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Textos Rudolf Steiner

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Dornach, 31 de dezembro de 1922

Anteontem falei de como também no homem se pode encontrar o desuso de translação anual. Eu chamei a atenção para o fato de como os efeitos da natureza, que estão ao nosso redor, de certo modo se desenrolam durante o curso de um ano, de forma que se pode ver uma espécie de atuar conjunto, de confluência, daquilo que usualmente é visto desenrolando-se como processos naturais, como fatos naturais, no decurso de um ano. Porem, a diferença essencial entre este decurso de translação anual e seu espelhamento no ser humano, é aquilo que para uma determinada região se passa sucessivamente, no ser humano é simultâneo. Em verdade, o humano como também é semelhante em todo terrestre, pelo fato de quando num dos hemisférios é verão, no outro é inverno, etc. Porém no caso da Terra é assim que os respectivos efeitos invernais de uma região e os efeitos estiveis de uma outra região, de certo modo, se colocam separadamente perante o amplo espaço cósmico. Assim, se tornamos os efeitos invernais de uma região, os efeitos estiveis de uma outra região em sua simultaneidade, eles se dispersam, eles portanto, não se enfraquecem, não se atrapalham mutuamente em sua existência.

No entanto no ser humano á assim que, quando ela está dormindo, o seu corpo físico e também o seu corpo estão em uma espécie de estado estival, em uma vida que germina, que brota. A evidencia espiritual mostre-nos, no caso do sono, quando o eu e o corpo astral estão separados dos corpos físicos e etérico, este estado estival dos corpos físico e etérico que germina e brota. Pode-se dizer que, enquanto o ser humano dorme, lá sucessivamente uma espécie de estado primaveril e estivel em seu organismo físico – etérico abandonado. Porém, seu corpo astral e seu eu, que continuam numa ação recíproca com este organismo humano total, ao mesmo tempo estão numa espécie de estado invernal, nas que eles confluem, que portanto não desviam um do outro. O mesmo se dá no estado físico e etérico encontram-se numa espécie de estado outonal e invernal. Em contraposição, estimulados pelas impressões do ambiente, estimulados pelos pensamentos que o ser humano desenvolve a respeito deste ambiente, o corpo astral e a organização do eu estão em pleno estado estival ou primaveril. Também neste caso, a primavera interior, o verão interior e o inverno interior atuam conjuntamente, não desviam um do outro, porem irradiam-se mutuamente.

É isto que realmente resulta para pesquisa cientifico – espiritual. De certo modo, se quiséssemos comparar a totalidade da Terra com o ser humano com relação aos processos do inverno e do verão, teríamos que virar os dois hemisférios opostos. No ser humano é assim como se deixássemos o verão de uma dos hemisférios cair diretamente sobre o inverno do outro hemisfério através de uma virada da Terra. Porém, através disso, de fato surgiria algo, que poderá ser caracterizado dizendo-se: os efeitos invernais, levando uma espécie de estado de equilíbrio. Isto é um resultado muito importante, ao qual a ciência exterior até agora não chegou. Por isso, no fundo, ela não pode reconhecer a natureza que vive essencialmente no ser humano. Mo ser humano o atuar da natureza é, de fato, assim, que inverno e verão se assim posso expressar-me, pois estes termos referem-se realmente a um acontecimento justificável, que estados de verão e inverno anulam-se mutuamente.

De fato, o ser humano carrega dentro de si a natureza que o rodeia, porém os efeitos anulam-se mutuamente e sobrevém um estado que, no fundo, realmente acalma a atuação da natureza no ser humano. Tal como numa balança, quando ambos os lados são carregados com pesos, no meio do travessão há um ponto de repouso, sobre o qual não atua nem a geração de forças do lado direito, nem a do lado esquerdo, há um estado de equilíbrio relativo àquilo que de outro modo atua sobre o travessão. No ser humano há realmente um equilíbrio dos efeitos antagônicos da natureza.

