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Histórias

A Arvorezinha Descontente (Edith Asbeck)

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ERA UMA VEZ, numa pequena floresta, uma arvorezinha que vivia junto a tantas outras árvores, umas altas, outras baixas, algumas eretas, outras com troncos retorcidos, mas, ela estava sempre insatisfeita..
 
ESSA ARVOREZINHA, tanto no verão quanto no inverno, não tinha folha alguma, tinha agulhas apenas. As agulhas picavam. Nem esquilos corriam por seu delgado tronco, nem pássaros nela pousavam, nenhuma borboleta colorida ou uma pequena abelha, ali descansavam. A árvore descontente com a sua sorte assim falou: “Todas as outras árvores têm folhas verdes e bonitas que até mesmo mudam de cor com o passar dos meses, eu, porém só tenho agulhas, ninguém, ninguém mesmo, toca em mim. Ah, se eu pudesse fazer um pedido, se um desejo meu pudesse ser realizado, eu gostaria de ter as folhas de puro ouro!”
 
Quando chegou a noite, a arvorezinha adormeceu.
 
 Na manhã seguinte acordou e viu que tinha folhas de ouro, era um assombro! Disse a arvorezinha: “Agora estou orgulhosa de mim, ninguém no bosque tem folhas assim!”
 
Mas quando a tarde caiu, pela floresta passou um larápio, saco às costas, barba imensa escondendo o rosto. Ele logo viu o ouro brilhando, foi lá, arrancou as folhas todas dos galhos, colocou-as no saco e saiu sem fazer ruído, deixando para trás a pobre árvore despida, desnuda, chorosa. “Sinto pela perda das lindas folhas, mas, muito mais sinto vergonha de estar assim despida, as outras árvores todas tem sua roupagem verde e eu...que tenho eu?....Se eu pudesse fazer mais um pedido, se mais um desejo meu pudesse ser realizado, eu gostaria de ter folhas de vidro!”
 
Chegou a noite, outra vez a arvorezinha adormeceu. Na manhã seguinte acordou novamente e tinha, toda ela, delicadas folhas de vidro. Uma verdadeira maravilha! Disse a arvorezinha: “Estou contente, nenhuma árvore da floresta cintila tão lindamente!”
 
Foi quando veio um vendaval, zunindo, assobiando. Rodopiou, por entre as árvores correu e as folhas de vidro dos galhos varreu. No chão jaziam os cacos de vidro das, outrora, lindas folhas cintilantes. A arvorezinha, disse sentida: “Minhas lindas folhas são cacos caídos no chão, as outras árvores, perderam algumas, mas as copas continuam verdes e viçosas. Ah, se eu pudesse fazer mais um pedido, se mais um desejo meu pudesse ser realizado, eu gostaria de ser como as outras árvores e ter muitas folhas verdes!”.
 
Chegou a noite, a arvorezinha adormeceu. De manhã, novamente acordou: tinha folhas verdes e viçosas. E ela riu de contentamento. E disse: “Tenho folhas como as outras árvores, sou igualzinha a elas. Não preciso mais ter vergonha, nem inveja!”
E assim o dia passou. Tudo estava perfeito. Mas eis que vem pela floresta, mamãe cabra, o ubre cheio de leite para amamentar seus cabritinhos. Procurava por capim e ervas para alimentar seus filhinhos. Viu as folhas de verde viçoso, não perguntou, não pediu licença, simplesmente mordeu, mastigou, mordeu, mastigou e no final, na arvorezinha, nada sobrou!
 
A arvorezinha, outra vez toda desnuda, disse baixinho para si mesma: “Não tenho maiores anseios, não penso em folhas verdes, amarelas, vermelhas, tudo o que eu gostaria é de ter as minhas antigas agulhas de volta!”
 
Triste, a arvorezinha adormeceu e triste ela acordou. E quando o sol a veio aquecer, ela se olhou e, de repente, começou a rir, a rir, a gargalhar! As outras árvores a olharam espantadas e começaram também a rir, a rir dela, mas ela nem se incomodou.
 
Por que ria tanto a arvorezinha? E por que riram dela as outras árvores da floresta?
 
Quem adivinha?
 
Numa só noite, enquanto dormia, ela ganhou de volta todas as suas muitas agulhas!
 
Não acredita? Vá vê-la na pequena floresta. Lá está ela, recoberta de agulhas, para que todos a possam olhar.
 
Vá vê-la, mas, é melhor não a tocar!
 
  
(baseada em antiga poesia de Friederich Rückert)