Textos de Rudolf Steiner

O MISTÉRIO DE MICAEL (apostila) - O que se Revela ao olhar retrospectivo dirigido às Vidas Repetidas

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Quando a cognição espiritual olha, em retrospectiva, para vidas terrenas anteriores de um homem, aparece um certo número dessas vidas terrenas em que o homem já era uma pessoa. Seu exterior se parecia com o que é agora, e ele possuía uma vida interior marcada por um cunho individual. Afloram vidas que revelam a presença da alma da razão ou do sentimento, mas ainda não da alma da consciência, e outras em que só a alma da sensação estava pronta, etc.

Era assim nas várias épocas da história terrena, e também muito tempo antes.

Mas o olhar retrospectivo remonta a tempos em que ainda não era assim. Ai deparamos com o ser humano ainda entretecido com o mundo dos seres divino espirituais, quanto à sua vida interior e à formação exterior. 0 homem é terreno, mas ainda não desprendido da existência desses seres, do seu pensar e querer.

Em épocas ainda mais antigas, o homem separado desaparece; só existem seres divino espirituais que levam o homem em seu seio.

Essas três fases, o homem as percorreu durante sua existência na Terra. A passagem da primeira para a segunda se situa no fim da época lemúrica, aquela da segunda para a terceira, na época atlântica.

Assim como o homem carrega dentro dele suas vivências como recordações, ele também carrega como recordação cósmica tudo que experimentou dessa maneira. Que é a vida anímica na Terra? 0 mundo das recordações, sempre pronto para, a cada instante, ter novas percepções. 0 homem passa sua existência terrena interior nessa ação reciproca de recordações e novas experiências.

Mas esta existência terrena interior não poderia desenvolver se se não houvesse, como recordação cósmica presente, aquilo que presenciamos ao olharmos, em espírito, para a primeira fase da nossa existência como homens terrenos quando ainda não ocorrera o desprendimento do mundo divino espiritual.

Daquilo que então ocorria no mundo, só existe hoje, de forma viva, o que é desenvolvido na organização neuro sensorial do homem. Na natureza exterior, as forças que então atuavam, estão mortas ou apenas observáveis em formas mortas.

Vive no mundo dos pensamentos, como manifestação presente, aquilo que precisa ter passado, para sua existência terrena atual, por uma evolução antes que o homem tivesse alcançado sua existência terrena individualizada.

Essa fase, o homem a revive entre cada morte e o novo nascimento. Só que leva sua existência individual, plasmada nas vidas terrenas, para o mundo dos seres divino espirituais que volta a recebê lo como outrora o abarcava. Entre a morte e o nascimento, ele se acha, ao mesmo tempo, no presente e em todos os tempos atravessados em vidas repetidas e existências entre mortes e novos nascimentos.

A situação é diferente no que se refere ao mundo dos sentimentos. Este tem uma ligação com as vivências que vieram imediatamente após aquelas onde o homem ainda não era homem. São as vivências que o homem teve como homem, mas ainda não desprendido da existência divino espiritual e seu pensar e querer. Atualmente, o homem não poderia desenvolver uma vida sentimental se esta não nascesse com base de sua organização rítmica. Esta contém a recordação cósmica da segunda fase da evolução.

Atuam, pois, na vida emocional, o presente anímico e os pós efeitos de uma época muito remota.

Em sua existência entre a morte e o novo nascimento, o homem vivência o conteúdo do período em questão como o limite de seu cosmo. Na vida física o homem tem, como limite, o céu estrelado; a ele corresponde, na vida espiritual entre a morte e o nascimento, a fase que se situa entre sua ligação total com o mundo divino espiritual, e seu desprendimento desse mundo. Ai não são os corpos celestes físicos que aparecem no "limite do cosmo", mas, no lugar de cada estrela, a soma dos seres divino espirituais os quais, na realidade, constituem a estrela.

As vidas terrestres que aparecem como individualizadas e personalizadas, são relacionadas apenas com a vontade e não, com o sentimento e o pensamento. 0 que dá ao homem a forma exterior a partir do cosmo, se conserva nessa forma exterior como recordação cósmica. Esta vive na figura humana como forças, não são as forças da vontade mas seu fundamento dentro da organização humana.

Essa região da entidade humana situa se fora dos "limites do mundo" durante a vida entre a morte e o novo nascimento. 0 homem sabe que voltará a fazer parte dele em sua nova vida terrestre.

0 homem está atualmente ligado ao cosmo em sua organização neurosensorial da mesma maneira como o era quando ele apenas se manifestava como um gérmen dentro do plano divino espiritual.

Em sua organização rítmica o homem vive no cosmo de maneira como vivia quando já existia como homem mas ainda não era desprendido do divino-espiritual.

Em sua organização do metabolismo e dos membros, base da atuação da vontade, o homem vive de forma tal que continua atuando nessa organização tudo que o homem vivenciou nas vidas pessoais e individuais e nas vidas entre a morte e o novo nascimento.

Das forças da Terra, o homem só tira o que lhe proporciona a auto-consciência. Também a base física dessa auto-consciência provêm da atuação da Terra. Todo o resto tem uma origem cósmica, extra terrestre. Têm essa origem extra terrestre o corpo astral, veiculo das sensações e pensamentos, e sua base etérica e física ou seja, os processos vitais do corpo etérico e até tudo que atua química e fisicamente no corpo físico. Pode parecer estranho, mas mesmo aquilo que atua química e fisicamente, não provém da Terra.

São os planetas e outras estrelas que determinam que o homem desenvolva em si esses lados cósmicos extra terrestres. É o Sol que leva à Terra aquilo que ele desenvolve dessa maneira. 0 elemento cósmico do homem é levado ao âmbito terreno pelo Sol. Graças a este, o homem, como ser celeste, vive na Terra. Constitui uma dádiva da Lua apenas aquilo que transcende a sua formação humana, isto é, a capacidade de produzir um ser igual a ele.

Essas não são, obviamente, as únicas influências do Sol e da Lua. Emanam deles também efeitos altamente espirituais.

Quando, na época do Natal, o Sol aumenta suas energias destinadas a Terra, isso é um efeito rítmico que se manifesta no âmbito físico-terreno num ciclo anual; é uma manifestação do espírito da natureza. A evolução do homem constitui um único elo numa espécie de ano cósmico gigantesco. É isso que decorre das explanações que precedem. Nesse ano cósmico ocorre uma "Noite Sacra" cósmica: não é apenas o Sol que atua sobre a Terra a partir do Espírito da Natureza, é a alma do Sol, o espírito de Cristo, que desce à Terra.

Assim como as vivências individuais de cada indivíduo têm uma relação com a recordação cósmica, a noite sacra anual, o Natal, é interpretada corretamente desde que se considere o acontecimento do Cristo, celeste e cósmico, como algo contínuo e que constitui uma recordação não apenas humana, mas cósmica. Não é só o homem, mas o cosmo inteiro que recorda efetivamente, no Natal, a descida do Cristo.

Goetheanum, Ano Novo de 1925

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