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Textos de Rudolf Steiner

O MISTÉRIO DE MICAEL (apostila) - O que é a Terra realmente no Macrocosmo?

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Temos enfocado nestas considerações, dos mais diversos pontos de vista, o devir do cosmo e da humanidade. Evidenciou se como o homem recebeu do cosmo extra terrestre as forças constitutivas de sua entidade, exceto aquelas que lhe proporcionam a auto-consciência. Estas têm sua origem na Terra.

Com isso explica se a importância do terrestre para o homem. Surge então a pergunta: qual a importância do terrestre para o macrocosmo?

Para se aproximar da resposta a essa pergunta, é necessário voltar ao que já foi exposto.

Na medida em que o olhar remonta ao passado, a consciência vidente vê o macrocosmo caracterizado por uma vitalidade cada vez maior. Num passado remoto, ele vive de maneira que cessa toda previsão de suas manifestações vitais. 0 homem é segregado dessa vitalidade. 0 macrocosmo entra cada vez mais na esfera do que pode ser previsto.

Dessa maneira, porém, entra num processo de morte. 0 macrocosmo morre na medida em que dele surge o homem, o microcosmo, como entidade autônoma.

Na atualidade cósmica existe um macrocosmo morto. Mas com o devir do mesmo, surgiu não só o homem, mas também a Terra.

Tirando da Terra as forças para sua auto-consciência, o homem está excessivamente próximo a ela, para poder perscrutar sua essência. Na era da alma da consciência, enquanto se desenvolvia plenamente a auto-consciência, os homens se acostumaram a olhar apenas para o tamanho espacial do universo e a considerar a Terra como um grão de poeira insignificante perante o universo físico espacial.

Por isso, inicialmente, parecerá esquisito, quando uma contemplação espiritual revelar o verdadeiro significado cósmico desse "grão de poeira".

Os reinos vegetal e mineral são acolhidos pela base mineral da Terra.

Em tudo isso vivem as forças que se manifestam das mais diversas maneiras no decorrer do ano. Vejamos o reino vegetal. Ele nos mostra forças que esmorecem no outono e no inverno. A consciência vidente percebe nessa manifestação a essência daquelas forças que fizeram perecer o macrocosmo. Na primavera e no verão vemos no reino vegetal forças que germinam e vicejam. A consciência vidente percebe nesse germinar e vicejar não somente aquilo que faz nascer à plenitude do mundo vegetal para o ano em curso, mas um excedente. Trata se de um excedente da força germinativa. As plantas contém mais força germinativa do que necessitam para o crescimento das folhas, flores e frutos. Diante da consciência vidente, esse excedente de força germinativa flui ao macrocosmo extra terrestre.

Da mesma forma, um excedente de força flui também do reino mineral ao cosmo extra terrestre. Essa força tem a tarefa de levar as forças oriundas das plantas, ao seu destino certo no macrocosmo. Sob a influência das forças minerais, uma nova imagem do macrocosmo nasce das forças vegetais.

Existem também forças que emanam do reino animal. Não atuam irradiando da Terra, como fazem as forças vegetais e minerais; sua atuação consiste em dar forma esférica a tudo que, de vegetal, é levado ao cosmo pelas forças minerais; nasce então a imagem de um macrocosmo fechado de todos os lados.

É essa visão que a consciência dotada de cognição espiritual tem da essência do terreno. Essa essência vivifica o macrocosmo em vias de perecimento.

Assim como o gérmen vegetal, tão pequeno em termos espaciais, dá origem a uma planta inteira e grande quando a antiga entra em decomposição, o "grão de poeira", a Terra, dá origem a um novo macrocosmo enquanto o antigo, morto, se desagrega.

É essa a verdadeira contemplação da entidade da Terra que revela, em toda parte, um mundo em processo de germinação. Só conhecemos os reinos da natureza, sentindo neles aquilo que está germinando.

Em meio a esse ambiente germinante, o homem passa sua existência terrena. Ele participa tanto nos processos de germinação como nos de morte. Deste último, ele tira suas forças do pensar. Enquanto, no passado, estas provinham do macrocosmo que ainda estava vivo, não eram o fundamento do homem auto consciente. Existiam como forças de crescimento no homem que ainda não possuía a consciência de si mesmo. As forças do pensar, em si, não podem ter vida própria enquanto devem ser a base da auto-consciência humana autônoma. Devem constituir, juntamente com o macrocosmo perecido, as sombras mortas daquilo que estava vivo na época cósmica primeva.

De outro lado, o homem participa na vida germinativa da Terra. As forças da sua vontade nascem dela. Elas são vida mas, em compensação, com sua auto-consciência, o homem não participa de sua essência. No interior do ser humano as forças da sua vontade irradiam para as sombras dos pensamentos. Estas as impregnam, e é a auto-consciência plena e livre que, na época da alma da consciência, penetra no homem, como resultado do pensar livre que se desenvolve no ser germinativo da Terra.

Encontra se, pois, na entidade humana, o passado, projetando suas sombras, e o futuro, contendo germens de uma nova realidade. E o lugar desse encontro é a vida humana atual.

Que as coisas tenham esse aspecto, a consciência vidente o percebe tão logo ascende à região espiritual que fica diretamente adjacente ao plano físico, na qual também encontramos a atividade de Micael.

Toda a vida no âmbito do terreno torna se transparente quando se tem a sensação de que nela atua, como embasamento, o gérmen do cosmo. Toda forma vegetal, toda pedra aparecem à alma humana numa nova luz quando ela se dá conta como cada um desses seres contribui, pela sua vida e pela sua constituição, para fazer da Terra, considerada como um todo, o embrião de um novo macrocosmo em formação.

Procure se fazer do pensamento centrado nesse fato, algo bem vívido; notar se á então que pode adquirir um significado especial dentro da alma humana.

Goetheanum, janeiro de 1925.