Quem observar o ser humano trimembrado, assim como o esbocei no suplemento do meu livro “Dos enigmas da alma”, quem realmente o observar com exatidão, como hoje ainda não se está acostumado a fazê-lo, de fato irá encontrar o seguinte: dividimos o ser humano em uma organização neuro-sensorial, uma organização rítmica a uma organização metabólica-motora.

Estas três organizações atuam uma dentro da outra. Pode-se dizer que a organização neuro-sensorial atua principalmente na cabeça; mas todo o ser humano é, em um certo sentido, funcionalmente outra vez cabeça. O mesmo se passa com outros sistemas, a organização rítmica, a organização metabólico-motora.

Podemos representar o ser humano esquematicamente da seguinte maneira, se levarmos em consideração sua entidade trimembrada. Temos, pois, a organização neuro-sensorial, e organização rítmica e a organização metabólico-motora.

 

 

(desenho 1)

 

 

 

Se tomarmos os dois sistemas organizacionais externos, a organização neuro-sensorial e a organização metabólico-motora, de fato há uma oposição entre ambas que se mostrem nitidamente a uma anatomia e uma fisiologia cientifico-espirituais. Por exemplo, quando andamos, temos um movimento em nosso organismo motor, que é até um movimento no espaço. A este movimento corresponde um repouso em determinada parte da nossa organização neuro-sensorial, em determinada parte da nossa organização cerebral, na mesma proporção em que a organização motora está em movimento. Eu lhes pelo fazerem a tentativa de antecederem isto corretamente. Eu disse “na mesma proporção em que está em repouso”. Geralmente considera-se “repouso” um conceito absoluto. Quem senta, está sentado e não se faz uma diferenciação entre estar sentado com mais ou menos intensidade. Para a vida comum isto, num certo sentido até que está certo. Aí estas coisas não diferenciam-se muito umas das outras.

Porém com a nossa organização neuro-sensorial, isto é diferente. Quando corremos mais depressa com nossa organização motora, então há uma certa tendência ao repouso, como querer estar em repouso, é mais forte do que quando andamos devagar. E a tudo que se passa em nossa organização motora, mas também aquilo que se passa em nossa organização metabólica, quando, por exemplo, os sucos alimentares percorrem seu caminho através do movimento dos intestinos, corresponde uma tendência de repouso em nosso organismo neuro-sensorial. Isto também se expressa exteriormente. A cabeça, que é a sede principal do organismo neuro-sensorial, com relação À nossa organização motora é, no fundo, uma preguiçosa. A cabeça comportasse aproximadamente como alguém que senta comodamente em uma carruagem, e deixa-se levar pelo cavalo. Esta pessoa fica em repouso. Assim, nossa cabeça sente-se repousando sobre o resto do nosso organismo. Ela não se interessa sequer, quando eu, por exemplo, gesticulo com os braços. Aí o gesticular com meu braço esquerdo causa uma tendência de repouso no hemisfério direito da minha cabeça, quando gesticulo com o braço direito isto causa uma tendência de repouso no hemisfério esquerdo da minha cabeça. E através desta tendência de repouso, torna-se possível acompanharmos nossos movimentos com pensamentos.

Está completamente errado, quando uma cosmovisão materialista porventura acha que representações dependem de movimentos dos nervos. Ao contrário, elas dependem, quando se trata de representações de algum movimento no espaço, das tendências ao repouso do sistema nervoso. O sistema nervoso acalma-se, chegando até a abafar a sua atividade vital; os pensamentos penetram nesse repouso, tornam-se reais. Quem consegue observar de modo cientifico-espiritual o que se passa no pensar, no representar do ser humano, jamais poderá tornar-se materialista, pois sabe que na mesma medida em que os pensamentos tornam-se móveis e ativos como substância anímico-espiritual, justamente os nervos acalmam-se até perdem sua intensidade, chegando mesmo a paralisar-se. Através do cessar da atividade material, o sistema nervoso deve dar lugar ao anímico-espiritual dos pensamentos. É exatamente nessas coisas que vemos porque nós temos um materialismo. Temos um materialismo desde a época em que a ciência na conhece a matéria. É característico da ciência materialista, que ela não tem  idéia da essência dos processos materiais e inventa uma porção de coisas que não estão aí.

