Textos de Rudolf Steiner
O MISTÉRIO DE MICAEL (apostila) - Aforismos de uma palestra a membros, proferida em Londres, no dia 24 de agosto de 1924
A consciência humana desenvolve três formas no presente estado cósmico de sua evolução: a consciência vígil, a que sonha e a que dorme sem sonhos.
A vígil vivência o mundo exterior sensível, forma idéias sobre este, e é capaz de configurar, a partir destas idéias, aquelas que reproduzem um mundo puramente espiritual. A consciência sonhante desenvolve imagens que mudam a forma do mundo exterior; por exemplo, associam ao sol que ilumina a cama, a vivência onírica de um grande incêndio com muitos detalhes. Ou, coloca o mundo interior humano em imagens simbólicas perante a alma; por exemplo, o coração intensamente palpitante, na imagem de um fogão superaquecido. Também as lembranças vivem transformadas na consciência onírica. A elas se acrescentam conteúdos de imagens não extraídas do mundo sensorial, mas do mundo espiritual, as quais, entretanto, não oferecem a possibilidade de penetrar cognitivamente no mundo espiritual, porque sua existência crepuscular não se deixa elevar totalmente à consciência vígil, e por não se poder apreender verdadeiramente o que passa para dentro desta.
Porém, é possível, imediatamente ao acordar, abranger tanto do mundo onírico, que se note como este é a impressão imperfeita de uma vivência espiritual que preenche o sono, mas que em sua maior parte escapa à consciência vígil. Para vislumbrar isto, só é necessário preparar o momento de acordar de modo que este não traga imediatamente o mundo exterior diante da alma como num passe de mágica, mas que a alma, ainda sem olhar para fora, se sinta dedicada ao vivenciado interiormente.
A consciência de sono sem sonhos deixa a alma atravessar vivências que apenas aparecem na lembrança, como monotonia indiferenciada do cumprimento do tempo. Poder se á falar destas vivências como algo totalmente inexistente, enquanto não se penetrá las pela pesquisa científico espiritual. Mas se isso acontecer, se for desenvolvida a consciência imaginada e inspirada de maneira descrita na literatura antroposófica, sobressaem da treva do sono as imagens e as inspirações de vivências de existências terrestres anteriores. E então, também se pode abranger o conteúdo da consciência onírica. Ele consiste de um conteúdo não apreensível pela consciência vígil, o qual indica o mundo no qual o ser humano permanece como alma não incorporada entre duas vidas terrestres.
Quando se vem a conhecer o que ocultam para a presente fase cósmica a consciência de sono e a onírica, é aberto o caminho para as formas evolutivas da consciência humana no mundo precedente. A isto, efetivamente não se pode chegar através da pesquisa externa. Pois, os documentos externos adquiridos, apenas trazem conseqüências de vivências pré históricas da consciência humana. A literatura antroposófica traz esclarecimentos de como se pode chegar à contemplação de tais vivências através de pesquisa espiritual.
Esta pesquisa encontra, na antiga época egípcia, uma consciência onírica que se encontra muito mais próxima da consciência vígil, do que acontece hoje no ser humano. As vivências oníricas irradiavam como lembranças para dentro da consciência vígil; e esta não apenas fornecia as impressões sensoriais abrangíveis em pensamentos bem delineados, mas, ligadas a elas, o espiritual atuante no mundo sensorial. Através disto, o ser humano se encontrava instintivamente com sua consciência dentro do mundo que deixou, ao se incorporar na Terra no qual novamente penetrará, ao ter passado através do portal da morte.
Os escritos conservados e outros monumentos dão, àquele que penetra em seu conteúdo despreocupadamente, nítidas reproduções de uma tal consciência, pertencente a uma época da qual não existem monumentos externos.
A consciência de sono da antiga época egípcia continha sonhos do mundo espiritual, de maneira semelhante à presente que contêm sonhos do mundo físico.
Porém, em outros povos se encontra ainda uma outra consciência. 0 sono irradiava suas vivências para dentro da vigília, de tal modo que neste irradiar existia instintivamente uma visão das repetidas vidas terrestres. As tradições do conhecimento das repetidas vidas terrestres, pelos homens primevos, provêm destas formas de consciência.
Reencontra se o que existia instintivamente em épocas antigas, crepuscularmente como consciência onírica, no conhecimento imaginativo desenvolvido. Só que neste, é plenamente consciente como a vida da vigília.
Da mesma maneira, pelo conhecimento inspirado, se percebe a instintiva visão pré histórica, que ainda via algo das repetidas vidas terrestres. A atual história da humanidade não trata desta mudança das formas humanas da consciência. Ela gostaria de acreditar que, em essência, sempre existiram as formas de consciência atuais, desde que a humanidade terrestre existe.
Pretende se ver os mitos e contos, que indicam tais formas diversas de consciência, como o extravasamento da fantasia poética do homem primitivo.