Textos Rudolf Steiner
O impulso Crístico Através dos Tempos
(Palestra proferida em Pforzheim – 07/03/1914)
Em conferências recentes comentamos, sob diversos aspectos, sobre os antecedentes espirituais do Ministério do Gólgota, isto é, que este ministério é a culminação de uma série de acontecimentos anteriores. Vocês sabem, também, meus amigos, que este ministério inclui como sua condição medular, a fusão da entidade Cristo, com o corpo de Jesus de Nazaré: fusão símbolo de que, uma entidade cósmica, Cristo, se uniu com nossa existência terrena. Objetivando-se, assim, no plano físico.
Sabemos da mesma forma, que, como preparação prévia do ministério Gólgota, nasceram dois meninos Jesus(*): um deles, descendente de Salomão, como portador do eu de Zaratustra; outro, procedente da linha natânica, da estirpe de Davi, como ser muito peculiar. Sabemos, também, que, aos 12 anos, o eu de Zaratustra transmigrou, do menino Jesus salomônico, para o menino Jesus natânico e que, entre os 12 e os 30 anos o Jesus natânico, animado pelo eu de Zaratustra, se preparou para receber, através do acontecimento simbolizado pelo batismo no Jordão, a Entidade Cristo que, desde então penetrou a individualidade de Jesus de Nazaré, difundida, depois de sua morte, na esfera espiritual, que circunda a Terra, com o qual a humanidade pode se fazer participante das forças espirituais que, partindo do ministério Gólgota, fluem para todas as almas e os corações.
(*) veja-se: "A direção espiritual do homem e da humanidade"
Em ocasião anterior eu já disse que este ministério do Gólgota, como antecipação, já havia acontecido em 3 ocasiões anteriores, para salvar ao gênero humano: a primeira, na antiga época lemúrica, a segunda na atlante e a terceira até o final desta. A quarta é a que, já dentro da época pós-atlante, corresponde aos começos da nossa era. Sem dúvida, este 4º evento, que nós chamamos de ministério do Gólgota, é o único que aconteceu no plano físico; os 3 anteriores se desenvolveram somente no mundo espiritual. Mas, as forças efetivas geradas em virtude destes acontecimentos e enviadas para a salvação da humanidade, animaram almas e corpos terrestres. E, em cada um desses eventos, a entidade de Cristo penetrou na mesma entidade que, posteriormente, nasceu como menino Jesus natânico.
Já disse que o decisivo do ministério do Gólgota consiste em que, no chamado Jesus, da estirpe natânica, penetrou a entidade Cristo; mas, essa entidade natânica, esteve presente, também, nos 3 eventos anteriores, embora não encarnado em nenhum homem físico: viva como entidade arcangélica nos mundos espirituais, de onde ficou impregnada da entidade Cristo, uma vez na época lumúrica e 2 na atlante, como etapas precursoras do Ministério do Gólgota. Reconhecemos, pois, 3 vidas arcangélicas no mundo espiritual; a entidade que as viveu era mesma que, posteriormente, nasceu como menino Jesus, do qual nos fala no evangelho de São Lucas. Três vezes essa entidade arcangélica, que mais tarde se sacrificou como homem, se imolou para a penetração do impulso Crístico. Assim como Jesus Cristo foi um homem, impregnado desse impulso Crístico. E, assim, como os efeitos do ministério do Gólgota se verteram na atmosfera espiritual da Terra, do mesmo modo se difundiram nela, embora procedentes do cosmos, os efeitos dos primeiros 3 eventos. Já sabemos que o ministério do Gólgota ocupa o lugar central da evolução terrestre; tudo o que precede aponta, qual premunição, para tal ministério. E todo o posterior corresponde a uma paulatina instilação de suas forças nas almas e nos corações humanos.
