Textos Rudolf Steiner
A Festa de Natal como Símbolo da Vitória do Sol
Conferência de Natal de Rudolf Steiner
Berlim, 14 de Dezembro de 1905
Tentemos imaginar quantas pessoas hoje em dia conseguem despertar uma idéia mais profunda e clara em suas almas quando vão pelas ruas e vêem em todas as partes os preparativos para a festa do natal. A pouca clareza das idéias que existe atualmente sobre esta festa, e o pouco que corresponde aos propósitos daqueles que a implantaram no mundo como expressão do infinito e imperecível, pode ser sentida quando dirigimos o olhar para as assim chamadas considerações sobre o natal de nossos jornais. Não pode existir algo mais desolador e mais estranho À realidade do tema do que aquilo que vai pelo mundo através da imprensa nesta época.
Deixemos agora passar pelas nossas almas uma espécie de resumo daquilo que as varias conferências do outono nos trouxeram a respeito do horizonte da ciência espiritual. Não se tratará de um resumo pedante, mas sim daquele que pode emergir dos nossos corações quando fazemos, sob o ponto de vista da ciência espiritual, uma ponte para a festa de natal, que pode oferecer se contemplarmos a concepção de vida da ciência espiritual, não como uma teoria cinza, como uma confissão exterior, ou como filosofia, mas sim como vida que lateja de forma imediata em nós. O homem moderno encontra-se frente à natureza como um estranho, mais estranhamente ainda do que aquele no tempo de Goethe. Ou quem sente hoje a profundidade daquelas palavras pronunciadas por este grande poeta, quando chegou aos círculos de Weimar, iniciando ali uma época extraordináriamentre importante de sua vida? Nesse tempo ele dirigiu à natureza com suas forças misteriosas, um hino, uma espécie de oração:
"Natureza, por ela estamos envolvidos e abraçados – incapazes de sairmos dela e incapazes de nela entrarmos mais profundamente. Sem nos pedir nem nos advertir, toma-nos no círculo de sua dança e nos leva até cansarmos e cairmos de seus braços.
Eternamente cria novas formas; o que aí está nunca esteve, o que esteve nunca voltará – tudo é novo e, mesmo assim, sempre é velho.Vivemos no meio dela e lhe somos estranhos. Fala conosco ininterruptamente e não nos revela o seu mistério. Constantemente agimos sobre ela e mesmo assim não a dominamos.Parece que ela baseou tudo na individualidade e não liga para os indivíduos. Sempre constrói e sempre destrói, e a sua oficina de trabalho é inacessível. Vive em inúmeras crianças, e a mãe, onde está? É a artista única: da mais simples substancia aos maiores contrastes; sem sinal de esforço até a maior perfeição – até a máxima exatidão, mas sempre envolta com algo suave. Cada uma de suas obras tem sua própria essência; cada manifestação sua tem o conceito mais isolado possível. Todavia, tudo é irradiado de uma unidade. Apresenta uma obra teatral: se ela mesma a vê não sabemos, mas mesmo assim ela nos apresenta, para nós que somos tão pequenos. Há um eterno devir, movimento e vida dentro dela, e mesmo assim não avança. Transforma-se eternamente e nela não existe momento de repouso. Não tem um conceito para o permanecer, e colocou sua maldição em todo repouso. Ela é firme, seu passo é comedido, raras as suas exceções, imutáveis as suas leis..."
Todos nós somos seus filhos. E quando cremos agir ao mínimo de acordo com as suas leis agimos talvez ao máximo de acordo com essas grandes leis que impregnam a natureza e ao homem, lá onde Goethe fala com ela não com um espírito vivo:
“Espírito sublime, tu me deste, deste-me tudo o que te pedi. Não me dirigiste em vão tua face no fogo.
Deste-me a magnífica natureza como reino,
Força para senti-la e gozá-La. Não
Apenas permites uma fria visita admirada,
Quando me deixas olhar no seu peito profundo,
Como no seio de um amigo.
Deslizas a fileira dos viventes
Diante de mim e me ensinas a conhecer os meus irmãos
Na tranqüila floresta, no ar e na água.
