Festas Cristãs

Pesquisar, Visualizar e Navegar

Tamanho da fonte:

Textos de Rudolf Steiner

O MISTÉRIO DE MICAEL (apostila) - Da Natureza à Sub-natureza

Atenção, abrir em uma nova janela. PDFImprimirE-mail

Fala se que, com a superação da era da filosofia, aproximou se à era das ciências naturais, em meados do século XIX. Afirma se também que essa era cientifica ainda perdura hoje, havendo todavia muitos indivíduos afirmando que se voltou a certas intenções filosóficas.

Tudo isso corresponde aos caminhos do conhecimento, seguidos pela época mais recente, mas não aos caminhos da vida. Com suas representações mentais o homem ainda vive na natureza, embora leve também o pensar mecanicista a suas concepções sobre a natureza. Mas, com sua vontade, vive tão intensamente numa mecânica de processos técnicos que isso deu, há muito tempo, à era das ciências, uma nuança totalmente nova.

Se quisermos compreender a vida humana, temos de enfocá la de dois lados. 0 homem traz de suas vidas passadas a capacidade de formar conceitos a respeito do elemento cósmico que atua a partir da periferia da Terra e dentro do âmbito da Terra. Pelos sentidos percebe o cósmico que atua na Terra, e ele pensa, pela sua organização intelectiva o cósmico que atua sobre a Terra a partir do mundo que a circunda.

Vive dessa forma no perceber pelo seu corpo físico; e no pensar pelo seu corpo etérico.

Aquilo que ocorre no corpo astral e no Eu, reina em regiões mais escondidas da alma. Reina, por exemplo, no destino. Mas não se deve logo procurá lo em relações complicadas do destino, porém nos processos vitais simples e elementares. 0 homem une se com certas forças da Terra, dirigindo seu organismo em direção a elas. Aprende a manter se na vertical e a locomover se, aprende a colocar se com seus braços e mãos no equilíbrio das forças terrestres.

Essas forças, porém, não atuam a partir do cosmo; são veramente terrestres.

Na realidade, nada do que o homem vivência é abstrato. Só que ele não discerne de onde vem a vivência e por isso leva as idéias acerca da realidade à abstração. Ele fala em regularidades mecânicas, acreditando tê las abstraído do contexto da natureza. Todavia tal não é o caso; as leis mecânicas que o homem vivência na alma, ele as experimentou no seu relacionamento com o mundo terrestre (pela posição ereta, pelo andar, etc.).

Logo, a regularidade mecânica se caracteriza como algo meramente terrestre. Pois as regularidades que se manifestam na natureza nas cores, nos sons, etc., fluíram para o âmbito terrestre a partir do cosmo. É só no âmbito terrestre que o elemento mecânico também implantado naquilo que existe de acordo com a natureza, da mesma forma como o homem também tem a vivência do mecânico apenas no âmbito da Terra.

A maior parte daquilo que atua na civilização através da técnica e se acha intimamente ligado à vida humana, não faz parte da natureza mas de uma sub natureza. É um mundo que se emancipou para baixo da natureza.

Vemos o homem oriental que procura chegar ao espiritual, esforçar se para desprender se dos estados de equilíbrio que são determinados apenas pelas forças da Terra. Ele se coloca, na meditação, numa posição que o integra em um equilíbrio meramente cósmico; ai a Terra não atua mais sobre a orientação do seu organismo (Menciono isso não como algo a ser imitado, mas para tornar claro o que acaba de ser dito. Quem conhece meus escritos, sabe como se diferenciam, a esse respeito, a vida espiritual oriental e aquela do ocidente).

0 homem necessitava relacionar se com o elemento meramente terrestre, para desenvolver a alma da consciência. Nasceu daí a tendência, presente nos tempos mais recentes, de levar também para o fazer aquilo que deve impregnar a sua maneira de ser. Entrosando se no que é exclusivamente terreno, ele se defronta com Arimã. É necessário que estabeleça, entre seu próprio ser e esse elemento arimânico, uma relação correta.

Mas na evolução que a era da técnica tem seguido até agora, o homem não teve a possibilidade de relacionar se corretamente com a cultura arimânica. 0 homem precisa encontrar a energia e a força do conhecimento interior que o capacitem para não ser subjugado por Arimã em meio à civilização técnica. Ele tem de compreender a sub natureza como tal. Só o conseguirá elevando se, pela cognição espiritual, pelo menos, tão alto na supra natureza extra terrestre quanto desceu, na técnica à sub-natureza. Essa era necessita de um conhecimento que transcenda a natureza, pois tem de superar, interiormente, um conteúdo existencial que desceu abaixo da natureza e atua de uma maneira bem perigosa. Não pretendemos, naturalmente, que se volte a fases anteriores da civilização; opinamos que o homem deve encontrar o caminho que estabeleça uma relação certa das novas convicções da civilização, para com ele próprio e com o cosmo.

São pouquíssimas as pessoas que sentem hoje em dia as importantes tarefas espirituais que estão se concretizando para o homem. É necessário reconhecer que a eletricidade   a qual foi elogiada, depois de sua descoberta, como a alma de toda existência natural – é intrinsecamente a força que conduz da natureza à sub natureza. 0 importante é que o homem não a acompanhe nessa descida.

Nos tempos em que ainda não existia uma técnica independente da natureza propriamente dita, o homem encontrava o espírito na contemplação da natureza. Na medida em que se tornou autônoma, a técnica fez com que o homem fixasse seu olhar no mundo material e mecânico como se fosse o único que satisfizesse a ciência. Ora, não havia lugar, nesse mundo, para o divino espiritual onde a humanidade teve sua origem. Essa esfera o dominava exclusivamente pelo elemento arimânico.

Uma ciência do espírito cria a esfera oposta na qual nada de arimânico existe. Acolhendo, pelo conhecimento, aquela espiritualidade à qual as potências arimânicas não tem acesso, o homem adquire forças para opor se a Arimã no mundo.

Goetheanum, março de 1925.