Já podemos ver então, como no ser humano existem condições opostas, que, no entanto, tendem a um equilíbrio. Da mesma forma como no verão há efeitos da natureza opostos às circunstâncias invernais, assim também no organismo humano distribuem-se efeitos opostos que, porém, mantém um equilíbrio mútuo. Porém, somente estaremos pensando de modo correto sobre estes efeitos opostos que se mantêm mutuamente em equilíbrio, se ainda desmembrarmos o ser humano do seguinte modo. Se dividirmos em duas partes o seu sistema central, seu sistema rítmico, então distinguiremos essencialmente (não é bem exato) o ritmo de respiração e o ritmo da circulação sanguínea e então falamos de um sistema rítmico central superior e um sistema rítmico central inferior, há aquela parte do ser humano que mais tende para o equilíbrio, por estar perpassada, influenciada, impressionada de modo polar por efeitos naturais vindos de cima e de baixo.

 

(desenho 2) 

 

 

Portanto, se eu quiser acrescentar ao meu desenho esquemático o fato dos efeitos da natureza opostos no ser humano, então devo complementar o desenho das seguintes maneiras (vermelho): na parte superior deste oito eu tenho delineado esquematicamente os efeitos da natureza que estão em direção oposta aos efeitos da natureza que delineei na parte inferior do oito.

Assim, de certo modo, o ser humano divide-se em duas metades, uma em cima e uma embaixo. A parte de cima engloba o sistema neuro-sensorial, que naturalmente se estende sobre todo o ser humano. O desenho é esquemático. Às vezes devemos procurar o “em cima” no dedão do pé, porque lá também há órgãos sensoriais. Portanto, o desenho é esquemático, porém os senhores facilmente conseguirão imaginar este desenho esquemático aplicando à realidade. Devo, portanto, representar-me como um lado do sistema neuro-sensorial e, pertencendo a ele, essencialmente, o sistema respiratório, como do outro lado, o sistema circulatório e o sistema metabólico-motor têm efeitos naturais opostos. Eles suprimem-se mutuamente.

O órgão do ser humano, no qual tem lugar a compunção, no qual, de fato, é visado o equilíbrio de baixo para cima e de cima para baixo, é o coração humano. Ele não é uma bomba no sentido da fisiologia moderna, que bombeia o sangue através do corpo. Representa o órgão do equilíbrio entre os sistemas superior e inferior do ser humano. De modo que também no organismo físico externo do ser humano expressa-se aquilo que nele é realizado espiritualmente: no fato de que nele sempre efeitos estivais e invernais anulam-se simultaneamente.

Em qualquer região da Terra só pode ser inverno pelo fato de não ser verão ao mesmo tempo, senão o verão levaria o inverno para um estado de equilíbrio, ou seja, não haveria verão nem inverno, mas um estado de equilíbrio. O ser humano em si é um pedaço de natureza, mas devido ao fato dos efeitos da natureza no ser humano estarem mutuamente dirigidos em sentido oposto, eles anulam-se e o ser humano é, como se ele não fosse da natureza. Mas por isso o ser humano é uma entidade livre. Não se lhe pode aplicar as leis da necessidade natural e sim dois efeitos naturais mutuamente orientados em direção oposta, e estes anulam-se no ser humano. E neste âmbito dos efeitos da natureza que se anulam, está então o anímico-espiritual do ser humano, independente dos efeitos da natureza, e que deve ser reconhecido a partir de suas próprias leis. Daí os senhores podem ver como vamos chegar à abrangência fundamental da observação, quando queremos entender o ser humano e como, na verdade, a mera aplicação das leis da natureza exterior, que sempre estão orientadas para uma única direção, não é admissível para o ser humano.

