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Textos Rudolf Steiner

A Imaginação de Natal

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Dornach, 6 de outubro de 1923


Em verdade, a arte não pode ser senão a reprodução do que o homem sente em conexão com o universo. Naturalmente, isto será possível em diversos graus, e a partir de diversos pontos de vista; mas só poderá ser uma obra de arte o que realmente evoque na sensação humana a impressão que a alma possa se abrir, a partir da obra de arte, para os mistérios do universo. Hoje queremos continuar acompanhando o curso a partir do mesmo espírito com o qual o abordamos ontem, de modo que pudéssemos culminar na apresentação da imagem com o dragão.

A partir da apresentação efetuada até aqui, nós sabemos que, quando se aproxima o outono, de certo modo acontece uma inspiração da Terra, uma inspiração espiritual da Terra; sabemos que os seres elementais são trazidos para o seio da Terra após terem encontrado seu caminho lá fora no auge do verão, e que então se movimentam de volta quando acontece a festa de Micael, continuando a se movimentar até estarem intimamente entremeados ao seio da Terra do inverno mais profundo.

E a partir disto tudo, temos de nos formar a representação de que a Terra, justamente na época do inverno, é o ser mais intensamente fechado em si; ela acolheu, a partir do universo, tudo que deixara fluir para o exterior durante o verão, especialmente em elemento espiritual. Portanto, durante o inverno profundo a Terra é Terra ao máximo; ela é sua própria entidade. Por isto, para poder adquirir uma base para abordagens subsequentes, devemos encarar justamente a essência da Terra na época ao inverno, naturalmente sem esquecer que se para uma metade da Terra é inverno, para a outra metade é verão, e assim por diante. Este fato devemos sempre ter em mente. Mas agora colocamos perante nós uma parte da Terra onde se aproxima a época do inverno profundo. A Terra desenvolve aquilo que é seu próprio ser no sentido mais profundo, aquilo que a torna bem Terra.

Vejamos esta Terra. Ela é o firme núcleo terrestre que para o exterior mostra apenas sua superfície; mas este sólido núcleo terrestre está em grande parte coberto pela hidrosfera, pela massa aquosa da Terra. Os continentes de certo modo apenas estão nadando nesta massa aquosa. Nós até podemos imaginar esta massa aquosa continuando da esfera de ar, pois a atmosfera sempre está preenchida de elemento aquoso, multo mais sutil que a água dos mares e dos rios; mas não existe propriamente um limite firme no aquoso, ao ascendermos do mar à atmosfera. De modo que, ao desenharmos esquematicamente o que é a Terra nesta relação, devemos desenhá-la assim: no meio temos o sólido núcleo terrestre (verde). Em torno deste núcleo terrestre temos o âmbito aquoso (vide desenho, azul). Naturalmente, preciso desenhar os continentes, como eles sobressaem, etc. Tudo está desenhado esquematicamente, pois as saliências não podem dar impressão diferente das saliências de uma laranja, por exemplo. Em torno disto tenho de deixar o que desenhei como hidrosfera, como a massa aquosa no círculo de ar. Olhemos para esta imagem (azul) e indaguemos: o que é isto?

Esta imagem não é formada novamente a partir de si, mas é uma água em todo o cosmo. Esta imagem teria a forma que nos mostra a partir de todo o cosmo. E só porque o cosmo em verdade é uma esfera para todos os lados, é que aquilo que vai para cima como água, como massa aérea, limita-se redonda, em forma de esfera.
Mas isto exerce intensas forças sobre toda a Terra. De tal forma que se fôssemos olhar para a Terra a partir de qualquer planeta estranho, ela nos pareceria uma grande gota d’água no universo, na qual haveria todo tipo de saliência - os continentes - que se comportariam com outra nuance, mas pareceria uma grande gota d’água no Universo.

Falemos cósmicamente acerca de toda a situação de fatos. O que é em verdade essa gota que anda no universo como uma gota d’água? É algo que recebe a forma de gota através de todas as conexões cósmicas.

Aprofundando-se científico-espiritualmente no assunto, ao se penetrar na imaginação e inspiração, recebe-se a experiência do que esta gota é. Vejam, uma gota nada mais é que uma gigantesca gota de mercúrio; em verdade uma gigantesca gota de mercúrio, só que a substância do mercúrio aí se encontra extraordinariamente diluída.