E quando ruge e ressoa a tormenta no bosque,
E os pinheiros gigantes caindo derrubam e esmagam troncos e galhos
Vizinhos, e a sua queda estrondeia ecoando na colina,
Tu me levas a uma caverna segura,
E me revelas então a mim mesmo,
E se abrem os profundos e secretos milagres do meu próprio peito”
Esta é a atmosfera por meio da qual Goethe, partindo de seu sentimento de natureza, tentou reativar do que surgiu simultaneamente do sentimento e do conhecimento. E esta é a atmosfera nas épocas em que a sabedoria vivia unida com a natureza, onde foram criados aqueles símbolos do sentir-se com a natureza e o universo, que do ponto de vista da ciência espiritual, reconhecemos como as grandes festas. Para a alma e o coração tal festa tornou-se algo abstrato e indiferente.
Hoje em dia, muitas vezes, a palavra pela qual podemos brigar, acreditar, vale muito mais do que essa palavra originalmente representava. A palavra, esta literal e exterior palavra, devia ser a representante, a anunciação, o símbolo da palavra cósmica, que vive na natureza e em todo o universo, e que revive em nós quando nos reconhecemos de uma forma certa, e também naquelas ocasiões, que seguindo o caminho da natureza, é especialmente apropriada, que deve ser levada à consciência da humanidade. Esse era o propósito na instituição das grandes festas. Tentemos agora utilizar nossos conhecimentos, tudo aquilo que tentamos compreender no decorrer das conferências até agora, para entendermos o que os antigos sábios expressaram na festa de natal.
A festa do Natal não é uma festa apenas cristã. Ela existiu em todos os lugares onde se expressava o sentir religioso. Se vocês olharem para o antigo Egito, milhares de anos antes de Cristo, se vocês atravessarem para a Ásia, e também se vocês saírem de nossas regiões, encontrarão em todas as partes esta mesma festa nos dias em que também se celebra o nascimento de Cristo pelo cristianismo.
Que festa era essa que se celebrava desde épocas muito antigas em todos os lugares da Terra nesses dias? Hoje vamos fazes só uma referência àquelas maravilhosas festas do fogo que eram comemoradas nas regiões da Europa do Norte e Central. Era nesses dias que essa festa era celebrada da Europa central, Escandinávia, escócia, Inglaterra e nos círculos celtas por seus sacerdotes denominados druidas. E o que era celebrado?
Celebravam-se lá o término do inverno e o nascimento sucessivo da primavera. Naturalmente, quando o Natal começa estamos ainda no inverno, porém, na natureza anuncia-se já uma vitória, que para os seres humanos é o símbolo de uma festa de esperança, ou, melhor dizendo, pode ser o símbolo de uma festa de confiança e de fé. A vitória do sol sobre os poderes da natureza que lhe são opostos: eis o símbolo! Sentimos os dias cada vez mais e mais curtos. E este encurtar dos dias é expressão de um esmorecer, de um adormecer das forças da natureza até o dia em que celebramos o natal, e que nossos antepassados também comemoravam.
A partir do Natal os dias tornam-se mais compridos. A luz do sol celebra a sua vitória sobre as trevas. Isso parece-nos hoje, pensando de materialista, muito mais do que supomos, um eventos sobre o qual não refletimos muito. Para aqueles que tinham um sentimento vivo e uma sabedoria unida a esse sentimento, era a expressão viva para uma vivência espiritual, para uma vivência da própria divindade que dirige a nossa vida. Assim como na vida de uma pessoa ocorre um acontecimento importante que decide alguma coisa, naquela época sentia-se essa mudança no decurso do sol como algo importante na vida de um ser superior. Mais ainda: esses dias mais curtos ou mais longos não eram sentidos de forma imediata apenas como a expressão de um acontecimento na vida de um ser superior, mas como sinal da lembrança de algo ainda muito maior, algo único. E com isso chegamos então, ao pensamento fundamental sobre a festa de natal como uma festa cósmica, uma festa da humanidade de primeira ordem.