Agora porém, depois que de um lado colocamos diante de nossa alma a verdadeira entidade humana, observamos as conseqüências que isto tem. Somente chegamos a conhecer o ser humano, quando o observamos do seguinte modo: ele carrega dentro de si um pedaço da natureza, de modo que os efeitos naturais opostos se anulam. Se, no entanto, vamos conhecer este pedaço de natureza através da observação cientifico-espiritual, então, para o estado de sono do ser humano, com relação aos corpos físico e etérico, isto se apresenta como perpassado de efeitos minerais e vegetais que, se olharmos apenas para aquilo que nosso ser humano dorme, fica para trás na cama, representa o estado estival. Somente agora, no entanto, pelo fato de podermos observar corretamente esta vida que germina e brota, podemos conhecer seu verdadeiro significado. Quando germina quando brota? Quando o eu e o corpo astral não participam, quando o eu e o corpo astral estão fora durante o sono. E da onde vem o germinar e brotar? Isto se torna evidente através da observação cientifico-espiritual.

 

(desenho 3) 

 

Se eu quisesse desenhar-lhes isso esquematicamente, teria que fazê-lo do seguinte modo. Este seria o esquema do ser humano dormindo (claro, verde, amarelo, vermelho). A linha inferior claro verde são os corpos físico e etérico deitados na cama, que para a observação cientifico-espiritual se mostram como solo, como mineral do qual brota a vida vegetal. Naturalmente ela se mostra como outra forma, mas reconhecível para a observação cientifico-espiritual. Acima arde qual uma chama, que não consegue aproximar-se, o eu e o corpo astral, representado pela linha amarelo-vermelha, que está acima. De certo modo, quando observamos o ser humano em seu sono, temos então na cama um pedaço de solo germinando e brotando e a ele pertencente, mas separados, o astral e os ardentes.

Como é na vigília? Ai eu teria que estruturar o esquema do seguinte modo (claro, vermelho, verde, amarelo): mineral, vegetal murchando sucumbindo e o astral e eu como que queimando este mineral e vegetal, como que enviando chamas para dentro deles. Portanto, temos aí o ser humano acordado tendo em si o anímico e o vegetal desmoronando, o vegetal murchando. O mineral desmorona no ser humano durante a vigília. A atuação vegetal dá a impressão, mesmo que não tenha exatamente essa aparência, qual árvore no outono, como as folhas das árvores pendentes murchando, tudo fenecendo, diminuindo, mas como que permeado por chamas, pequenas chamas que ardem que põe em brasa. Estas chamas e chaminhas que ardem e põem em brasa são o corpo astral e o eu que vivem nos corpos físico e etérico. E surge então a pergunta:sim, e como é que é então com o arder flamejante durante o sono, ande ele está no eu e no corpo astral, separados dos corpos físico e etérico?

Se nos aproximarmos disso com a pesquisa cientifico-espiritual e conseguirmos isso através do confronto de diversas exposições que dei ao longo do tempo, que de certa forma no permitem chegar a essa conseqüência, então chegamos ao seguinte. Aquilo que inicialmente, expele principalmente, o flamejar e arder do eu e o corpo astral e que depois estimula a vida vegetal do corpo físico estival que dorme germinado e brotando, como também o mineral, que desenvolve em si uma espécie de vida, aquilo que causa que as partículas, o atomizante do mineral do corpo físico, tenha a aparência de como se os átomos fossem dissolver-se, de como a partir desse todo se formasse uma massa mineral liquido aérea, continuamente móvel em si, ativa, permeada de vida germinate – o que é pois esta força interior que ocasiona isso? Bem, aquilo que vibra lá dentro, enquanto dormimos nos corpos físico e etérico, é a repercussão da onda da nossa vida anterior À existência terrestre. Esta nós paralisamos durante nossa vida vígil.

Quando este cintilar flamejante do corpo astral e do eu tornam-se unos com os corpos físico e etérico, então levamos ao repouso aqueles estímulos que durante o sono presentes, vindos de uma vida pré-natal. É só agora aprendermos, atreves daquilo que aprendemos sobre nós mesmos, de olhar para a natureza exterior de maneira correta, de modo que dizemos: tudo que na natureza exterior atua como leis naturais, como forças naturais na vida mineral e vegetal isto é igual àquilo que em nós é vida mineral e vegetal durante o sono, é vida estival, germinante e brotante. Isto significa que, do mesmo modo como nós, ao observarmos nosso corpos físico e etérico adormecidos, somos reportados ao nosso passado, à vida espiritual que tivemos em nossa existência pré-natal, assim a natureza exterior, com quanto é mineral e vegetal, nos indica o passado.