O fato destas diluições serem possíveis foi demonstrado de maneira bastante exata pelo trabalho da Dra. L. Kolisko; em nosso instituto biológico em Stuttgart pela primeira vez foi feita a experiência de trazer isto à fundamentação exata *. Foi possível produzir diluições de substâncias na proporção de um para um trilhão, e de fato se conseguiram constatar exatamente as atuações de cada substância nestas diluições.

* L. Kolisko: Demonstração fisiológica de atuação das menores entidades nos sete metais. Atuação da luz no crescimento vegetal. Trabalhos experimentais do Instituto Biológico no Goetheanum (“Physiologischer Nachweis der Wirksamkeit Kleinster Entitäten”, não traduzido para o português.”)

Portanto, aquilo que na Homeopatia até hoje apenas podia ser mera crença acerca das atuações de cada substância foi elevado à categoria de uma ciência exata. Segundo as curvas executadas não pode haver dúvida de que os efeitos das partículas decorrem ritmicamente. Bem, não quero me aprofundar em detalhes, o trabalho foi publicado e os testes podem ser realizados em toda parte.

Com um recipiente retiramos água do rio ou da fonte, utilizamos esta água. Bem, é água, mas não existe água que seja apenas hidrogênio e oxigênio. Não faz sentido acreditar que exista água constituída apenas de hidrogênio e oxigênio. Em águas minerais ou outras é bem evidente que elas contenham outros componentes. Água composta apenas de hidrogênio e oxigênio não existe, é apenas uma forma aproximada. Toda água que exista em qualquer região está permeada de outros componentes. Água são apenas as pequenas quantidades para nós.

Para o universo esta água não é água, mas mercúrio.

De modo que podemos dizer: a hidrosfera, enquanto aquosa, é uma gota de mercúrio no universo. A esta gota de mercúrio estão agregadas as substâncias metálicas e tudo que é terrestre. Representam aquilo que é a massa sólida da Terra; têm a tendência de adotar suas formas próprias especiais. Assim, ao olharmos a formação, temos de olhar a forma esférica geral, que é a forma de mercúrio; o mercúrio metálico é apenas o símbolo feito pela natureza daquilo que o mercúrio faz; resulta de modo bem determinado a forma esférica. E a ela está incorporado aquilo que se dá formas próprias das maneiras mais diferenciadas: as formas metálicas de cristalização. De modo que podemos afirmar: temos perante nós esta formação  - Terra, água, ar - e ela tem a tendência formativa que lhes falei: formas cristalinas diferenciadas individuais no interior, e no todo o anseio de se tornar esférica.

Mesmo com o ar (vermelho escuro) que envolve a Terra como atmosfera, nunca podemos falar de um mero ar, mas este ar tem sempre a tendência de conter calor de qualquer maneira, em qualquer grau. É permeado de calor (violeta). Portanto, nós também temos de ter junto o quarto elemento: o calor, que se incorpora ao ar.

Bem, este calor que vem até o ar a partir de cima é sobretudo aquilo que de certa forma traz em si, a partir do universo, é o intermediário que traz para o interior o processo de enxofre, do súlfur. Ao processo do súlfur se acrescenta o processo mercurial, como lhes apresentei para a água-ar. Ar-calor = processo de súlfur; água-ar = processo mercurial (vide desenho).

Agora, aproximemo-nos mais da Terra, do interior da Terra; com aquilo que a Terra propriamente quer ser, está ligado o processo de formação de ácidos - e como dos ácidos vêm os sais — a formação do sal. Desta forma, ao olharmos para cima, para o universo, temos de olhar o processo de sulfurização. Ao olharmos esta tendência da Terra de se formar em gota cósmica, estamos olhando para dentro do processo mercurial. Ao dirigirmos o olhar para baixo, para o solo terrestre, que na primavera nos envia para cima toda vida crescente, brotante, borbulhante, olhamos o processo do sal.

Este processo do sal também é o mais importante para a vida brotante, borbulhante, pois as raízes das plantas, ao se formarem as sementes, estão totalmente ligadas, em seu crescimento, à relação em que se encontram com as formações salinas no solo terrestre. O teor salino do solo terrestre em sentido amplo, as formações de depósito dentro do solo terrestre, são o que permeia as raízes com uma substância que faz da raiz propriamente uma raiz, isto é, a base terrestre do vegetal.