Qual dos membros constitutivos do homem recebeu a força emanada do ministério do Gólgota? Aquele que, quando se abre, é capaz de desenvolver sua consciência no plano físico. Acaso não é assim? Não podemos falar, ao recém-nascido, de Jesus Cristo; não há maneira de explicar. E, se deixássemos qual a visão da criança pousasse em algum quadro, como por exemplo, o da Madona Sixtina com o menino Jesus, ou ainda, no crucificado e, se pudéssemos olhar em sua alma, notaríamos eu, na primeira etapa da vida infantil não nos é possível acercar-nos dele, com os recursos educativos do plano físico. É certo que, já desde os dias de seus primeiros balbucios, podemos acostumá-lo a pronunciar o nome de Cristo; conceitos que nada dizem dele; mas, nessa primeira etapa da vida infantil, não podemos esperar que brote de seu coração, alguma compreensão. E, se os recursos da ciência espiritual, investigamos o ânimo infantil, resulta óbvio que, os primeiros rudimentos de sua captação de Cristo, não podem despontar, por meios educativos exteriores, até o primeiro momento da infância, que o homem poderá recordar, posteriormente, Istoé, até o momento em que nasce sua consciência do eu. Não resta dúvida de que essa captação infantil do Cristo, que lhe transmitimos, sem introduzir nenhum dogmatismo, simplesmente tratando que, em nossas palavras e representações sobre algo do impulso Crístico, o beneficiarão por todo o resto de sua vida. Uma vez despertada a consciência do eu ainda que esta consciência esteja, em seus primeiros rudimentos, já podemos fazer algo: por exemplo, ainda que não possamos influenciá-la com meios externos, a criança já pode levantar o olhar para Madona Sixtina ou para o Crucificado, em atitude muito diferente de como os via antes.
Compreenda-se que o Ministério do Gólgota, pela sua forma de incorporar-se na evolução terrena da humanidade, acha-se destinado a propiciar o progresso da vida espiritual, no plano físico; e, em realidade, o homem só entra conscientemente neste plano uma vez que tenha despertado do seu eu.
E, o que é o que precede isso?
Já mencionei, em conferencias anteriores, 3 etapas que precedem o despertar do eu, de extrema importância para acriança. Quando aprende a andar, isto é, a levantar-se, da posição horizontal para se orientar para as alturas celestes do cosmos.
Então, aprende a passar, de uma posição para outra e, nosso se apóia a principal diferença entre o homem e o animal: aprende a adotar, por seu próprio esforço, a posição ereta, afastando seu olhar do terreno, para o qual o animal se dirige, em virtude de toda sua natureza e sua forma, pois são só aparentes as exceções. A criança consegue esta posição ereta, antes que nasça, nela, a consciência do eu.
Na nossa atual vida pós-atlante, não fazemos senão recapitular certas atitudes que a humanidade não possui sempre, mas que adquiriu no transcorrer do tempo: aprendizagem de se equilibrar e andar ereto, conquistado paulatinamente na antiga época lemúrica, a criança o repete numa idade que precede ao consciente despertar do eu. Esta recapitulação individual se realiza, pois, de forma massiva, numa idade em que este aprendizado não depende, todavia, da consciência: é um impulso inconsciente para erguer-se. Existem animais que têm um modo de andar quase vertical, quase orientado para cima; seu organismo se acha estruturado de maneira tal que, alcançam naturalmente, essa posição. Não necessitam de aprendizagem nenhuma. Sem dúvida, igual a muitas outras comparações, também esta poderia resultar errônea. O homem está chamado para que, mas graças à sua potencialidade latente, se coloque em posição vertical, subtraindo-se à posição que ainda se encontrava na antiga época lunar, quando sua coluna vertebral era paralela à superfície da Lua, isto é, horizontal. Na antiga época lemúrica, o homem aprendeu a transformar a direção lunar na terrestre, graças ao que, durante o ciclo terrestre, os Espíritos da Forma começaram a oferecer ao homem, algo de sua própria substancia e a instilar-lhe o Eu.
A primeira manifestação desta instalação é a força interna que permite ao homem erguer-se. A própria Terra contém forças espirituais que podem percorrer a extensão da coluna vertebral, enquanto esta, em seu crescimento natural, permanece em posição horizontal, como o corpo do animal. Mas, a Terra carece de energias que possam servir, diretamente, ao ser humano, uma vez que este comece a se orientar em direção vertical, graças ao seu Eu e, ainda que a consciência deste não nasça senão mais tarde.