Se quisermos entender corretamente as forças naturais e as leis naturais atuantes da natureza que nos circunda, exceptuando o animal e o físico humano, então devemos dizer: as leis naturais e as forças naturais remetem-nos para o passado da Terra, para o parecer da Terra. Portanto, quando pensamos a respeito da natureza exterior, então estes pensamentos dedicam-se ao elemento da existência terrestre que está parecendo. Se esta existência terrestre deve ser novamente vivificada, ter em si impulsos futuros, então isto só poderá acontecer do mesmo modo como ocorre no ser humano, ou seja; através do fato que algo anímico e espiritual seja introduzido no mineral e vegetal. O anímico se introduz nos animais, o espiritual no ser humano.

Com isto, porém, toda a entidade do cosmo, de fato, divide-se em dois membros. Olhamos para fora, para dentro da natureza exterior e à medida que ela é da espécie mineral e vegetal (e é principalmente isto que está na natureza exterior), só podemos compará-la com os nosso corpos físico e etérico quando dorme. Quando olhamos para os efeitos físicos exteriores, então devemos dizer que destes efeitos físicos. Pois quando olhamos para os efeitos físicos ligados à alimentação dos seres, então devemos dizer: a alimentação começa com a ingestão de matérias, minerais e vegetais. O animal continua a digeri-las com a alimentação para o ser humano. Mas inicialmente, tudo que é natureza exterior, com seus efeitos físicos exteriores e também etéricos, depende de uma entidade dessas, que encontramos em nosso organismo físico etérico. Mas aquilo que temos dentro de nós como eu e organismo astral, aquilo que, por exemplo durante a vigília ( onde o organismo físico e etérico se encontram em seu sono invernal, se assim posso expressar-me, pois isto é um paradoxo em relação à realidade, como os senhores podem sentir) encontra-se em estado estival, estimulado pelos efeitos sensoriais externos e pelos pensamentos que através deles se formam, isto cria um equilíbrio com o estado invernal dos corpos físico e etérico.

Mas que põe  à obra num sentido cientifico-espiritual, encontrará (se bem que aquilo que ele deve imaginar como sendo concomitante no ser humano, no decurso anual das estações está separado) que ao estado invernal da Terra corresponde um estado estival, um estado invernal espiritual. Só que estes não formam um estado de equilíbrio na Terra, mas que se manifestam no hemisfério oposto, de modo que na Terra é assim, que o estado invernal físico é fortalecido pelo estado invernal anímico-espiritual, o estado estival físico é fortalecido pelo estado estival espiritual. Com isto está indicado o fato de que, assim como o ser humano carrega em si o seu passado e seu presente.

No fundo, com relação à atividade e às leis que o permeiam durante a vigília, temos o presente apenas em nosso corpo físico. Temos a atuação do passado, um passado vivido no âmbito espiritual, no organismo físico e etérico no estado de sono. Também vamos encontrar correspondente na natureza mineral e vegetal presente, que atua sobre nós: no fundo são os resultados da existência passada e que se tornam presente apenas pelo fato da Terra estar envolvida pelo anímico-espiritual, assim como o ser humano é penetrado pelo anímico-espiritual. E no presente já o germe para o futuro.

Mas se for verdade, e o que lhes expus, é verdade, que no organismo físico e etérico temos efeitos do passado justamente quando está independente da atividade anímico-espiritual, então podemos procurar os efeitos que atuam em direção ao futuro apenas no nosso eu e no nosso corpo astral, mas também para a Terra só podemos procurar o futuro no espiritual.

O homem chegou hoje ao ponto de ter acrescentado o organismo físico e etérico o eu e o corpo astral através de evidentes poderes elementares. Os mundos terrestre mineral e vegetal ainda não acrescentaram isto. Eles evolvem a Terra anímica e espiritualmente, mas eles não penetram o modo de atuar mineral e vegetal da Terra. A entidade mineral da Terra mostra-se, assim como a temos perante nós, como algo que não permite o espírito e a alma de penetrá-los, mas que apenas se deixa circundar pelas chamas e envolver pelo espírito e pela alma.