Portanto, ao chegarmos à Terra, temos o processo salino. É isto que faz a Terra a partir de si na época do inverno profundo; já, por exemplo, no verão é muito misturado o que acontece na Terra. Processos de sulfurização estremecem o ar, no raio e no trovão também vive um processo de sulfurização; este chega até bem embaixo, e é por isto que o que acompanha o curso do ano também se sulfuriza. E na época micaélica recebemos o processo em que o ferro reprime esse processo de sulfurização, como expliquei ontem. E então durante o verão o processo de sal novamente está misturado dentro da atmosfera; pois as plantas, ao se desenvolverem, crescerem, levam para cima os sais através de suas folhas, flores, até as sementes. Os sais naturalmente são encontrados nas mais diversas partes; eles então se eternizam, são depositados em óleos etéricos, etc., aproximam-se do processo de sulfurização. Os sais são levados para cima pelas plantas. Sua essência flui para o exterior, torna-se a essência da atmosfera.

De modo que na época do auge do verão temos uma mistura do mercurial, que sempre está na Terra, com o sulfúreo e o salino. Ao estarmos em pé sobre a Terra no auge do verão, nossa cabeça propriamente mergulha em uma mistura de súlfur, mercúrio e sal; já a chegada da época do inverno profundo significa que cada um destes princípios, sal, mercúrio, enxofre, adota sua própria constituição interna: os sais se recolhem para o interior da Terra; na hidrosfera, no aquoso, penetra o anseio de se alisar em forma esférica, de produzir na cobertura arredondada de neve um sinal exterior para a esfericidade do aquoso. O processo de enxofre se retrai, de forma que nessa época não existe muita necessidade de encarar o processo de enxofre como algo especial. Em lugar do processo de enxofre surge algo diverso nesta época do inverno profundo.

De modo que, ao contemplarmos a Terra no inverno profundo, temos a tendência interior da formação de sal; além disto, temos o processo de formação de mercúrio em sua forma mais clara e definida; e se no verão temos de considerar no cosmo extraterrestre a sulfurização, agora no inverno temos a formação de cinzas.

Formação de sal
Formação de mercúrio
Formação de cinzas

Vejam, isto que de certo modo alcança o ponto mais alto na época do Natal, começa a se preparar a partir da época micaélica. A Terra cada vez mais se consolida a ser um corpo cósmico na época do inverno profundo, a se desenvolver em formação mercurial, formação de sal, formação de cinzas. O que significa isto para o universo?

Bem, meus queridos amigos, se uma pulga se tornasse, digamos, um anatomista, e fosse pesquisar um osso, ela teria à sua frente uma parte óssea extraordinariamente pequena, pois ela mesma é pequena e pesquisaria o osso a partir de sua perspectiva. Então a pulga iria constatar que se tem sal de ácido fosfórico em estado amorfo, ácido carbônico, calcário, etc. Mas se fosse pesquisar o pequeno, permaneceria presa a este pequeno. Mesmo se o homem, sendo geólogo ou mineralogista, pudesse pular como uma grande pulga da terra, isto de nada adiantaria, faria o mesmo que faz em pequeno ao pesquisar a massa de montanha da Terra, que apresenta em sua totalidade um sistema ósseo. A pulga não iria descrever o sistema ósseo, mas iria extrair um pedacinho com o seu martelo. Digamos que com seu pequeno martelo de pulga extraísse um pedacinho de clavícula: nada neste pequeno pedacinho de ácido carbônico, calcário, fosfato de cálcio, etc. iria lhe desvendar que tudo é uma clavícula de ombro, muito menos que pertence a todo o sistema da formação óssea. Teria apenas extraído um pequeno pedacinho com seu pequeno martelo e o descreveria segundo seu ponto de vista de pulga; da mesma forma como o homem descreve a Terra se extrai, por exemplo, um pedacinho de calcário jurássico da montanha de Dornach. Não e assim? Ele então descreve este pedaço e ele é elaborado na mineralogia, na geologia, etc. Permanece - um pouco ampliado - mas permanece este ponto de vista de pulga.

Assim é claro que não se chega à verdade, as coisas não podem ser feitas assim, mas se trata de chegar realmente ao fato da Terra ser uma formação unitária e de estar consolidada ao máximo na época do inverno profundo em sua estruturação de cinzas.