Para que o homem possa se desenvolver harmoniosamente, com seu andar ereto e vertical, é necessário que nele atuem as forças extra-terrestres, procedentes do cosmos.
Como conseqüência de o homem, por sua posição ereta, ter se subtraído ao amparo das forças espirituais da Terra, Lúcifer e Ahriman teriam podido perturbar toda a evolução humana, se não tivesse acontecido o Primeiro Evento de Cristo, na antiga época lemúrica.
Foi em tal época que aconteceu no reino espiritual imediato ao terreno, a penetração do Cristo, na entidade que, posteriormente, se converteria no Jesus natânico, embora, simplesmente numa espécie de existência angélica. Eis aqui uma etapa precursora ao Ministério do Gólgota. A conseqüência disso foi que, o posterior Jesus natânico, que do contrário, teria conservado sua figura angélica, adotou a figura humana, não em sentido carnal, mas etérico, posto que o vento aconteceu nas alturas espirituais etéricas.
Na mais próxima das regiões supra-terrestres, Jesus Nazareno pode ser encontrado, como figura angelical etérea: pela impregnação de Cristo, adotou figura humana etérea. Com isto, se introduziu um novo elemento no Cosmos: a energia que irradia para a Terra e que permitia ao homem ou, falando com mais precisão, a sua forma física humana, proteger-se da destruição de que teria sido vítima, ao não existir a possibilidade de que irradiasse, para ele, do Cosmos, e nele penetrasse, a força plasmadora, que lhe permitia converter-se em ser ereto. A desordem teria prevalecido, ao faltar a irradiação desta força plasmadora que, graças ao primeiro evento, aproximou da Terra, nas asas da força solar física.
Na presença de uma criança que, pela primeira vez, se levanta do seu estado de desamparo, arrastando-se, e resvalando-se, para equilibrar-se e andar, convém que recordemos que isto só pode acontecer porque, na antiga época lemúrica, ocorreu o Primeiro Evento Crístico, isto é, a que o Jesus natânico, impregando da Entidade Cristo, passou de uma condição etéreo-espiritual, para uma condição etérreo-humana.
Na verdade, amigos, a ciência espiritual tem por objeto dar conteúdo substancial à nossos sentimentos; e o sentimento que nos embarga ao observar uma criança, que aprende a suster-se sobre seus pés e andar, enraizada, certamente, num solo de profunda religiosidade: a criança caminha erguida, graças ao Impulso Crístico. Assim, a Ciência Espiritual enriquece nossa concepção de mundo, ao dotá-la de um sentimento do ambiente externo, que não poderíamos ter obtido de outra maneira. Damo-nos conta de que existem guardiões do desenvolvimento e do crescimento infantil e de que, os raios da força de Cristo, envolvem o ser e o crescer da criança.
Pelas descrições que fiz da época atlante, segundo os Anais Akashicos, vocês sabem que nossos antepassados atlantes mudos à princípio, adquiriram a linguagem nessa época. Eis aqui a segunda das faculdades, que a criança adquire antes de que desperte sua consciência do eu, propriamente. Aprende a falar. Este aprendizado se apóia, meramente, numa espécie de imitação, ainda que, certamente, provenha de profundas raízes da natureza humana. A fala é, pois outra das faculdades que se depositaram no homem terreno, em virtude de seu próprio progresso. Graças a que se instalaram nele os Espíritos da Forma, o homem á capaz de falar e de viver no plano físico. Eis aqui, pois, o segundo dos elementos, pelos quais o homem se subtrai às forças puramente terrestres. Os animais não aprendem, realmente, a falar; neles as energias da fala não passam do nível orgânico vegetativo. Inclusive, a eloqüência que no impressiona em alguns animais, não corresponde a fala humana e se, por meio de adestramento ou outro procedimento, conseguimos que o animal profira palavras, se produzem efeitos extra-corporais dos quais a Ciência Espiritual poderia se ocupar, mas que hoje ficam fora do nosso tema. O que agora nos interessa é a evolução normal do homem e fazemos constar que a fala já era predisposta no ser humano, desde as alturas divinas, por meio do que vejamos como o homem deu o passo da condição muda para a falante.
