de dimensão que abrangia em espírito toda a humanidade. Já doente em 1924, Steiner reuniu forças para se colocar de pé e pronunciar, aquela que foi talvez a sua mais curta palestra,foi a última alocução. Nessa palestra R. Steiner percorre uma parte do caminho de João nos mundos espirituais e surpreende quando faz a ligação entre Elias-João-Lázaro. R. Steiner mostra que aquela personalidade que preparou o caminho terreno de Cristo Jesus, continuou presente em João Evangelista, o discípulo amado. Sabemos ainda que João continuou entre ao apóstolos, formamos amado. Sabemos ainda que João continuou presente entre os apóstolos, formando a mais sagrada comunidade que atuou na Terra.

Quando os apóstolos perguntaram ao Cristo sobre Elias ele respondeu que Elias já havia vindo e fizeram tudo com ele. “Então João era Elias?”, perguntam os apóstolos. E Cristo responder: “não há entre os nascidos de mulher neste mundo ninguém que seja maior do que ele”.

Para conhecermos algo sobre Elias precisamos recorrer ao livro de Reis no Velho Testamento. Descobrimos que Elias era o grande sacerdote de Jeová que sozinho lutou para preservar a fé de seu povo no Deus único. Elias era como um espírito de povo.

Já nos evangelhos, somente após a morte de João Batista faz-se alusão ao milagre da multiplicação dos pães. Após sua morte João passa a ser, como Elias à sua época, o espírito que permeava os apóstolos em torno do Cristo, o espírito de João se multiplicava como espírito do grupo. Assim como somente após o milagre da ressurreição de Lázaro os evangelhos falam da existência de um apóstolo João, que passa a ser um dos doze após a separação de Judas.

Em lázaro ocorre algo ainda mais sutil. Quando Cristo é chamado à casa da família de Betânia onde já há três dias jazia o corpo de Lázaro, Cristo se postou à porta do local onde estava lazaro e disse:”Lazaro levanta-te e sai”. A ressurreição de lázaro foi feito que levou à condenação de Cristo. Cristo tornou público o mistério da iniciação. Revelar segredos dos Mistérios era um ato que se pagava com a morte. Cristo sabia inteiramente disto. As escrituras tinham que ser cumpridas.

Então podemos entender que João Batista representou o portal de encarnação do Cristo através do Mistério do batismo e em Lázaro o portal de excarnação, através do Mistério do Gólgota.

Uma luz para esclarecer o mistério Elias-Lázaro-João podemos encontrar nas obras “O cristianismo como fato místico” e no ciclo o “Evangelho de João”, no final da sétima conferência deste ultimo livro encontramos: “Qual a razão de que até o momento da ressurreição de Lazaro, não havia nos evangelhos qualquer alusão ao discípulo “João”?

É o fato de que, aquele que está por trás do ‘discípulo amado’ ser o mesmo que o Senhor já amava antes... A individualidade de Lázaro foi tão transformada pela iniciação conduzida pelas mãos do próprio Cristo Jesus. É como se Lázaro tivesse transformado e recebido em sua alma e individualidade de João, porém no sentido do mais elevado cristianismo. Assim, vemos realizar-se em Lázaro, no mais alto sentido, um batismo segundo o novo impulso crístico.

Como disse no início deste pequeno texto, todos esses fatos têm o caráter do mais sagrado ineditismo, são como portas do mundo espiritual que se abriram para impulsionar a humanidade para o futuro, desde sempre.

 

 (Texto publicado no Boletim da Sociedade Antroposófica no Brasil - Boletim 38, junho/2005) 

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