Nas épocas em que existia uma autêntica doutrina dos mistérios – não como agora onde a visão materialista do mundo nega, mas sim no sentido em que esse ensino dos mistérios águia como a sangria viva da via dos povos – nessas épocas correspondente ao natal, via-se acontecer na natureza algo que era como marco, como um sinal da lembrança de um acontecimento colossal que ocorreu nesta Terra no passado. E os sacerdotes que agrupavam seus mais leais discípulos, aqueles que eram os mestres dos povos, e que os reuniam naqueles dias à meia-noite, tentando revelar-lhes um grande mistério, falando-lhes aproximadamente o seguinte: !Aqui eu não lhes relato algo inventado, ou algo descoberto pelas ciências abstratas, mas sim algo que viveu nos mistérios, nos centros ocultos, nos dias em que os sacerdotes reuniam os fiéis, para com aquilo que diziam, dar-lhes forças para que eles pudessem transmitir esse ensino”, hoje, eles diziam, vemos a vitória do sol se anunciar sobre a escuridão. E assim aconteceu também uma vez nesta Terra. O sol celebrou o grande triunfo sobre a escuridão. Isso aconteceu assim: até aquele momento todo o físico, toda a vida corporal da nossa Terra, tinha se desenvolvido apenas até o nível animal. O que vivia na nossa Terra como reino mais alto estava apenas no primeiro nível de se preparar para receber a imortal alma humana. E que aquele ponto a onda da vida tinha se desenvolvido de tal forma que o corpo humano tornou-se capaz de incorporar em si a alma imortal. Esse antepassado do homem encontrava-se num nível de desenvolvimento superior àquele que supõe os cientistas materialistas. Mas parte espiritual, imortal, ainda não estava nele. Desceu de um outro lugar, de um planeta mais alto para nossa alma, que agora é impossível de perder.
Esse antepassado humano é o que denominados como raça lemúrica. Esta raça foi sucedida pela raça atlântica, e depois apareceu a nossa, que denominamos ariana. Dentro da raça lemúrica os corpos humanos foram frutificados pela alma humana superior. A ciência espiritual chama este grande acontecimento da evolução da humanidade de “a descida dos filhos divinos do Espírito”. Desde aquela época essa alma forma e trabalha o corpo humano para que este tenha um desenvolvimento superior. Bem diferente do que a ciência materialista o imagina (hoje podemos apenas apontar para isso, em outras conferências falei disso detalhadamente, o que deve ser tomado em consideração por aqueles que estão aqui pela primeira vez e que podem olhar essas coisas como algo puramente fantástico) eram as coisas na época em que o corpo humano foi frutificado pela alma humana imortal. Contra a visão materialista dos cientistas, naquela época aconteceu no universo, algo que pertence aos acontecimentos mais importantes da evolução da humanidade.
Naquela época surgiu pouco aquela constelação, aquela posição oposta da Terra, da lua e do sol, que possibilitou a descida das almas. O sol adquiriu para o homem, naquele momento, o significado que ele tem para seu crescimento, para sua evolução na Terra e simultaneamente adquiriu também o sentido que ele tem para as outras criaturas que a ele pertencem: as plantas e os animais. Só quem, do ponto de vista espiritual, vê claramente todo o devir da humanidade na Terra, poderá compreender a relação do sol, da lua e da Terra com o ser humano de uma maneira certa. Havia uma época – assim se pregava nesses velhos tempos – em que a Terra era uma unidade só com o sol e a lua; formavam um só corpo. Os seres tinham forma e aparecia totalmente diferente da atual, estavam adaptados naquela época àquela corpo cósmico constituído em comum pelo sol, pela lua e pela terra. Tudo o que vive nesta Terra adquiriu a sua essência pelo fato de que se separaram em relação exterior com a Terra. E nesta relação temos, ao mesmo tempo, o mistério deste pertencer-se de espírito humano com o espírito universal, o que chamamos na ciência espiritual de Logos e que abrange simultaneamente o sol, a lua e a terra. Dentro dela vivemos, tecemos e estamos.
Da mesma forma que a Terra nasceu de um corpo que abrangia também o sol e a lua, o homem nasceu de um espírito, de uma alma à qual o sol, a terra e a lua também pertencem. Quando o homem olha para o sol e para a lua não deve ver neles apenas o corpo físico exterior, mas sim corpos exteriores de seres espirituais. Naturalmente o materialismo atual se esqueceu disso. Mas quem é incapaz de ver no sol e na lua o corpo de seres espirituais, é incapaz de ver também no corpo do homem, o corpo de um espírito. E assim como é verdade que o corpo do homem abriga um espírito, assim os corpos celestes são os portadores de seres espirituais. A esses seres espirituais pertence também o homem.