Assim como, pela conquista da posição ereta, o homem se emancipou da primeira corrente, do mesmo modo, pela conquista da fala, se emancipou de outras forças que, também, circulam na Terra, qual seiva espiritual.
Devido às influências luciférica e ahrimânica, a linguagem teria se pervertido, se o homem tivesse ficado abandonado unicamente à Terra, isto é, se não se tivessem vertido nele influências cósmico-espirituais, que desciam a ela. Sem a intervenção do Cristo, o homem da época atlântica, teria desenvolvido todo seu aparelho vital: laringe, língua, garganta e inclusive os órgãos mais profundos, que têm a ver com a fala, como o coração, por exemplo, só até o ponto de poder expressar, por um misero balbucio, similar ao das profetizas ou dos médiuns, seus egoístas sentimentos de dor, alegria, prazer, sensualidade. Ainda que o homem tivesse podido preferir sons muito mais articulados que o animal, não poderia expressar, por seu meio, senão o que vive em seu interior; toda a palavra teria se limitado aos processos, que acontecem em seu próprio organismo; a linguagem teria se limitado a um conjunto de interjeições. Hoje em dia, estas vozes emotivas, ficam reduzidas a um número muito pequeno. O perigo de que a complexidade da fala humana não tivesse transcendido o nível das interjeições e que, a desordem na elocução humana tivesse impedido a expressão da interioridade do homem, ficou afastado, graças ao Segundo Evento Crístico, isto é, graças À que a entidade, que posteriormente nasceria como o menino Jesus natânico, se impregnou, nas alturas etéreas, da entidade Cristo e, assim, penetrou os órgãos corpóreos do homem, dotando-o da capacidade de proferir palavras mais articuladas, que as meramente emotivas. Como conseqüência, pois, do Segundo Evento Crístico o homem adquiriu a capacidade de abranger e expressar o objetivo.
Ainda assim, a linguagem, como faculdade de trocar em palavras as emoções humanas, se achava ainda, ante um perigo. Como conseqüência do Segundo Evento Crístico, teria sido possível acontecer que o homem, não só encontrasse sons, interjeições, palavras emotivas, mas também que, de certo modo, o intimo movimento da fala, provocado por ele, exposto às influências luciféricas e ahrimânicas que continuaram substituindo até bem no começo da época atlante não se ajustara a uma realidade substancial, isto é, que o homem não saberia designar os objetos exteriores, com palavras que pudessem simbolizá-los adequadamente. Então aconteceu o Terceiro Evento Crístico. Pela 3ª vez, a entidade que, posteriormente nasceria com Jesus natânico, se uniu, nas alturas espirituais, com Cristo e, com as energias assim adquiridas, outorgou um novo nível capacidade humana de falar esta 3ª incorporação foi, por sua vez, a 2ª em que a energia da Entidade Cristo Jesus penetrou certos órgãos do corpo humano, naqueles que manifestam a fala, e com isso a força de falar foi dotada da possibilidade de criar autênticos signos verbais e assim poder expressar o circuncidante; a linguagem pode se constituir em meio de comunicação universal, mais além de toda limitação geográfica ou étnica. Nunca teria sido possível à criança aprender a falar, se não tivessem acontecido esse dois Eventos Crísticos, na época atlante. E uma vez mais, preenchemos de conteúdo nossa vida emotiva, através da Ciência espiritual se, na presença da criança, que começa a falar e que vai aperfeiçoando esta arte, tivemos presente que, em seu inconsciente, anima o impulso de Cristo, protegendo e fermentando essa faculdade de se expressar por meio de palavras.
Depois de acontecer aqueles Eventos Crísticos, cuja influencia sobre a evolução da humanidade voltei a destacar hoje, deste determinado ponto de vista, sobreveio a época pós-atlante.
