Versos

Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo (Dom Marcos Barbosa)

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I
Pilatos lava as mãos. O deicida.
Para que o mundo inteiro seja salvo,
Condena à morte um deus, autor da vida.

II
Jesus vai caminhando entre os escombros.
E o que sustenta os céus dobra-se agora,
Pois nossa cruz lhe é posta sobre os ombros.

III
Mal sai a caminhar, tropeça e cai.
Mas logo se levanta o Filho Pródigo:
Na casa iluminada o espera o Pai.

IV
Sua Mãe, ao encontrá-lo, abre-lhe os braços
Sem poder abraçá-lo. Pode apenas
Ir seguindo, um a um, seus rubros passos.

V
Alguém o ajuda forçado. É o Cirineu.
Nós, ao vê-lo passar, desconversamos,
Hipócritas que somos, tu e eu.

VI
No entanto, mesmo assim a contragosto,
Como no lenço aberto da Verônica,
Em nosso coração imprime o rosto.


VII
No seu amor por nós já não põe cobro:
Mais uma vez caído, se levanta;
por quem pede uma légua, faz o dobro.


VIII
“Desde Jerusalém me acompanhais!”
Diz ele: “Ó mães, chorai por vossos filhos:
Quem sabe escutarão os vossos ais?”

IX
Para nos dar o alento necessário,
Duas vezes caiu. E cai de novo,
Já agora no cimo do Calvário.


X
Tiram-te, ó Cristo, o manto, a veste e tudo.
Mas teu sangue de púrpura cobriu-te,
Calcado no lagar, Cordeiro mudo.

XI
Como se a não tivesses por amiga,
Pregam-te à tua cruz com duros cravos,
Ó grão de trigo erguido em alta espiga.

XII
O Pai abandonou-te, e a fronte inclinas.
Morres, e a terra toda entenebrece.
Mas às trevas dos mortos iluminas.

XIII
És descido da cruz como o Santíssimo,
Que tiram do ostensório após a bênção,
E no colo da Mãe pousas puríssimo.

XIV
Mas, no túmulo posto, não descansas.
Pois, ao terceiro dia, ergues-te vivo,
E por nós, para o Pai, fúlgido avanças.

 

 


 

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