Textos de Rudolf Steiner
O MISTÉRIO DE MICAEL (apostila) - Onde se encontra o Homem como ser que pensa e se recorda?
Com o representar (pensar) e a vivência de recordações, o homem se encontra dentro do mundo físico. Mas para onde quer que ele dirija o olhar neste mundo físico, com seus sentidos, não encontrará, em lugar algum, nada que lhe pudesse dar as forças para representar e recordar.
No representar aparece a auto-consciência. Esta, no sentido das abordagens precedentes, é uma conquista que o homem tem pelas forças do terrestre. Mas estas forças terrestres são tais que permanecem ocultas à visão sensorial. É certo que o homem, na vida terrena, só pensa o que seus sentidos lhe transmitem; mas nada de tudo que ele assim pensa, lhe dá a força para o pensar.
Onde se encontra essa força que forma o representar (pensar) e as imagens de recordação a partir do terrestre?
Ela pode ser encontrada quando se dirige o olhar espiritual para o que o homem traz consigo das vidas terrestres anteriores. A consciência habitual não conhece isto. Inicialmente vive inconscientemente no homem. Mas, quando o homem chega à Terra após a existência espiritual, mostra-se afim com aquelas forças terrestres que não caem no âmbito de observação sensorial e pensar sensorial.
0 homem não se encontra neste âmbito com o representar (pensar), mas com o querer, que se desenrola no sentido do destino.
Considerando que a Terra contém forças que caem fora do âmbito sensorial, pode se falar da "Terra espiritual" como polo contrário à física. Então resulta que o homem vive, como ser volitivo, dentro e com a "Terra espiritual", mas que ele como ser que representa (pensante) está dentro da Terra física, mas que não vive como tal com ela.
0 homem como ser pensante traz forças do mundo espiritual ao físico; mas com estas forças ele permanece ser espiritual que apenas aparece no mundo físico, porém não entra em nenhuma comunidade com ele.
Durante a existência terrestre o homem que representa (pensante) só entra em comunidade com a "Terra espiritual" e, a partir desta comunidade, cresce lhe sua auto-consciência.
Seu surgimento se dá, portanto, graças a tais processos que se desenrolam como espirituais na vida terrena com o homem.
Ao se abarcar com a visão espiritual o que aqui se descreve, tem se o "eu humano" diante desta visão.
Com as vivências de recordação chega se ao âmbito do corpo astral humano. No recordar não afluem, meramente como no representar (pensar), os resultados de vidas terrestres anteriores para dentro do eu atual, mas, para o seu interior, afluem às forças do mundo espiritual, que o homem vivência entre morte e novo nascimento. Este afluir acontece no corpo astral.
Contudo, tampouco há dentro da Terra física algum âmbito para a acolhida direta das forças assim afluentes. Enquanto ser que se recorda, o homem tampouco pode se ligar com as coisas e processos percebidos por seus sentidos, como consegue se ligar a estes enquanto ser que representa.
Porém, ele entra em comunidade com o que não é físico, mas transforma o físico em processos, em acontecimentos. São estes processos rítmicos na vida humana e da natureza. Na natureza alternam se ritmicamente dia e noite, estações do ano seguem se ritmicamente, e assim por diante. No homem, a respiração e a circulação do sangue sucedem em ritmo. Também assim se processa a alternância de sono e vigília e assim por diante.
Os processos rítmicos não são físicos nem na natureza nem no homem. Poder se iam chamá los semi espirituais. 0 físico desaparece como coisa no processo rítmico. No recordar, o homem está colocado com seu ser em seu ritmo e no da natureza. Ele vive em seu corpo astral.
A ioga hindu quer abrir se totalmente à vivência do ritmo. Quer abandonar o âmbito do representar, do eu, e em uma vivência interna, semelhante ao recordar, quer olhar para o mundo que se encontra por trás do que a consciência habitual pode conhecer.
A vida espiritual ocidental não pode reprimir o eu para o processo cognitivo. Deve aproximar o eu da percepção do espiritual.
Não pode acontecer que se vivencie no ritmo apenas o tornar se semi-espiritual do físico, quando se for penetrando do mundo sensorial ao mundo rítmico. Deve se encontrar a esfera do mundo espiritual que se revela no ritmo.
Portanto, duas coisas são possíveis. Primeiro: vivenciar o físico no rítmico, como este físico se torna semi espiritual. Este é um caminho mais antigo, que hoje não se trilha mais. Segundo: Vivenciar o mundo espiritual que tem o ritmo cósmico dentro e fora do homem tão dentro de sua esfera como o homem tem o mundo terrestre com seus seres e processos físicos.
A este mundo espiritual pertence tudo que acontece através de Micael no momento cósmico atual. Um espírito como Micael traz aquilo que se encontraria no âmbito luciférico para o âmbito da evolução puramente humana que não é influenciado por Lúcifer ao escolher o mundo rítmico como sua morada.
Tudo isso pode ser visto quando o homem penetra na imaginação. Pois, com a imaginação, a alma vive no ritmo; e o mundo de Micael é aquele que se revela no ritmo.
Recordação, memória já se encontra dentro deste mundo, mas ainda não profundamente. A consciência habitual não vivência nada disto. Porém, ao se penetrar na imaginação, do mundo do ritmo sobressai, inicialmente, o mundo das recordações subjetivas; mas este passa logo às imagens primordiais, viventes no etérico, criadas pelo mundo divino espiritual para o mundo físico. Vivência o éter luzente em imagens cósmicas, que guarda em si a criação do mundo. E as forças solares que urdem neste éter não irradiam meramente ali, desencantam da luz imagens primordiais do universo. 0 Sol aparece como o pintor cósmico do mundo. Ele é a contra imagem cósmica dos impulsos que pintam no homem as imagens da representação (do pensar).
Goetheanum, janeiro de 1925.