A natureza vegetal apresenta-se de tal modo que também não permite a entrada do anímico, mas que em suas partes superiores, de certo modo eu diria, todo o anímico-espiritual. Pois para a pesquisa cientifico-espiritual, na planta apresenta-se o seguinte: se em baixo tenho a raiz, no meio o caule e em cima a flor da planta, então devo encarar a flor de tal modo , que na flor, a planta que aspira para cima, toca o astral que não a penetra, mas a toca. A flor surge pelo fato de ocorrer um contato entre a parte superior da planta e o astral que envolve a Terra. Por diversas vezes expressei isto através de uma comparação, que naturalmente deve ser entendida decentemente, de que o florescer da planta é essencialmente o beijo que o sol, a luz do sol, troca com a planta. Isto é um efeito astral, que porém é um mero contato.

Quando então olhamos para a natureza que nos rodeia, não vemos no elemento mineral, na planta, diretamente a mesma coisa que vemos em nós como seres humanos. Em nós, como seres humanos, vemos relacionadas uma natureza mineral, uma natureza vegetal, uma natureza astral e uma natureza do eu. Por ora teremos que descontar os animais. Futuramente ainda falaremos sobre eles. Mas devemos encontrar no mundo mineral e vegetal aquilo, do qual os efeitos físicos dependem essencialmente. Este mundo, eu diria se nos apresenta na natureza exterior despojada do pensamental-anímico e daquilo que é vivência do eu: o sentido do espírito auto-consciente. Estes não estão fora, não estão no elemento mineral nem no elemento vegetal. O elemento mineral e o elemento vegetal são, no fundo, resultados do passado.

Quem observar corretamente na Terra o solo mineral, a planta que brota, deve dizer perante a vida terrestre: em vocês formas cristalinas, em vocês formações montanhosas, em vocês, plantas que germinam e brotam, vejo os monumentos daquilo que foi criativo, o criador de vida, e que está parecendo, aquilo que emana com força da existência pré-natal e que no corpo físico e etérico está sendo paralisado e perecendo – vemos o organismo físico e etérico impregnado por aquilo que brilha em direção ao futuro a partir da entidade astral e do eu, aquilo que se desenrole livremente no ser humano como vida pensante e representativa, na posição de equilíbrio dos efeitos da natureza.

De certo modo, no ser humano vemos passado e futuro lado a lado. Quando unimos para dentro da natureza, na medida em que ela é mineral e vegetal, vemos mero passado. Aquilo que no ser humano já atua como futuro no presente, exatamente isso lhe dá a entidade da liberdade não existe na natureza exterior. Se a natureza exterior estivesse condenada a permanecer assim como é através do seu reino mineral e vegetal, então também estaria condenada a morrer, assim como o mero organismo físico e etérico do ser humano parece perece no cosmo. O organismo físico e etérico morre, o ser humano não morre, porque as entidades astral e do eu nele não carregam em si a morte e sim o vir a ser, o nascer.

Para que a natureza exterior não mora, tem que lhe ser dado aquilo que o ser humano possui através do seu corpo astral e do seu corpo do eu. Isto significa, que através do seu corpo astral e do seu corpo do eu ele tem representações auto-conscientes. Assim, se o ser humano quiser garantir o futuro da Terra moribunda, ele deve colocar no mundo a mesma coisa, que nele é suprasensível e invisível, a reencarnação numa próxima existência terrestre, ele não pode esperar que isso lhe venha do seu corpo físico e corpo etérico moribundo, assim também não pode surgir um futuro da Terra a partir daquilo que é globo terrestre mineral e vegetal que nos envolve. Apenas se conseguirmos colocar algo neta Terra que ela não tem, é que poderá surgir a Terra futura. Mas aquilo que não existe de por si na Terra são, em primeiro lugar, os pensamentos ativos do ser humano que engendram e vivem em seu organismo natural autônomo, independente do seu estado de equilíbrio. Realizando estes pensamentos autônomos, ele dá à Terra o futuro. Mas para isso, primeiro ele mesmo terá que ter estes pensamentos autônomos, pois todos os pensamentos que tecemos a respeito daquilo que está moribundo no conhecimento da natureza comum, são pensamentos espelhados, não são realidades. Os pensamentos que escolhemos da pesquisa espiritual são vivificados em imaginação, inspiração, intuição. Se nós os acolhermos, então são formações autônomas existentes na vida da Terra.

