Histórias

O Coelhinho Jovem (Jacob Streit)

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Apenas sobrou para a mãe um filhote dos três coelhinhos. O mais velho, a gralha levou; o segundo afastou-se e uma raposa mordeu-o e dilacerou-o. Restou-lhe o mais jovem e menor. Este nunca poderia se afastar do lado da mãe, pois ela não o queria perder também. A mãe dormia com ele no colo e o cobria com mantas. Quando ela comia graminha, estava ele a sua volta. Era meio arisco; assustava-se no riacho da mata quando lhe pingava uma gota d’água no nariz. Ainda não bebia água nem comia grama: mamava o leite materno da coelha, quando estava com sede e sentia fome. Seu ninho era numa moita no mato, bem escondido. A mãe havia ciscado uma depressão na terra e levado folhas e musgos, e de seu próprio pêlo arrancava pêlinhos para estofar o ninho. Quando saia do esconderijo sozinho, cobria o filhote cuidadosamente e lhe dizia:

-“Não me saias do ninho! Quando se aproximar um animal finjas que estás morto”.

Um dia, quando a mãe saiu, o coelhinho dormiu por algum tempo, mas quando acordou, sentiu tédio. Escapou do ninho, deu alguns pulinhos e promoveu-se cada vez mais. Pensou:

-“Ainda vai demorar muito para mamãe voltar. Eu, hoje, darei também um passeio”. Alegremente pulou da moita e foi pulando pelos musgos entre os pinheiros. De repente, parou, pois diante de seus pés se movimentava uma lesma marrom. Com seus chifrezinhos estendidos tateava o caminho. O coelhinho esticou o pescoço para ver melhor e nisso seus pêlos compridos da boca, nela tocaram que rapidamente recolheu suas antenas. O coelhinho deu risada:

-“ Oh, arrastador medroso, que te deixas assustar com um pêlinho macio”!

Abandonou a lesma e pulou adiante. Ao pular por cima de uma raiz de árvore percebeu duas formigas no mato, que se esforçavam para arrastar um besouro morto em direção a um monte de terra cravejado de formigas. Naturalmente o coelhinho ficou olhando para aquela confusão. Não percebeu que se havia sentado em cima de algumas formigas passeadeiras e não tardou muito para que elas penetrassem em seus pêlos. Umas subiam pelas costas e outras já chegavam até as orelhas. Enquanto elas só fuçavam seu pêlo, o coelhinho nada percebeu, mas de repente, se assustou com as fortes mordidas em suas orelhas grandes. Passou a patinha para se defender, mas logo outras aproveitaram para mordê-lo em outras partes do corpo e o coelhinho sentiu, então, um forte ardume se espalhar pelo corpo todo. Com pulos bem fortes o coelhinho pulou pelos ares e rodopiou. Mas os mordedores estavam presos em seus pêlos. Tonto de tanta dor saiu, correndo pela floresta a fora. Sem fôlego parava de vez em quando para se coçar e abocanhar as formigas em seus pêlos. Assim, aos poucos foi se libertando dos terríveis mordedores. Mas, para onde havia corrido? Árvores desconhecidas estavam em sua volta. Andou para lá e para cá, mas nada conhecia; não encontrava o caminho de volta ao ninho. Andava sem parar. Já escurecia. Gotas d’água caiam de cima. De repente, ribombou por cima das árvores. Um clarão flamejou. O pavor do coelhinho cresceu quando percebeu que os pássaros procuravam seus ninhos, cheios de medo. Começou a tremer e pensou:

-“Que monstro horrível será este que ruge tão alto?”

Sobre a floresta descia um temporal. O coelhinho enfiou-se numa gruta que se abria por baixo de uma raiz muito antiga. Seu coração palpitava que parecia arrebentar.
Assim parado, viu a sua frente deslizar calmamente uma lesma que não tomava conhecimento da chuva nem dos trovões. Quando o coelhinho a avistou, perguntou bem baixinho:

-“Lesma, diga-me, que fantasma negro é este que ruge tão horrivelmente e lança fogo”?

A lesma respondeu:
-“É o pai relâmpago e trovão, e o menino travesso, o vento. Este sacode as árvores e arbustos para crescerem mais rapidamente. A mãe nuvem despeja sua chuva sobre as raízes secas. O pai relâmpago manda o fogo forte para a Terra, para mantê-la viva e fresca”.

Mal a lesma transmitiu sua sabedoria ao coelho, um relâmpago atingiu uma árvore próxima. O coelhinho deu um salto para fora da gruta e ficou deitado como morto; a chuva que agora atravessava por todas as folhas, agora encharcou seu pêlo de tal modo que não sobrou um fio seco sequer. A lesma não mexeu seu galinho, pois deslizava mais facilmente em raiz molhada e isto a alegrava. Finalmente passou a tempestade. A chuva cessou e os trovões desapareceram. Antes da primeira chuva cair, a mãe coelha voltou ao ninho e o encontrou vazio. Procurou em vão, mas não conseguiu encontrar seu filhote. Tomada pelo medo, começou a cheirar o chão e percebeu que seu filhote fugira de casa. Seguiu então em zigue-zague pela floresta apesar da tempestade. Finalmente chegou a gruta da raiz onde seu filhote havia estado, mas ele não estava mais ali. Mas, aquele ali adiante, perto das pedras, não era o seu filhote? Pulou até lá e viu que ele estava deitado, como morto, de medo. Lambeu carinhosamente a cabecinha e as orelhas do coelhinho. Este abriu bem seus olhinhos e disse:

-“Mãe, estás aqui?”, e com um salto, pulou para o colo da mãe.

A mãe não o repreendeu. Lambeu seu pêlo encharcado e amamentou-o. Só então conduziu o filhote de volta ao ninho através da noite escura. No ninho, que estava molhado, os dois se acomodaram bem juntinhos e antes de adormecer, o coelhinho disse:

-“Mãe, lesmas são gozadas. Não tem medo de trovão nem do relâmpago, mas tem medo do pêlo do coelho”!