Durante esta época, os povos afiliados a chamada cultura egípcio-caldaica, tiveram por missão reviver, mas penetrado de consciência, aquilo que aconteceu para o bem da humanidade, na antiga época lemúrica. Inconscientemente, o homem havia aprendido a conquistar a posição ereta na época lemúrica e se converter em ser falante, na época atlante. Totalmente inconsciente, por não haver nascido ainda sua faculdade discursiva, o homem fez seu o Impulso Crístico. Na época pós-atlante, foi necessário conduzi-lo, lentamente, a compreender aquilo que havia assimilado, inconscientemente, nos tempos anteriores.
O que as alturas cósmicas lhe permitiu contemplar, ereto? O Impulso Crístico. O homem da época lemúrica vivia sob certo imperativo. Depois, embora não com Lena consciência, mas em processo de aquisição dela, os povos do Egito seriam conduzidos a venerar aquele que palpitava nesse erguimento. Disso se ocuparam os iniciados, cuja influência na cultura egípcia se potencializou com a construção das pirâmides, que se erguem da Terra para o Cosmos e cuja forma de situação atestam esse impulso ascendente, devido à ação das forças cósmicas. Ergueram-se, também, os obeliscos e, assim, o homem começou a tomar consciência das forças que presidiam sua postura ereta; além disso, os maravilhosos hieróglifos, nesses monumentos, ao serem alusões veladas a Cristo, evocavam as forças supra-terrenas da época lemúrica.
Sem dúvida, em relação à capacidade da fala, os egípcios não puderam alcançar o mesmo nível de compreensão nublada, que alcançaram no tocante a capacidade de erguimento. Com relação àquela, a alma egípcia teve de passar, primeiro por uma disciplina emotiva adequada, com o fim de que a humanidade posterior chegasse a compreender o enigma da presença de Cristo na faculdade verbal do homem. A alma humana, em vias de maturação, haveria de acolher esse enigma na atitude do mais profundo temor reverencial e de disso de ocuparam de forma maravilhosa os hirofantes, iniciados da cultura egípcia, os quais deram ao mundo a esfinge, enigmática e muda, cuja pétrea efígie só se tornou sonora sob a influência cósmica, em certos momentos de êxtase humano. Diante da esfinge silenciosa, que só em determinadas condições adquirida sonoridade, pela ação do sol nascente, nasceu aquele temor reverencial da alma, que a conduziria para compreensão da linguagem, que se falaria quando, mais tarde, se elevasse à consciência superior a penetração paulatina do Impulso Crístico na evolução terrena da humanidade; essa humanidade que receberia a mensagem, que as esfinges não podiam dar-lhe, ainda, mas, para cuja captação, era preparada. Na formação do movimento verbal estimula o Impulso Crístico. Isto foi dito à humanidade, com as seguintes palavras:
No princípio era o verbo
E o verbo era com Deus
E o Verbo era um Deus.
Este era no princípio com Deus.
Ali estava, onde tudo foi feito,
E nada foi feito
Senão pelo Verbo.
No Verbo estava a Vida
E a Vida era a luz dos homens.
“No verbo estava a Vida, e a Vida era a luza dos homens”. Esta passagem corresponde ao momento em que o Evangelho nascia, do seio do 4º período pós-atlante e no qual os homens, graças a sua preparação feita pela cultura Greco-latina, haviam chegado ao ponto de poder reviver, dentro de tal período, o que havia acontecido em épocas anteriores. Assim como na época egípcia se recapitulou a veneração do erguimento, assim se recapitulou, na época grega, a veneração do verbo da palavra. Eis aqui, como as forças espirituais sobre humanas, intervém na evolução da humanidade.