Em meu livrinho sobre a teoria do conhecimento da cosmovisão de Goethe eu pude dizer o seguinte a respeito desses pensamentos criativos: este pensar representa a forma espiritual da comunhão da humanidade. Pois, ao se entregar aos seus pensamentos espelhados sobre a natureza exterior, o ser humano apenas deseja o passado, vive em cadáveres do divino. Ao vivificar ele próprio  os pensamentos, ele une-se através de sua própria entidade, comungando, recebendo comunhão, com o divino-espiritual que penetra o cosmo, garantindo o futuro do mesmo.

Assim o conhecimento espiritual é uma verdadeira comunhão, o inicio de um culto cósmico adequado à humanidade do presente. Este culto pode então crescer pelo fato de o homem agora perceber como ele perpassa seu organismo físico-mineral e vegetal com a sua organização astral e do eu; como ele, pelo fato dele, tornar vivo o espírito em si mesmo, agora também cativa o espírito em si mesmo, agora também cativa o espírito naquilo que de outro modo o envolve como algo morte, moribundo.

Aí então o ser humano vivencia que, olhando para o seu organismo, o atuante em estado sólido, ele neste sente-se unido ao mundo estelar, à medida em que ao mundo estelar é um ser em repouso, por exemplo, nas constelações zodiacais, com relação à Terra, ele comporta-se calmamente no espaço cósmico através do seu organismo físico. Porém, ao fazer fluir para dentro dessas configurações o seu anímico-espiritual, ele mesmo transforma o cosmo.

O ser humano é igualmente atravessado por um fluxo de humores. Nestes já vive o organismo etérico. Aquilo que faz com que o sangue circule em nós, que põe em movimento os humores, é o organismo etérico. Com este organismo etérico o ser humano está em contato, eu diria, com os atos estelares, com os movimentos dos planetas. Exatamente como as constelações do zodíaco atuam sobre a forma do organismo humano ou ela estão relacionadas, assim o fluxo humoral está relacionado aos movimentos planetários do sistema planetário ao qual pertencemos.

Mas visto diretamente, isto é um cosmo morto. O ser humano o transforma a partir do seu próprio elemento espiritual, quando ele o comunica ao cosmo, vivificando os pensamentos até a imaginação, inspiração, intuição, realizando assim a comunhão espiritual da humanidade.

É disso que o ser humano deve ter consciência em primeiro lugar. Esta consciência deve ser mantida cada vez mais viva e ativa e então o ser humano encontrará mais e mais o caminho para esta comunhão espiritual.

Hoje pretendo dar-lhes apenas uma base, participando-lhes inicialmente aquelas palavras que, se a deixarmos atuar de modo correto sobre a alma, se a vivificarmos sempre novamente na alma, de modo a vivenciarmos na alma seu sentido pleno, seu destino móvel, vão fazer surgir na alma algo, através do qual o morto no mundo, com o qual o passado é vivificado, para que do seu estado morto possa vir a ser relacionamento com o cosmo do seguinte modo. Vou anotar uma primeira fórmula que nos leva nesta direção.

Aproxima-se de mim na atuação terrestre

- represento-me a matéria terrestre que assimilo com aquilo que forma a configuração sólida do meu organismo.

Aproxima-se de mim na atuação terrestre.
Dada a mim na imagem da matéria.
A entidade celestial das estrelas.