Tal como seu corpo está separado das forças que imperam no sol e na lua, da mesma forma atua na sua alma a mesma espiritualidade que reina no sol e na lua. E ao se tornar um ser da Terra e homem ficou dependente daquele modo de agir do sol, no qual ele penetrou como um corpo especial e iluminador da Terra.
Assim se sentiam nossos antepassados como filhos espirituais de todo universo, e se diziam: aquilo que originou em nós a nossa forma espiritual, através do espírito do sol, fez de nós seres humanos. A vitória do sol sobre a escuridão nos faz lembrar, ao mesmo tempo, da vitória quando conquistou as nossas almas, na época em que ele brilhou pela primeira vez, como hoje o faz sobre a Terra. Foi uma vitória solar quando a alma humana imortal entrou no corpo físico sob o signo do sol, adentrando na escuridão das ânsias, instintos e paixões.
Imaginemos a vida do espírito. A escuridão precede a vitória do sol. E esta escuridão deu-se antes de um período solar mais antigo. Assim foi também com a alma humana. Esta surge de uma divindade primordial. Mas ela teve que submergir, por um tempo, na inconsciência para construir dentro dela. Se vocês imaginam um arquiteto que constrói uma morada com as melhores forças que ele possui para habitá-la posteriormente, têm então uma metáfora certa para a entrada da alma humana imortal no corpo humano. Mas naquela época essa alma humana podia trabalhar na sua morada só inconscientemente. Esse trabalho inconsciente é expresso na metáfora pela escuridão. E o tornar-se consciente, o reluzir da alma consciente do homem, se expressa na metáfora da vitória do sol.
Assim, essa vitória do sol significativa, para aquele que tinha um sentimento vivo da relação do homem com o universo, o momento no qual eles tinham recebido o mais terrestre. E importante para a sua existência terrestre. E esse grande momento foi conservado naquela festividade.
Em todas as épocas imaginasse o caminho percorrido pelo homem na terra de tal forma, que ele torna-se mais e mais semelhante ao caminho regular, rítmico, da natureza. Olhemos a partir da alma humana para aquilo onde está encerrada a sua vida, olhemos para o caminho do sol no universo e para tudo o que a ele está relacionado. Então ficar-nos-á claro o que é infinitamente importante sentir: a imensidade rítmica, harmônica, em contraste com o caótico, o desarmônico da própria natureza humana. Olhem para o sol, sigam-no em seu caminho, e verão com quanta regularidade, quão ritmicamente retornam as suas manifestações no percurso do dia e do ano. E verão quão regular e ritmicamente tudo se relaciona ao trajeto do sol no que chamamos de natureza.
Já acentuei que entra os seres inferiores ao homem tudo é rítmico. Imaginem o sol fora de sua órbita por um momento, por uma fração de segundos, e imaginem o caos incrível e indescritível em que entraria nosso universo. O nosso universo só se torna possível através dessa harmonia colossal, gigantesca, na órbita do sol. Com essa harmonias estão relacionados os processos rítmicos de vida de todos os seres que dependem do sol. Imaginem o sol no decorrer do ano, como ele magnetiza os seres na primavera; vejam como é impossível imaginar que a violeta brote numa outra época do ano. Tentem imaginar que as sementes fossem semeadas e as colheitas feitas numa outra época do ano do que aquela em que se faz. Até mesmo na vida animal tudo depende do avanço rítmico do sol. Inclusive no homem tudo é rítmico, regular e harmonioso, desde que ele não esteja submetido às paixões, instintos, ou mesmo à razão. Observem o pulso, o caminho da digestão, e admirem o imenso ritmo, e sintam a grande e infinita sabedoria que impera em toda a natureza e comparam com ela o irregular, o caótico, que impera em toda nas paixões, instintos e avidez, e principalmente na razão e no pensar humano. Tentem imaginar a regularidade do seu pulso e de sua respiração e comparem-na com a irregularidade do pensar, sentir e querer. É uma ilusão de ótica.
