Festas Cristãs

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Textos Rudolf Steiner

Natal – Festa de Inspiração

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Com o trabalho que realizamos no movimento Antroposófico, nosso enfoque é o futuro, futuro da humanidade; e em nossas almas, em nossos corações nos animam os ideais que, como cremos, haverão de incorporar-se às correntes e forças da evolução humana. Dessa forma, potências e entidades que se revelam no mundo espiritual como o que deu origem ao mundo sensível, nos invade uma intima alegria, por que as verdades que percebemos do mundo espiritual haverão de penetrar gradualmente nas almas e corações da humanidade futura, de forma que durante a maior parte do ano, nosso olhar espiritual se concentra no presente imediato, ou seja, dirige ao futuro.

No transcurso do ano se destacam as diversas festas que através do tempo e suas mudanças, nos foram passadas como lembranças perpetuadas do pensamento e da inspiração da humanidade antiga. Nessas datas, precisamente, o que nos guia é um forte impulso de sentir nossa conexão com essa humanidade antiga, e penetrar no que viveu nas almas e corações dos homens de antigamente, induzindo-os a estabelecer os marcos no decorrer dos tempos e instituir as “Festas do Ano”.

Assim, a páscoa, bem entendida, nos leva a pensar nas forças humanas, na sua capacidade de vencer a natureza inferior por meios da superior, o físico material espiritual. A páscoa é a festa da ressurreição, da esperança e da confiança nas forças espirituais que aguardam seu despertar na alma humana. O natal, por sua vez, é a festa que nos transmite uma sensação de profunda harmonia com todo universo, e nos permite sentir a graça divina, é a festa que, ano após ano, nos inspira a certeza que, qualquer que seja a índole das nossas experiências no mundo exterior, por cruéis que sejam as dúvidas que perseguem a nossa fé, por graves que sejam as decepções que amargam nossas maiores esperanças, e por inconsistente que se apresenta o bom da vida, algo existe na natureza e no íntimo do ser humano, e é isto que se revela quando bem compreendemos a idéia do natal – algo existe que na alma só necessita representar-se em toda sua vivacidade e espiritualidade, para que nos revele, agora e sempre, nossa procedência das forças do bem, do reto, e do verdadeiro. Assim como idéia da páscoa aponta para forças vencedoras do porvir, a idéia do natal nos leva a compreender, de certo modo, nossa origem em um passado remoto

A razão e a espiritualidade existentes no inconsciente do homem é muito, muito superior a tudo o que ele possa abarcar em sua consciência comum.

Freqüente nos admiramos perante as intuições que a humanidade antiga criou inspirada a partir das ocultas profundidades de sua alma; admiração muito superior a que sentimos perante as instituições realizadas pela humanidade moderna com base em considerações racionais e intelectuais. Quão infinita é a sabedoria que existe no calendário que marca o 25 de dezembro como o dia do nascimento de Jesus Cristo, e em 24 de dezembro como o dia de Adão e Eva! Semelhantes relações “secretas” se expressavam, de modo plástico, lógico e espiritual nos quadros sagrados da idade media, que narravam os mistérios do natal e se representavam nessa época.quando os cantores, como se chamavam os protagonistas, se movimentavam ao lugar da representação a árvore do paraíso ao elenco de atores que atuavam nos mistérios no natal.

Em poucas palavras, em tempos antigos algo induzia às profundezas ocultas da alma humana a associar a origem terrena do homem com o nascimento de Jesus. No ano de 354 que se celebrou a festa do nascimento de Jesus pela primeira vez no dia 25 de dezembro. Antes se celebrava um dia que inspirava sentimentos parecidos aos vivenciados mais adiante no natal, o 6 de janeiro, em que se festejava o batismo no rio Jordão, ou seja, o dia consagrado a recordar a descida de Cristo desde as alturas espirituais e sua incorporação em Jesus, a lembrança do grande momento histórico que se nos representa simbolicamente pela pomba que planava sobre a cabeça de Jesus de Nazaré. No século IV, devido à incipiente concepção materialista do mundo, já não era possível entender a sublime idéia da incorporação da entidade do Cristo em Jesus.