E o que isso significa para todo o ser terrestre, tomando-se o ponto de vista cósmico, não a da pulga? Bem, vejam, tudo que em sentido amplo é formação salina, no sentido de se depositar fisicamente, como por exemplo, o sal de cozinha pode se depositar no pequeno recipiente de água, tudo que é formação de sal em sentido mais amplo (não quero entrar na química, mas esta também daria o mesmo resultado) tem a propriedade de ser de certo modo permeável para o espiritual. Onde há sal, o espiritual tem espaço livre; o espiritual pode penetrar onde há sal. De modo que, pelo fato da Terra se consolidar no inverno profundo em relação a sua formação de sal, os seres elementais que se unem à Terra podem estar confortáveis dentro da Terra; mas também outro elemento espiritual é atraído e pode de certo modo habitar na crosta salina imediatamente abaixo da superfície da Terra. E nesta crosta salina imediatamente abaixo da superfície da Terra são especialmente ativas as forças lunares, e resto das forças lunares das quais lhes tenho falado freqüentemente, as forças lunares que restaram quando a Lua saiu da Terra.

Estas forças lunares se tornam principalmente ativas na Terra pelo fato da Terra abrigar o sal em si. Imediatamente abaixo da superfície da Terra, justamente no consolidante, sob a cobertura de neve, que de um lado tende ao mercurial, mas para baixo continua para o salino - aí temos matéria terrestre -  sal permeado de espiritualidade. A Terra na época do inverno realmente se torna espiritual em si através de seu teor em sal que ai se consolida em especial.

A água, isto é, em verdade o mercúrio cósmico, adota a tendência interior de se formar esfericamente, E então em toda parte aparece esta tendência interna a se formar esfericamente. E pelo fato disto acontecer, na época do inverno profundo a Terra está capacitada a não só endurecer no sal e permear este sal endurecido com espírito, mas ela está capacitada a vivificar este material espiritualizado. A Terra desabrocha como um todo na superfície na época do inverno profundo. No princípio salino e espiritual está ativa a tendência a se tornar vivo. Durante o inverno existe um enorme fortalecimento da Terra sob sua superfície para desenvolver vida.

Mas esta vida se tornaria uma vida lunar; pois são principalmente as forças lunares, como eu disse, que estão ativas ai dentro. Tornar-se-ia uma vida lunar. Mas pelo fato da cinza ter caído da semente, de modo que tudo esteja impregnado com a cinza, como descrevi por este fato tudo se encontra numa totalidade com a Terra.

A planta ascendeu ao processo de sulfurização; deste processo de sulfurizaçao caiu à cinza. Isto é o que reconduz a planta à Terra, após ela ter ansiado a ascender ao etérico-espiritual. Assim, na época do inverno profundo tem-se na superfície da Terra a tendência a acolher espírito em si, vivificar-se mas também a transformar o lunar em terrestre. A Lua é forçada pelos restos terrestres de cinza do que caiu a desenvolver o vivo de modo terrestre, não lunar.

Bem, agora passemos do que foi mostrado em relação à superfície da Terra ao que está em torno da Terra, ao aéreo.

Em toda estação do ano, mas em especial para o inverno; é muito significativo para o ar o fato de o sol irradiá-lo com seu calor, com sua luz (mas a luz nos interessa pouco agora nesta abordagem). Vejam, na ciência tudo é observado em separado, como não é em verdade. Ar-assim dizem as pessoas - é oxigênio e hidrogênio e outras coisas. Mas em realidade não é assim; ar não é apenas oxigênio e hidrogênio, mas o ar está sempre irradiado pelo sol. Isto é realidade: ar é sempre o que carrega as atuações solares de dia. O que significa que a atuação solar é carregada pelo ar? Significa que continuamente quer escapar da Terra o que está lá em cima. Se o que descrevi a partir da formação salina, formação mercurial e formação de cinza crescesse e se desenvolvesse por si, existiria apenas o terrestre. Mas pelo fato de lá em cima estar o que quer sair da Terra e ser recebido pela atuação aérea solar, é transformado em formação cósmica o que quer ser atuação terrestre. É retirada da Terra a força de atuar sozinha no vivo-espiritual. O sol faz valer sua atuação em tudo que brota.

Então se observa que, visto espiritualmente, sobre certo trecho da Terra continuamente existe uma tendência bem especial. Sobre a Terra tudo quer se tornar esférico (vermelho). É novamente forçado, novamente se torna esfera; mas em verdade, aquilo que está em cima, sempre quer se tornar plano (vermelho). Em verdade, aquilo que está em cima gostaria de se expandir, desagregar a Terra embaixo, de modo que tudo fosse uma superfície plana no cosmo.

