Textos Diversos

As Festas Juninas (Christa Glass)

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As festas juninas têm um papel preponderante no folclore brasileiro. Estão ligadas a elas tradições e uma ampla execução de crendices e simpatias. Em nossa Escola, damos ênfase à festa em homenagem a São João Batista pelo papel importante que lhe coube na concretização do impulso crístico na Terra.
São João é mencionado no Novo Testamento pelos quatro Evangelistas. Lá nos é relatado que João foi anunciado a seu pai Zacarias pelo mesmo arcanjo, Gabriel, que também anunciou à Maria o nascimento de Jesus. O sacerdote Zacarias preparava o altar quando lhe apareceu Gabriel anunciando que ele e sua mulher Isabel iriam ter um filho ao qual deveriam dar o nome de João. Zacarias mostrou-se admirado e incrédulo, pois ele e Isabel já tinham uma idade muito avançada e Isabel era tida como estéril. Por sua incredulidade Zacarias foi castigado com mudez que só se desfez quando seu filho foi circuncizado e recebeu o nome de João, e não o seu próprio, Zacarias, como era o costume daquela época. Outro fato peculiar e significativo nos é relatado: quando Maria, grávida de Jesus, foi visitar Isabel que se encontrava no sexto mês de gravidez, a criança de Isabel deu um pulo em seu ventre no momento em que Maria a saudava.
João tornou-se um grande profeta que vivia como eremita no deserto onde recebeu a revelação da vinda do Messias e a incumbência de ensinar e batizar os homens para estarem preparados a reconhecer o Cristo. Muitos de seus seguidores o consideravam o próprio Cristo, o que sempre negava dizendo ser ele apenas aquele que preparava o caminho para o Cristo. Ele também era comparado com o grande profeta Elias. No evangelho de Lucas, suas palavras são as seguintes: “Eu batizo com água, mas já está entre vós aquele que não conheceis que virá depois de mim, mas já era antes de mim. Ele irá batizar-vos com o Espírito Santo e o fogo. Não sou digno de desatar a correia de seu sapato.”
João reconheceu Jesus Cristo quando viu os sinais profetizados, quando o céu se abriu e desceu uma pomba que pairou sobre a cabeça de Jesus.
Depois do batismo de Jesus, os seguidores de João passaram a seguir Jesus Cristo. A morte de João foi trágica. Por desejo de Salomé, que foi induzida por sua mãe a fazer este pedido, João foi decapitado.
Rudolf Steiner pôde, através de suas pesquisas espirituais, ampliar bastante a compreensão dos evangelhos. Sobre João Batista ele fala que, de fato, era um grande profeta, comparável com Elias, que era portador de toda a sabedoria espiritual conquistada na era pré-cristã: o reconhecimento e profecia da vinda do Messias. Concentrava-se em João toda a sabedoria iniciática pré-cristã que teria de passar por transformações a partir da vinda e encarnação do Cristo. Foi no batismo de Jesus que o espírito divino, o Cristo, uniu-se ao homem Jesus, e fez-se ouvir a voz do Pai: “Este é meu filho amado, nele quero me revelar.”
Como cristãos podemos nos sentir chamados, por ocasião da festa de São João, a refletir sobre o quanto de “pré-cristão” ainda existe em nós, e que deve ser superado para podermos nos abrir ao impulso crístico. Deveríamos jogar todas estas coisas como as crendices, o egoísmo, o egocentrismo, etc., na fogueira e guardar em nossos corações o calor do qual pode nascer o amor universal, o altruísmo, a fraternidade. Destas reflexões vamos descobrir uma infinidade de fatos, leis e costumes da sociedade que pertencem ao passado. Temos um exemplo ocorrido na Argentina, onde um homem O responsável pela tortura e morte de muitos seres humanos foi considerado inocente pela lei porque apenas estava cumprindo ordens. Ele não é responsável por seus atos? Será que ele iria executar as ordens dos superiores com a mesma segurança e lealdade se o mandassem se deixar torturar em praça pública para dar exemplo ao povo? Jesus Cristo indicou uma nova ordem social que apela para a consciência e responsabilidade individual em função do todo. Enquanto isso não acontecer, o problema social universal não será sanado.
... São João, São João acende a fogueira do meu coração!
 
 
(Texto extraído da Revista Nós, Época de São João 2004, da Escola Waldorf Rudolf Steiner, em São Paulo) 
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