Este pensamento iluminou, como poderosa luz, por revê período, a mente dos gnósticos, contemporâneos ou vivendo pouco depois dos acontecimentos do Gólgota: não tinham necessidade de buscar a profunda sabedoria da incorporação do Cristo em Jesus, como temos que buscar hoje por meio da consciente clarividência moderna; neles fulgurava a última centelha do antigo poder da clarividência  própria da humanidade primitiva, e os permitia conhecer, como iluminados por uma graça, aquilo que nós hoje temos que reconquistar sobre os grandes mistérios do Gólgota, muito é o que, como breve relâmpago, clareou entre os gnóstico, e o que nós temos que reconquistar hoje em dia: por exemplo, e em particular, o mistério do nascimento de Cristo em Jesus de Nazaré, no ato do batismo de São João.

Mas, assim como se desvaneceu o antigo poder de clarividência, assim também se apagou aquela peculiar centelha dos poderes clarividentes mais sublimes, da suprema luz natalina que existia entre os gnósticos. E no século IV, a cristandade ocidental já não era capaz de compreender esse grandioso pensamento: a verdadeira festa da aparição de Cristo em Jesus, sua epifania, havia perdido seu sentido para a cultura cristã ocidental, haviam se esquecido do que significava aquela festa de epifania, 6 de janeiro.

E os sentimentos que queriam abraçar a figura do Cristo dentro da evolução humana ficaram, por algum tempo, sepultados sobre esses escombros da intelectualidade materialista perdurando até o presente. Se bem já não era possível compreender que a suprema divindade se havia manifestado no batismo de São João, podia compreender-se sem dúvida, por não estar em contradição com a consciência materialista, que o organismo do corpo predestinado para receber o Cristo, destacava-se por todas suas virtudes. Em conseqüência, adiantou-se o nascimento espiritual que, propriamente, teve lugar da festa da epifania, colocou-se nascimento de Jesus. Sem dúvida, na importância que adquiriu a festa de natal, pulsavam sempre os sentimentos mais elevados e mais sublimes, mesmo que não se soubesse explicar o que havia por detrás deles. Na alma humana despertava algo especial cada vez que se aproximava a festa natalina, algo que poderíamos expressar assim: se o homem sente o mundo tal como se deve, sua fé na humanidade o ajuda a manter-se firme ante todos os perigos e golpes do destino; e ante o caos, ante as lutas da existência, um sentimento de paz e amor pode chegar a infundir nova vida da profundidade de sua alma. Cada vez que se aproxima a festa de natal, a do”nascimento de Jesus”, podemos perguntar-nos: o que é que, na realidade, se comemorava?

Olhemos sobre o sentido que lhe dá a ciência espiritual.

Sabemos que no curso da evolução humana, tiveram que se realizar os preparativos mais transcendentes, mais grandiosos e intensos, para que pudesse ocorrer nela o mistério do Gólgota: nascer uma individualidade que era Zaratustra reencarnado, quer dizer, um dos meninos Jesus, mas também devia nascer aquele que é lembrado na festa de natal: aquele que, em relação À sua substância anímica, havia permanecido até então no mundo espiritual. Todas as demais almas humanas já haviam passado por numerosas encarnações e, nelas, experimentado tudo o que podiam experimentar graças Às forças de hereditariedade, e haviam absorvidos em si todo o destrutivo que se havia infiltrado inclusive no sangue transmitido de geração a geração. Porém, uma só alma não havia participado dessas encarnações, senão que havia permanecido nos mundos espirituais, velado pelos mistérios mais puros nos centros de mistérios mais excelsos, para logo derramar-se até a humanidade, e cujo nascimento celebra a festa de natal e festejam todas as histórias que estão em redor desta festa. Essa época nos remete, pois, a nossa própria origem, quando a alma humana ainda não havia caído, nem para unir-se com a natureza de Adão. E no evangelho segundo Lucas, se quer expressar que em Belém, na palestina, nasceu àquela entidade anímica, que não participou da queda da humanidade, senão que se manteve esperando, para penetrar, propriamente pela primeira vez, em um corpo humano e incorporar-se no menino Jesus. “podemos ter fé e confiança na humanidade”: aí está um sentimento que se apodera de nossas almas ao determo-nos no fato de que, por muito que na evolução humana reine a discórdia, o caos, e a falta de fé, a causa das múltiplas influências evolutivas desde os tempos de Adão, se olharmos atrás daquilo que a humanidade conhecia como Adão Cadmo, transformado depois no conceito de “Cristo”, acende-se na alma humana a confiança na retidão das forças humanas, na natureza humana que, em princípio, foi de paz e amor. Daí é que o anímico subconsciente juntava as duas festas: a de Adão e Eva, e a do nascimento do menino Jesus, porque o homem vê nesse menino sua própria natureza, sua natureza pura em toda sua candura e inocência.

 

(texto incompleto)