Se isto pudesse vir a acontecer, as atuações terrestres cessariam completamente, e teríamos lá em cima uma espécie de ar no qual atuariam as estrelas. Isto, por exemplo, se expressa muito intensamente no homem. O que recebemos como seres humanos do ar portador de sol que está em cima? Nós o inspiramos; e ao ser inspirada, a atuação solar se estende de certa maneira para baixo, mas principalmente para cima. Com nossa cabeça nós continuamente somos retirados das atuações terrestres. Por isto é que nossa cabeça se coloca na possibilidade de participar de todo o cosmo. Nossa cabeça sempre gostaria de sair para esta formação de planos.

 

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Se nossa cabeça apenas fosse solicitada pela formação terrestre na época do inverno, toda nossa vivência de pensamento seria diferente. Ter-se-ia o sentimento que todos os pensamentos desejariam se tornar redondos. Eles não ficam redondos, têm uma certa leveza, ,maleabilidade, uma certa fluidez. Isto provém desta particular aparição da atuação solar.

Ai vocês têm a segunda tendência, onde o solar intervém no terrestre. É mais fraco no inverno. Se fôssemos ainda tais para fora, ainda se tornaria diferente. Aí no teríamos mais a ver com a atuação solar, mas apenas com a atuação das estrelas, que também têm por sua vez uma grande influencia sobre nossa cabeça, e através disto sobre toda nossa formação humana.

Vejam, isto que lhes descrevi, hoje, não é mais assim, pois o ser humano se emancipou de uma certa maneira das atuações terrestres em seu crescimento, em todo seu desenvolvimento. Mas se voltássemos à antiga época lemúrica, ou à época polar que a precedeu, encontraríamos o assunto bem diferente. Encontraríamos a grande influencia de tudo que acontece na Terra sobre toda a formação humana. Vocês conhecem como apresentei a evolução da Terra em minha “Ciência Oculta”.

Encontraríamos que o ser humano está bem introduzido nas atuações que descrevi. Amanha descreverei como ele se emancipou disto; hoje descreverei o assunto como se o homem ainda estivesse colocado dentro desta formação. E então se nos defronta o seguinte, algo que é bem paradoxo para a situação atual.

Podemos lançar a pergunta: em que se torna a mãe, quando ela se aproxima do desenvolvimento de um novo ser humano? Originalmente, na ligação do ser humano com a Terra é assim: aquelas forças lunares e de formação salina, segundo tudo que tem que acontecer para que um novo ser surja na Terra, preferencialmente  exercem influência sobre o organismo feminino enquanto ele se prepara para formar em si o novo ser humano. Portanto, podemos dizer que quando a mulher é humana em geral, no restante, na época em que ela se aproxima do desenvolvimento de um novo ser humano, as forças lunares, enquanto forças salinificantes na Terra, se fortalecem ao Maximo nela. Científico-espiritualmente isto pode ser expresso da seguinte forma: a mulher se torna Lua - assim como a Terra se torna Lua quando o auge do inverno se aproxima - e de maneira mais intensa imediatamente sob sua superfície.

Não é só que a Terra se torne mais Lua quando Vigora o inverno; esta lunificação da Terra acontece novamente da mesma maneira quando a mulher se prepara para receber o novo ser humano. E somente pelo fato da mulher se preparar, tornando-se lunar, para receber o novo ser humano é que a atuação solar se torna diferente; assim como no inverno a atuação solar é diferente que no verão. E a formação do novo ser humano na mulher se encontra totalmente sob a influência da atuação solar.

Pelo fato da mulher acolher tão fortemente em si as atuações lunares, as atuações salinas, ela se torna capaz de acolher em separado as atuações solares. Na vida comum as atuações solares são acolhidas no organismo humano pelo coração e se distribuem por todo o organismo. No momento em que a mulher se volta para trazer um novo ser humano, as atuações solares se concentram sobre as formações deste novo ser. De modo que podemos dizer esquematicamente: a mulher se torna Lua para poder acolher em si as atuações solares. E o novo ser humano que surge como embrião é totalmente atuação solar neste sentido. Ele é o que pode surgir através da concentração das atuações solares.