E imaginem, por outro lado, como as forças de vida foram criadas, como o rítmico deve imperar sobre o caótico. Quantos ritmos do corpo humano não são rompidos pelas paixões e pela busca do prazer. Quantos vezes já mencionei o maravilhoso que é conhecer o coração pela anatomia cientifica – este órgão do corpo humano tão maravilhosamente constituído e ver o que ele tem de suportar pelo fato do homem consumir chá, café, etc, o que influência as rítmicas e harmoniosas batidas do coração. E assim é com toda essa rítmica, divina e sábia natureza, que foi admirada por nossos antepassados, e cuja alma é o sol com sua trajetória regular.
Enquanto os sábios e seus discípulos olhavam para o sol, diziam: Tu és a imagem daquilo, da alma que contigo nasceu, que ainda não é, mas que ainda deve ser. A ordem divina do cosmos se revelava para esses sábios em toda a sua gloria. A visão cristã do mundo também afirma isso, quando diz que a gloria deve existir nas alturas. A palavra “Glória” significa revelação, e não honra. Não se deve dizer: “Honra a Deus nas alturas”, mas sim “Hoje acontece a revelação de Deus nas alturas”. Esta é a verdadeira realidade dessa frase. E nesta fase pode-se sentir plenamente a Glória que impregna do mundo. Em épocas antigas sentia-se isso da seguinte forma: colocando a harmonia cósmica como grande ideal para aquele que devia ser um guia do resto da humanidade. Por isso, em todas as épocas e em todos os lugares, onde se tinha uma consciência dessas coisas, falava-se de “heróis solares”.
Nos templos, onde a iniciação, diferenciavam-se sete graus iniciáticos. Vou expô-los com o seu nome persa. O primeiro grau era aquele onde o homem saia do sentir cotidiano, chegando a um sentir superior e ao conhecimento do espírito. Tal pessoa essa designada “Corvo”. Por isso, os corvos são aqueles que avisam aos iniciados, nos templos, aquilo que acontecia no mundo. Quando a poesia da sabedoria na idade média queria colocar a figura de um iniciado num senhor feudal, que nas profundezas da Terra devia esperar em meio aos tesouros da sabedoria terrestre, por aquele grande momento onde o cristianismo, aprofundado de uma nova forma, deve rejuvenescer a humanidade, quando a poesia da sabedoria na idade média formou a figura de Barbarossa, fez outra vez com que os corvos fossem os anunciadores. Até o antigo testamento fala do corvo de Elias.
Os iniciados do segundo grau eram os “Ocultos”, os do terceiro os “Guerreiros”, os do quarto os “Leões”; os do quinto grau eram designados com o nome do próprio povo: o “Persa”, ou “Hindu”, etc, pois somente aquele do quinto grau é verdadeiro representante do seu próprio povo. O iniciado do sexto grau era o “Herói do Sol” ou o “corredor do Sol”. O iniciado do sétimo grau tinha o nome de “Pai”.
Por que o iniciado do sexto grau recebia o nome de “Herói do Sol”? Quem tinha chegado tão longe na escada do conhecimento espiritual, teria no mínimo formado dentro de si uma tal vida que decorresse de acordo com o modelo dos ritmos divinos em todo o cosmos. Ele devia sentir e pensar de tal forma que nele não existisse nada de caos, nada de desarmônico ou irregular; ele devia estar preenchido de uma harmonia da alma equivalente à harmonia exterior do sol. Esta era e exigência que se fazia ao iniciado do sexto grau. Eram colocados no mundo como homens santos, como modelos, como idéias, e deles se dizia: assim como seria uma grande desgraça para o universo, se tornasse possível que por um quarto de minuto o sol saísse da sua trajetória, da mesma forma seria uma grande desgraça se um “Heróis do Sol” saísse, ainda que fosse por um momento, do seu caminho de grande moralidade, do ritmo da alma, da harmonia espiritual. Quem havia encontrado no seu espírito um trajeto tão seguro, quanto o do sol no universo, era chamado de “Herói do Sol”. E todos os povos tinham esse heróis do sol.