Finalmente, como 3º logro, antes de despertar para consciência do eu, a criança tem que aprender a formar idéias, a pensar. Este pensar havia sido reservado para a humanidade pós-atlante ou, falando com mais precisão, para sua 4ª época. Antes, pensava-se em imagens, a semelhança de como, ainda hoje, toda a criança começa por pensar em imagens, a semelhança de como, ainda hoje, toda criança começa por pensar em imagens. (Deste pensamento imaginativo me ocupo no meu livro “Os enigmas da filosofia”. A faculdade de criar pensamentos não nasceu senão até o 7º ou 6º século a.C., para logo ir se aperfeiçoando; agora já nos encontramos perfeitamente identificados com ela. Considerando que a evolução do pensamento discursivo tem a característica de envolver o Eu, o Quarto Evento Crístico, o mistério do Gólgota, teve como um dos objetivos o vincular também o pensamento com o impulso Crístico e, assim, evitar que se introduzisse a desordem, em sua relação com o Eu, antes que a ordem fosse inserida, progressivamente, no pensar humano, que seus pensamentos deixassem de mesclar-se caoticamente e que, penetrados de sentimentos e sensações internas, se desenvolve, mais e mais, um sadio pensar ligado à realidade. Tudo isto se deve a que, graças ao 4º evento Crístico, mistério do Gólgota, nosso pensar adquiriu o impulso necessário, derramado por Cristo, na atmosfera espiritual da Terra.
Como resumo, pois, podemos dizer que, pela primeira vez isto aconteceu na época lemúrica, quando Lúcifer ameaçava a entidade ereta do homem; que pela 2ª vez, aconteceu na época atlante, quando o homem foi subtraído ao perigo de que a linguagem fosse expressão desordenada de sua interioridade.
A 3ª vez, tal penetração teve lugar nos fins da época atlante quando Cristo, ao impregnar a entidade espiritual que posteriormente seria Jesus de Nazaré, salvou-se o dom lingüístico, que havia de ser o símbolo dos objetos exteriores.
A 4ª intervenção de Cristo, finalmente, salvou o pensar do perigo de que não pudesse visualizar-se interiormente. O homem pode transcender este perigo, objetivando seus pensamentos em formas internas, que se derramaram na atmosfera espiritual da Terra, graças ao mistério de Gólgota, e, para tal objetivação, nossa ciência espiritual moderna oferece enfoques particularmente adequados.
Meus amigos, a evolução da humanidade chegou a um ponto em que já é, também, admissível pronunciar as primeiras palavras do Evangelho de São João, de forma distinta:
No princípio é o pensamento,
E o pensamento é com Deus,
E o pensamento é algo divino.
Nele está a vida
E a vida deve gerar a luz do meu Eu.
E o pensamento divino há de resplandecer em meu Eu
Para que as trevas de meu Eu
Aprendam o pensamento divino
Mesmo que o que antecede nunca tenha sido formulado com toda a clareza nestes termos, assim corresponderia como autêntica aspiração da evolução humana.
No século VIII a.C. começou a 4ª época cultural pós-atlante; uns 3 séculos e meio depois, o pensamento discursivo havia alcançado a maturidade suficiente para que pudesse ser concebido com a clareza, que culminou na filosofia platônica. Poucos séculos depois, o Impulso Crístico veio a enriquecer a vida dos homens. No princípio do século XV d.C., começou a 5ª época pós-atlante e nela teve lugar algo assim como uma réplica do que havia acontecido no princípio da 4ª época, culminando na compreensão na compreensão platônica do pensamento: ....( perdeu-se aqui uma linha do texto)....quase exatamente 3 séculos e ½ depois da entrada da 5ª época, aparece Hegel, com seu enunciado consciente da natureza do pensamento. O pensamento humano chegou ao clímax, em Hegel, com a afirmação: É o espírito ativo e a vida e o palpitar do pensamento na verdade. Isso Hegel enuncia, em forma aparentemente incompreensível, pode-se enunciar com as seguintes palavras:
No princípio é o pensamento,
E algo infinito é o pensamento,
E a vida do pensamento é a luz do EU.
Que o pensamento resplandecente preencha as trevas do meu Eu,
Para que essas trevas apreendam o pensamento vivo,
E para que viva e palpite em seu princípio divino.
Assim é como progride, normalmente, a humanidade.