É assim, que quando olhamos para qualquer formação da Terra, que acolhemos como nosso alimento, nós nele temos então uma imagem dos agrupamentos estelares fixos. É isso que acolhemos em nós a entidade estelar, a entidade estelar, a entidade celeste através da matéria da Terra, que está contida na atuação terrestre. Mas devemos ter consciência de que, como seres humanos, retransformamos em espírito, no nosso querer, no nosso querer perpassado de amor, aquilo que se tornou matéria da Terra, que está contida na atuação terrestre. Mas devemos ter consciência de que, como seres humanos, retransformamos em espírito, no nosso querer, no nosso querer perpassado de amor, aquilo que se tornou matéria; que realizamos uma verdadeira transubstanciação, quando temos consciência de estarmos dentro do universo, de modo que a vida pensamental-anímica se torna viva dentro de nós.

Aproxima-se de mim na atuação terrestre,
Dada a mim na imagem da ateria,
A entidade celestial das estrelas:
Vejo-as transformarem-se amorosamente no querer.

E se pensarmos naquilo que assim ingerimos, de modo que perpasse a parte líquida do nosso organismo, a atuação dos humores, a circulação sangüínea, então, desde que provenha da Terra, isto é uma imagem, agora não da entidade celeste ou da entidade estelar, mas das ações das estrelas, ou seja, dos movimentos dos planetas. E posso tornar-me consciente, como aí espiritualizado isto, quando me coloco corretamente no cosmo através da formula seguinte:

Penetram em mim na vida aquosa,
Formando-me na força poder da matéria
Os atos celestes das estrelas

Isto significa as ações dos movimentos dos planetas. E agora:
Vejo-os transformarem-se sabiamente no sentir.
Enquanto posso ver a entidade e o engendrar das estrelas no querer, transformando-se, sabiamente, aquilo que me é dado aqui na Terra, ao acolher a imagem dos atos celestes através daquilo que perpassa meu organismo humoral. Assim colocado, o ser humano pode vivenciar-se querendo e sentindo. Entregue ao domínio universal da existência cósmica, ele pode vivenciar aquilo, que através dele é realizado no grande templo do cosmo, como transubstanciação, sacrificando, encontrando-se dentro dele de modo puramente espiritual.

O que seria apenas conhecimento abstrato torna-se uma relação de sentimento e vontade com o cosmo. O cosmo torna-se um templo, o universo torna-se a casa de Deus. O ser humano cognitivo, elevando-se no sentir e querer torna-se uma entidade sacrificante. A relação fundamental do ser humano para com o cosmo eleva-se do conhecer para um culto cósmico. Que tudo aquilo que é nossa relação para com o cosmo, primeiramente se reconheça no ser humano como culto cósmico, isto é um primeiro inicio daquilo que deve acontecer, se a antroposofia deve realizar sua missão no cosmo.

Isto é o que eu lhes queria dizer como um início. Na próxima sexta-feira continuarei isto que é a essência do cúltico em relação ao conhecimento da natureza. Hoje eu queria dizer especialmente isto. Direcionei esta palestra para o dia de hoje, a fim de que viesse à tona este conteúdo, pois acho que assim, quando novamente surge perante nossa alma aquela entidade do tempo que nos é dada pela translação anual, quando uma translação anula se completa, pelo menos para a observação exterior, para a vivência exterior, nos venha à consciência como deve configurar-se nossa relação para com o tempo, como devemos procurar o futuro a partir do passado, como devemos saber atuar para o futuro a fim de criar o espiritual.

Esta tarde, uma das poesias recitadas iniciou assim: cada novo ano encontra novas sepulturas. Isto é profundamente verdadeiro! Mas tão verdadeiro também é: cada novo ano encontra novos berços. Como encontrão passado, também encontra o futuro. Hoje depende principalmente do ser humano, captar este futuro, pensando que esta vida germinante e brotante, que se nos depara exteriormente, contém em si a morte, mas que devemos procurar a vida a partir de nossa própria energia. E cada renovação anual nos é um símbolo para isto. Mesmo que com razão de um lado olhamos para as sepulturas, olhamos do outro lado para a vida que se renova, que aguarda receber em si o germe para o futuro.