Os nossos sábios sabem tão pouco dessas coisas” pó certo que eles percebem que ao redor da vida dos grande fundadores das religiões, cristalizam-se muitos mitos solares. Eles não sabem porém, que nas cerimônias de iniciação era costume transformar os heróis-guias em heróis do sol, e que assim na há de maravilhoso quando aquilo que os velhos tentavam colocar nela, ó redescoberto pela pesquisa materialista. Tanto no caso do Buda, e até no caso de Cristo, procurou-se e encontrou-se tais mitos ligado ao sol. E esta é a razão porque foi possível encontrá-los lá. Foram primeiro colocados neles, dando a imagem de uma cópia imediata do ritmo solar. Esses heróis do sol eram então o grande modelo que devia ser imitado.
O que se pensava sobre o que havia ocorrido na alma de tal herói que alcançara essa harmonia? Pensava-se que nele já não vivia mais uma alma humana individual, mas sim que nele havia surgido algo da alma universal que impregna todo o universo. Esta alma universal que impregna todo o cosmos era denominada na Grécia como “Chrestos”, e entre os mais excelsos sábios do oriente era conhecida como “Budhi”. Quando o homem não se sente mais apenas como portador da sua própria alma e vivencia algo de universal nele, então ele cria uma espécie de reprodução daquilo que antiguidade se unia ao corpo humano como alma do sol; com isto ele alcança algo de um significado extraordinário no caminho da humanidade.
Se observamos uma pessoa com uma alma tão enobrecida, podemos colocar ante nós o futuro da classe humana e toda a relação desse futuro com a idéia da humanidade. No estado em que a humanidade hoje se nos apresenta, é impossível imaginar de outra forma que certas coisas só são decididas de tal maneira que as pessoas chegam a uma decisão através de um tipo de maioria são vistas como algo realmente ideal; aí ainda não se compreendem o que realmente é a verdade. Onde vive a verdade real em nós? A verdade vive onde nós nos obrigamos a pensar logicamente. Ou não seria bobagem decidir pela maioria se 2 x 2 é = a 4, ou 3 x 4 é = 12? Quando alguém reconhece o que é verdade, podem vir milhares de pessoas e dizer que é diferente, mas ele conservará em si a sua segurança.
Já estamos tão avançados àquele pensar cientifico, pensar em que já não é mais envolvido com as paixões, desejos e instintos do homem. Onde esses instintos, desejos e paixões também atuam, os homens se encontram em luta, numa confusão, como a vida instintiva em si proporciona um caos turbulento. Mas quando os desejos, instintos e paixões forem purificados e idealizados, a chegarem a ser aquilo que se chama Budhi, de Chrestòs, quando eles forem transformados até a altura em que se encontra hoje o pensar lógico, sem paixões, então se alcançará aquilo que brilha para nós como o verdadeiro ideal da humanidade, nas antigas religiões da sabedoria, no cristianismo, naciencia espiritual antroposófica. Quando o nosso pensar e sentir estiver tão purificado, que aquilo que um sente confere harmoniosamente com aquilo que outros sentem, quando a terra chaga a mesma época para o sentimento e sentir que chegou para a razão uniforme, quando Budhi, o Chrestòs, for personificado na humanidade, aí o ideal dos velhos mestres da sabedoria, do cristianismo e da antroposofia estará realizado. Quando isso acontecer, não será necessário julgar sobre o que é bom ou nobre, como naquilo que reconhecem,os ser logicamente certo ou logicamente errado. Cada um pode colocar diante de sua alma esse ideal, e se faz, tem então diante de si o ideal do “Herói do Sol”, o mesmo que possuem os mestres da sabedoria oculta dos iniciados do 6º grau.
Os místicos na idade média sentiam isso quando falavam uma palavra com profundo significado, a palavra endeusamento ou divinização. Esta palavra existiu em todas as religiões da sabedoria. O que significa isso? Significa o seguinte: Noutra época, aqueles que olhamos hoje como espíritos do universo passaram por um nível que corresponde àquele em que a humanidade se encontra, ou seja, o caótico. Esses espíritos do universo se elevaram para o seu nível divino, no qual as suas manifestações de vida ressoavam harmoniosamente no cosmos. O que hoje nos é revelado como a trajetória harmoniosa do sol durante o ano, no crescer das plantas, na vida dos animais, era antes caótico e lutou para alcançar essa grande harmonia. E no nível em que esses espíritos se encontraram uma vez, está hoje o homem. Ele vai desenvolver-se do caos para uma harmonia futura que será imitada do sol atual, da harmonia universal atual.