Até agora, sem dúvida, não fez muitos progressos, porque, precisamente Hegel foi vítima de muitas calúnias. Mas, certo seria dizer: “E o pensamento resplandecente penetrou nas trevas, mas as trevas nada queriam saber dele”.
Se aprendemos a compreender a vida do pensamento, compreendemos, da mesma forma, o que incumbe à humanidade no futuro.
Ao mesmo tempo, com base na ciência espiritual, algo mais temos de levar em conta: as épocas posteriores sempre surgem das anteriores. Assim, encontrando-nos em plena 5ª época pós-atlante, participamos, por sua vez, na 6ª, na medida em que cultivamos a ciência espiritual e nos capacitamos para contribuir para a compreensão do pensamento vivo, que se vai tornando clarividente.
Assim como o impulso Crístico se infunde em nossos pensamentos, do mesmo modo chegará a se infundir em outro aspecto da nossa alma, que não deve se confundir com o mero pensamento. Recordemos que a criança, quando começa a desenvolver suas faculdades, partindo do inconsciente logra sua consciência do Eu, com o que entra na esfera, onde pode fazer suas objetivações, graças ao impulso Crístico. Este impulso Crístico consciente, incorporado ao mundo pelo mistério do Gólgota, atua sobre a criança que, tendo aprendido a andar e a falr, começa a pensar e assim caminha até o descobrimento de seu Eu. Nossa herança cultural, através dos milênios, oferece, pois, a possibilidade de incorporar esse impulso no andar ereto, no falar e no pensar. Sem dúvida, existe uma 4ª potência da alma, ainda não sensível ao impulso Crístico: a recordação. A potência Crística, que já impregna nosso andar ereto, nosso falar o nosso pensar, se dispõe a entrar, também, na faculdade humana de recordar o passado, de evocar lembranças.
Já somos capazes de compreender a Cristo, quando nos fala através dos Evangelhos; mas, ainda nos achamos nos primeiros passos para que Ele se introduza, também, no pensar que, posteriormente, há de viver em nós como recordações ou representações.
Chegará o tempo em que os homens poderão contemplar a recordação de suas experiências e vivencias e se dar conta de que o Cristo está presente em sua faculdade reminiscente. Já se anuncia esse tempo futuro, cuja plenitude de desenvolvimento corresponderá à 6ª das grandes épocas da humanidade.
Então o Cristo poderá se manifestar para nós, inclusive através de nossas representações recordativas, são intimamente ligados a nós. O homem poderá olhar para trás, para o vivido e dizer: o impulso de Cristo se infundiu em minha memória e vive em minhas funções recordativas, o caminho que se nos assinala é o realiza, mais e mais, as palavras: “Não vivo eu, mas Cristo vive em mim”: caminho que se alarga, graças a que o impulso Crístico vai penetrando na faculdade de recordar. Entretanto, ainda não está nela; uma vez que ali se aloje, uma vez que já não palpite tão só o entendimento humano, senão que se derrame sobre todo o panorama das recordações, o homem já não dependerá do documento externo, para o aprendizado da história, porque sua capacidade recordativa se ampliará e Cristo viverá na recordação.
Graças a esse alojamento, o homem terá conhecimento da atuação extra-terrestre de Cristo, antes do mistério do Gólgota, preparando-o para depois sofrê-lo e terá, da mesma forma,conhecimento do efeito irradiador deste impulso, através da historia. De tudo isso o homem terá uma visão tão verídica e plena, como a que hoje possui de suas recordações ordinárias. Quando o olhar interior abarcar a evolução terrestre da humanidade, não deixará de divisar, em seu centro, o impulso Crístico e toda a força recordativa estará impregnada e fortalecida pela penetração de seu impulso. Portanto, no sentido de uma viva captação do cristianismo, terá valor no futuro, também o seguinte:
No princípio é a recordação
E a recordação continua vivendo,
E divina é a recordação,
E a recordação é Vida,
E esta Vida é o Eu do homem
Que palpita no próprio homem.
Não é só, mas Cristo nele.