 

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Antigas cosmovisões instintiva videntes sabiam disto à sua maneira. Pela Europa antiga ia em certa época uma curiosa visão. Tinha em si que a criança era bem diferente ao nascer e ainda não tinha colhido nada de terrestre na alimentação; e mudava com a primeira gota de leite tomada, com o primeiro alimento terrestre, Para estas antigas visões germânicas, a criança recém-nascida e a criança que já tivesse recebido qualquer alimento terrestre fora do corpo da mãe eram serem bem diversos. Eram dois seres diversos, pois se tinha um sentimento instintivo: a criança nascida é sol; torna-se criatura terrestre com o primeiro alimento terrestre; é criatura solar, torna-se criatura terrestre. Por isto, a criança recém-nascida que ainda nas tivesse se alimentado não pertencia à Terra. Conforme leis ocultas que gostaria de abordar em outra ocasião, o pai tenha o direito, segundo a antiga consciência germânica de justiça, ao olhar a criatura que sempre lhe era colocada aos pés ao nascer, de deixá-la crescer ou de destruí-la, pois ainda não era criatura terrestre. Se já tivesse provado uma gotinha de leite não poderia destruí-la, tinha de permanecer criatura terrestre, pois a isto estava determinada natural, universal, terrestre e cosmicamente. Em tais costumes antigos vive algo enorme e profundamente significativo.

Isto, meus queridos amigos, fundamenta a afirmação de que a criança é solar. De modo que agora se tem a possibilidade de olhar para a mulher que deu à luz a criança como um ser profundamente aparentado em sentido mais profundo com todos os processos do terrestre... pois a própria Terra se prepara no inverno de modo a ter o salino, isto é, o lunar... de modo que ela possa melhor entrar na possibilidade de acolher o solar. E então ela assoma do solar ao celeste, ao qual a cabeça humana também pertence.

De modo que podemos dizer: para colocarmos corretamente o Natal perante nossa alma, coloquemo-nos dentro da essência humana. No Natal se expressa o nascimento da criança Jesus, destinada a acolher em si o Cristo. Encaremos isto corretamente. Encaremos isto na figura de Maria: temos inicialmente a premência de apresentar a cabeça de Maria de modo que ela transmita algo celeste em toda sua expressão, em seu olhar. Então temos a esboçar como Maria se prepara a acolher em si o sol, a criança, o sol; o sol como irradia pela atmosfera. E indo mais para baixo temos na figura da Maria o terrestre lunar.

Reflitam se eu o apresentasse: o terrestre lunar é aquilo que paira sob a superfície da Terra. Ao sair para as amplidões do universo, ver-se-ia o que se apresenta lá em cima, onde o homem irradia para o universo, como uma irradiação estelar da Terra tornada celeste, emanada pela Terra no espaço cósmico. A cabeça de Maria também tem de ser radiante como estrela, isto é, na expressão humana; de modo que, na fisionomia, em todo gesto se tem a expressão do radiante de estrela (vide desenho).

Quanto ao peito, devemos ter o que está ligado ao processo respiratório: o solar que se forma a partir das nuvens - que deixam fluir através de si a irradiação solar na atmosfera - o solar, a criança.

E mais embaixo temos o que é expresso pelo formador salino lunar, expresso externamente ao se colocarem os membros na dinâmica do terrestre e deixá-los ascender sobre o formador salino lunar da Terra. Temos a Terra interiormente permeada de lua, se assim posso falar.

Na verdade, isto deveria ser apresentado como uma espécie de cores do arco-íris. Ao se olhar do universo para a Terra isto se apresentaria como se a Terra fosse vista através da radiação das estrelas; como se a Terra brilhasse para dentro, sob sua superfície, em cores do arco-íris. Sobre isto, solicitado pela dinâmica terrestre, pelos membros da Terra, pela gravidade, etc. Aquilo que só pode ser expresso pela roupagem humana, em dobras conforme as forças da Terra. Assim teríamos lá embaixo a roupagem no sentido das forças terrestres. Subiríamos mais e teríamos de desenhar o que se forma em todo terrestre lunar ainda se poderia desenhar a lua, se quiséssemos ser simbólicos, mais este elemento lunar já está expresso na formação terrestre. Subiríamos mais e teríamos de desenhar o que se forma em todo terrestre lunar. Ainda se poderia desenhar a lua, se quiséssemos ser simbólicos, mas este elemento lunar já está expresso na formação terrestre.