E isto é colocado não como uma teoria, não uma doutrina, mas sim como um sentimento vivo em nossas almas, o sentimento natalino antroposófico. Se sentimos autenticamente que nas alturas dos céus aparece a gloria, a revelação da harmonia divina, e sabemos que a revelação dessa harmonia soará alguma vez nas nossas almas, então sentimos aquele outro elemento que surgirá dentro da humanidade através desta harmonia, sentimos a paz, a paz daqueles que têm uma boa vontade. Assim se juntam os dois sentimentos de natal. Olhando dessa perspectiva para a ordem cósmica divina, para a revelação, para a glória nas alturas dos céus, e olhando para o futuro humano, podemos pressentir hoje aquela harmonia que terá lugar na Terra no futuro, naqueles que tenham o sentimento para isso. Quanto mais submerge em nós aquilo que sentimos como harmonia no mundo, tanto mais paz existirá na Terra no futuro, naqueles que tenham o sentimento para isso. Quanto mais submerge em nós aquilo que sentimos como harmonia no mundo, tanto mais paz existirá na Terra.
Assim o grande ideal da paz aparece diante de nossas almas como um sentimento natural dos mais elevados, quando, nos dias de natal, sentimos de forma correta a trajetória do sol dentro da natureza. Sentindo nesses dias o triunfo da luz do sol sobre a escuridão, sentimos a grande confiança que une nossas almas em desenvolvimento com essa harmonia cósmica, então não deixaremos fluir em vão o que vive dessa harmonia cósmica nas nossas almas. Aí vive em nós algo que é harmonia, e na alma se submerge a semente que traz a paz para a terra, no sentido da paz das religiões. E aqueles que têm a boa vontade são os que sentem tal paz das religiões. E aqueles que têm a boa vontade são os que sentem tal paz, aquela paz que vem para a terra quando se alcança o nível da harmonia para a razão uniforme. E então, no lugar das lutas e disputas teremos o amor que impregna tudo, do qual Goethe diz no mesmo hino, que já mencionei que bastam alguns goles cálice do amor para sobreviver sem danos numa vida cheia de esforço.
Por isso, a festa de natal foi uma boa festa de confiança e esperança em todas as religiões da sabedoria, porque nesses dias sentimos que a luz deve triunfar. Da semente semeada na terra surgirá algo que a busca a luz e que crescerá na luz do novo ano. E tal como a semente da planta está submersa na terra amadurece À luz do sol, da mesma forma a verdade divina, a alma divina a verdadeira, está submersa nos abismos da vida de instintos e paixões. Lá embaixo, na escuridão, esta alma do sol divino deverá amadurecer. E assim como é verdade que através da vitória da luz sobre a escuridão é permitido que a semente amadureça, assim é verdade que através da constante vitória, na alma, da luz sobre a escuridão, é permitida a vitória à luz da alma. E assim como é verdade que na escuridão só existe luta e na luz só paz, assim é verdade que surgirá, com uma compreensão certa da harmonia cósmica, a paz cósmica. Esta é a profunda e verdadeira palavra também do cristianismo: Glória nestes dias, revelação nestes dias aos poderes divinos das alturas nos céus, e paz aos homens de boa vontade.
A partir desse sentimento cósmico, a Igreja Cristã decidiu no século IV, colocar festa do nascimento do salvados do mundo nos mesmos dias em que se celebravam o triunfo da luz sobre a escuridão em todas as religiões de sabedoria. Até o século IV, a festa de natal, a festa do nascimento de Cristo era totalmente variável, e só nesse século tomou-se a decisão de colocar o nascimento do Cristo no dia em que sempre foi celebrada a vitória da luz sobre a escuridão.