Se ele recorda a vida divina,
Cristo está em sua recordação,
E como radiante Vida recordativa
Resplandecerá Cristo
Em todas as trevas presentes.
Chegará o dia em que poderemos sentir a presença de Cristo em nossa vida anímica. Assim o sentiremos alguns de nós, quando tenham aprendido a se unir ao impulso Crístico, Ed mesmo modo que a criança aprendeu a erguer-se e a falar, graças ao efeito desse impulso.
Há também entre nós quem, por considerar que o estado atual de nossa reminiscência é simples preparação de uma futura condição muito mais perfeita, reconhece que ela estaria exposta no perigo de não alcançar essa perfeição e desviar-se, de não cultivar a atitude de se deixar penetrar pelo impulso Crístico. Se na Terra se alastrasse um materialismo que renegasse o Cristo, a recordação cairia em desordem e iria aumentando o número de pessoas, cuja auto-consciência adormecida cada vez mais. Nessa faculdade recordativa só pode se desenvolver corretamente, se corretamente se intui o impulso Crístico. For ser assim, a história se fará presente em nós, como recordação viva, saturada de compreensão dos acontecimentos verdadeiros e a mente humana saberá compreender. Quem ocupa o centro do acontecer universal. Chegada esta condição, a evidência será efetiva para o homem, isto em, que a recordação ordinária não será enfocada sobre uma só vida mas que se estenderá à encarnações passadas. A faculdade de recordar, tal como a possuímos hoje, é uma etapa preparatória que tem de receber sua configuração graças a Cristo.
Já seja que observemos exteriormente o desenvolvimento inconsciente de nossa infância, ou que penetramos em nosso interior e, por progressivo aprofundamento alcancemos o núcleo interno, conservado na lembrança: sempre e em qualquer lugar, registramos a força e a atividade viva do impulso Crístico.
O vindouro evento Crístico, que se aproxima, não física, mas etéricamente se relaciona com o 1º desprendimento da cristificação da recordação: Cristo se aproximará de nós, como atitude angélica. Para este evento, temos de nos preparar.
A ciência espiritual não deve enriquecer-nos unicamente com teorias, mas coloca-nos algo que nos torne capazes de assimilar, com novos sentimentos e sensações, tanto o que se nos aproxime do exterior, como o que nós mesmos somos. Nossa vida efetiva e intuitiva pode crescer se, com a ajuda da ciência espiritual, penetramos corretamente na verdadeira índole do impulso Crístico e, em sua atividade, dentro da entidade espiritual do homem. Para isso contribuirá que pensemos, freqüentemente, no seguinte verso:
No Princípio era a força da recordação.
A força da recordação deve se tornar divina,
E em algo divino deve se converter a força da recordação.
Tudo o que nasce, no Eu deve nascer
De modo que tenha nascido
Da recordação cristificada e deificada.
Nela deve estar a Vida
E nela deve estar a luz radiante
Que, do pensamento recordativo,
Resplandece nas trevas do presente.
E as trevas, tais como são na atualidade,
Deverão compreender a luz da recordação feita divina.
Se assimilarmos o significado de palavras como estas, acolhemos algo que convém À humanidade. Assim como a planta produz o germe, para o próximo ciclo vegetal, do mesmo modo aprendemos a sentir-nos, não só como portadores dos frutos, procedentes das encarnações anteriores, senão como seres que se preparam para a transição a encarnações subseqüentes. Ficaria estagnada nossa faculdade recordativa, das próximas encarnações, se não nos pensássemos com o impulso Crístico. Nem bem esse impulso penetra, mesmo que em escassíssima medida, no pensar, começa sua ação sobre a reminiscência. Aprendemos, da ciência espiritual, a viver, não só para o homem temporal, entre o nascimento e a morte, mas para o homem, em seu eterno devir, através de sucessivas encarnações, e aprendamos da ciência espiritual, quão importante é, para o pleno crescer da alma humana, a correta compreensão, a correta captação emotiva, do mais poderoso dos impulsos que intervém na evolução da humanidade: O Impulso Crístico.