 

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Subiríamos mais, acolhemos o que vem do lunar, vemos como as nuvens são permeadas de muitas cabaças humanas que anseiam para baixo; uma das cabeças humanas está condensada no sol sentado no braço de Maria, na criança Jesus. E para cima temas de completar o todo pela face de Maria expressando o radiação de estrelas na fisionomia.

Se compreendermos o inverno como ele nos apresenta a conexão do cosmo com o homem, como homem que acolhe o que há de forças de nascimento na Terra, não existe outra possibilidade de representar a mulher presenteada com as forças da Terra, para baixo com as forças da Lua, para o meio com as forças do Sol, para a cabeça com as forças das estrelas, até na formação a partir das nuvens. A partir do próprio cosmo nos surge esta imagem de Maria com a criancinha Jesus.

Ao compreendermos o cosmo e tudo que nele temos de forças estruturantes tivemos de colocá-lo necessariamente numa imagem artística de Micael com o dragão, como apresentei ontem; da mesma forma, tudo que podemos sentir em torno da época do Natal aflui a nós na imagem da mãe Maria com a criança, que, nos primeiros séculos do cristianismo, em épocas antigas muitas vezes pairava perante os artistas, e cujo último eco na evolução da humanidade ainda esta contido na Madona Sixtina de Rafael.

Esta Madona Sixtina de Rafael ainda nasceu dos grandes conhecimentos ingênuos da natureza e do espírito de uma época antiga. Pois ela é a reprodução daquela imaginação que o homem, que se coloca em visão interior dentro dos mistérios do urdir do Natal, tem de ter de modo que esse urdir do Natal se lhe torne imagem. Assim, podemos dizer: o curso do ano tem de se mostrar para a visão interior na vida de grandiosas imaginações bem determinadas. Ao sair o homem inteiro animicamente para o mundo, o inicio do outono se torna a grandiosa imaginação da luta de Micael com o dragão. E como o dragão só pode ser representado sulfureamente - a massa de enxofre que encontra seu caminho para dentro da forma de dragão, como surge aí a espada de Micael ao pensarmos o ferro meteórico concentrado, unificado, nesta espada, da mesma forma surge-nos do que podemos sentir na época do Natal a imagem da mãe Maria, cuja roupa está dobrada nas forças da Terra, enquanto o manto - até a estes detalhes chega a pintura - o manto tem de se arredondar interiormente, tem de se tornar mercurial, de forma que se tenha uma clausura interior no peito. Mas aí penetram as forças solares. E a criança Jesus, sem culpa, que deve ser pensada como ainda não tendo provado nenhum alimento terrestre, é a própria atuação solar sentada no braço de Maria; em cima a atuação das estrelas. De modo que nós temos de representar, como brilhando a partir de dentro no olho e cabeça, brilhando perante o ser humano, a cabeça de Maria; temos que representar a criança Jesus no braço de Maria, fechado interiormente em arredondamento esférico, vindo como em amorosa suavidade das nuvens; e indo para baixo a roupagem tomada pelo peso da Terra, expressando na roupagem o que se pode tornar peso da Terra (Vide desenho).

E o fazemos melhor ao expressá-lo também em cores. Então temos aquela imagem que se nos desvenda como uma imaginação cósmica na época do Natal, com a qual podemos viver até a época da Páscoa, quando uma imaginação de Páscoa novamente pode se mostrar a nós a partir da conexão cósmica, como falaremos amanhã..

Meus queridos amigos vocês vêem como o homem toma dos céus a arte de sua relação com a Terra. Verdadeira arte é aquilo que o homem vivencia com o universo físico-anímico-espiritual que lhe resulta em grandiosas imaginações. De forma que o homem não pode colocar perante seus olhos toda luta interior necessária para o surgimento da autoconsciência a partir da consciência natural se não tiver a grandiosa imagem da luta de Micael com o dragão, de modo que o homem pode colocar perante sua alma tudo que possa atuar animicamente a partir da natureza na época do inverno; colocar artisticamente, imaginativamente perante sua alma a imagem da mãe com a criança como descrevi agora.

Observar o curso do ano significa: caminhar com a grande artista cósmica e novamente deixar viver dentro de si o que o céu impregna na Terra em poderosas imagens que então se tornam realidades para a índole humana.

Assim o curso do ano pode se desvendar em quatro imaginações:
a imaginação de Micael, imaginação de Maria - e amanhã e nas próximas palestras vamos falar sobre a imaginação de Páscoa e a imaginação joanina.