Hoje não podemos nos ocupar com os sábios ensinamentos do cristianismo, que serão objetos de conferências no próximo ano. Mas, hoje se deve afirmar que nada foi mais certo do que colocar a festa do nascimento desta individualidade divina nessa época em que é oferecido ao cristão a confiança e a esperança de que a sua alma, a sua divindade, logrará a vitória sobre aquilo que é escuridão no seu mundo puramente exterior.
Assim o cristianismo sintoniza com todas as outras religiões mundiais. E quando os sinos de natal ressoam, o homem pode se lembrar de que nestes dias esta festa foi celebrada em todo o mundo. Em todos aqueles lugares em que se compreende o verdadeiro progresso da alma humana na superfície da Terra foi celebrada esta festa, onde se tinha um conhecimento do que era espírito e vida espiritual, onde se tentava exercer, de forma prática, o auto-conhecimento.
Aquilo de que falamos hoje não é um sentimento indefinido, abstrato, da natureza, mas sim um sentimento da natureza em toda a vivacidade espiritual. Voltando às palavras de Goethe: natureza, nós estamos por ela envolvidos e abraçados, etc, deve ficar bem claro de que não estamos explicando a natureza de forma materialista, mas sim de que vemos nela a expressão externa, a fisionomia do espírito cósmico divino. E tal como corpora nasce do corporal, o anímico espiritual nasce do anímico-divino e do espiritual-divino, e como o corporal se une com forças materiais, o anímico se une com o espiritual.
E para sentir isso em relação ao universo, para usar o nosso conhecimento e o nosso pensar de maneira a se sentir de forma totalmente clara e não difusa, em unidade com o universo, para isto as festas são como símbolos para a humanidade. E quando novamente se sente algo disto, essas festividades serão um pouco diferentes do que são hoje, elas novamente se implantarão vivamente na alma e coração, e se tornarão então, aquilo que elas realmente deveriam ser: os pontos chaves do ano que nos unem ao espírito do cosmos.
Quando, durante todo ano, cumprimos nossas tarefas e deveres para com a vida cotidiana, nestes pontos então, olhamos para aquilo que nos une com o eterno. E se sabemos também que no decorrer do ano “lutamos” por algumas coisas, nestes dias nos sobrevêm um sentimento do que acima de toda luta e de todo caos existe uma paz e uma harmonia. Por isso, estas festividades são as festividades dos grandes ideais, e a festa do natal é a festa do nascimento do maior ideal da humanidade, do ideal que a humanidade deve conseguir se quiser alcançar o seu destino. A festa do nascimento daquilo que o homem pode sentir e querer: eis a festa de natal compreendida corretamente.
A ciência espiritual antroposófica quer contribuir para que esta festa seja novamente entendida dessa forma. Não queremos enviar ao mundo um dogma, uma doutrina, uma pura filosofia, queremos enviar vida. Este é o nosso ideal. Que flua para a vida tudo aquilo que dissemos e ensinamos, tudo aquilo que contém os nossos livros e a nossa ciência. E fluirá na vida quando o homem exercitar esta ciência espiritual em todos os aspectos da vida cotidiana, de maneira que não precisamos falar mais desta ciência, quando dos púlpitos ressoa vida cientifico - espiritual através das palavras que são dirigidas aos crentes – sem que seja pronunciada a palavra Teosofia ou ciência espiritual. Quando em todas as instituições de justiça são vistas as ações dos homens como um sentir cientifico - espiritual, quando o médico ao lado do leito do paciente sente e cura de maneira cientifico - espiritual , quando na escola o professor ensina uma ciência espiritual para acriança em desenvolvimento, quando em todas as ruas se pensa, se sente e se atua de forma cientifico - espiritual, de forma que a doutrina cientifico - espiritual se torne supérflua. Então alcançou-se o nosso ideal, e a ciência espiritual será uma questão cotidiana com a espiritual através do pensar, sentir e querer cientifico - espiritual. Assim, por outro lado permitirá que nos grandes dias de festas, o eterno, o imperecível, o sol espiritual, ilumine a sua alma, fazendo-o lembrar-se que nele existe algo verdadeiro, um Eu superior, algo divino, solar, cheio de luz, que sempre triunfará sobre a escuridão e o caos, que dará uma paz à alma, que agirá trazendo equilíbrio acima de toda luta, guerra e descontentamento no mundo.