Textos de Rudolf Steiner
Micael, O Mensageiro de Cristo
Rudolf Steiner
Londres, 2 de Maio de 1913
O Mistério do Gólgota é o mais difícil de se compreender de todos os Mistérios, mesmo para aqueles que alcançaram um estágio avançado no conhecimento oculto. Entre todas as verdades dentro do âmbito do pensamento humano esta é a que pode mais facilmente ser mal compreendida.
Isto se dá porque o Mistério de Gólgota foi um evento único em toda a evolução da terra e da humanidade, um poderoso impulso que nunca havia sido dado da mesma forma e que nunca se repetirá de maneira semelhante. O pensamento humano sempre busca um termo de comparação através do qual fatos possam ser compreendidos, mas o que é incomparável desafia qualquer comparação e porque é único será muito difícil se compreender.
O Mistério do Gólgota não deve ser visto como um evento separado da evolução da humanidade, como se ele fosse levado em consideração somente pela sua duração de 33 anos. Precisamos nos lembrar que ele morreu na 4ª época pós-atlântica, a época da civilização Greco- Latina, e que ele foi preparado por todo o período de desenvolvimento do antigo povo Hebreu. O que aconteceu na humanidade durante a 4ª época foi da maior importância para o Mistério do Gólgota; assim também foi o culto de Jahve que era praticado entre os antigos Hebreus. É, portanto, fundamental considerar a natureza do Ser que revelou naquele tempo sob o nome Jahve ou Jehovah...
Acima de tudo, o fator evolução não deve deixar de ser considerado quando pensamos no nome Jahvé ou Jehovah, especialmente em relação ao nome de Cristo. Até no Novo Testamento encontraremos – e em meus livros tenho sempre me referido a isto – que em Jehovah o Cristo se revelou na medida em que isso era possível ser feito antes do Mistério do Gólgota.
Se quisermos fazer uma comparação entre Jehovah e Cristo, podemos bem fazê-la se tomarmos a luz solar e a luz lunar como ilustração. O que é a luz solar, o que é a luz lunar? Elas são uma e a mesma e, no entanto são bem diferentes. A luz solar flui a partir do sol, mas a luz lunar é refletida de volta pela luz lua. D a mesma forma, Cristo e Jehovah são um e o mesmo. O Cristo é como a luz solar, Jehovah é como a luz do Cristo refletida, de tal forma que a luz do Cristo podia se revelar na terra sob o nome de Jehovah, antes que o Mistério de Gólgota tivesse acontecido. Quando contemplamos um Ser tão sublime como Jehovah–Cristo devemos buscar seu verdadeiro significado nas próprias alturas do mundo supra-sensível. Na realidade, é uma presunção abordar um tal Ser com os conceitos do cotidiano.
Os antigos Hebreus buscaram uma solução para essa dificuldade. Apesar de inadequado, o pensamento humano fez esforços para formar uma idéia deste Ser sublime. A atenção não foi dirigida diretamente para Jehovah (um nome que em si próprio continha o inexprimível), mas ao Ser que nossa literatura Ocidental se refere pelo nome de Micael. Naturalmente, muita incompreensão pode surgir a partir desta afirmação, mas isto é inevitável. Pode-se dizer, “Isto evocará os preconceitos dos cristãos”; outra não sentirá nenhuma ligação quanto a isso. No entanto, o Ser que podemos denominar Micael, que pertence à Hierarquia dos Arcanjos – não importa que nome possamos lhe dar – este Ser de fato existe. Há muitos seres deste mesmo nível hierárquico, mas este Ser em particular, que é conhecido esotericamente pelo nome de Micael, é tão superior aos seus companheiros como o Sol é para os planetas Vênus, Marte, Júpiter, Mercúrio, Saturno e assim por diante.
Micael é o mais eminente, o Ser mais significativo na Hierarquia dos Arcanjos. Os antigos os chamavam “o Semblante de Deus”. Assim como os seres humanos se revelam por seus gestos e expressões de suas faces, assim na mitologia antiga se compreendia Jehovah revelando-se através de Micael.
Jehovah se fez conhecer aos iniciados Hebreus de tal forma que eles perceberam algo que nunca antes tinham podido abarcar com suas forças comuns de compreensão, ou seja, que Micael era verdadeiramente o semblante de Jehovah. Assim os antigos Hebreus falavam de Jehovah–Micael: Jehovah era inatingível inabordável, aos seres humanos, assim como os pensamentos, tristeza e preocupação de uma pessoa ficam escondidos atrás de sua fisionomia exterior, Micael era a manifestação exterior de Jahvéh ou Jehovah, assim como a manifestação do Eu num ser humano pode ser reconhecida na fronte ou semblante.
Podemos, portanto, dizer que Jehovah se revelou através de Micael, um dos Arcanjos. O conhecimento do Ser descrito acima Jehovah não era restrito aos antigos Hebreus, mas era muito mais espalhado. De fato, se investigamos os últimos 500 anos antes da era Cristã, encontraremos que durante todo esse período a revelação era dada através de Micael. Essa revelação pode ser descoberta sob outra forma em Platão, Sócrates, Aristóteles, na filosofia grega, mesmo nas antigas tragédias gregas, durante cinco séculos antes do evento do Gólgota.
Com a ajuda do conhecimento oculto quando tentamos lançar luz sobre o que de fato aconteceu, podemos dizer que Cristo–Jehovah é o Ser que tem acompanhado a humanidade através de todo o curso da evolução. E durante as épocas sucessivas, Cristo–Jehovah sempre Se revelam através de diferentes Seres da mesma categoria que Micael. Mas em épocas diferentes ele escolhe um semblante diferente, por assim dizer, para voltar à humanidade. E de acordo com o Ser da Hierarquia dos Arcanjos que é escolhido como mediador entre Cristo–Jehovah e a humanidade, idéias, concepções, impulsos de sentimentos, impulsos de vontade largamente diferentes são revelados aos seres humanos. Num certo sentido, todo período ao redor do Mistério do Gólgota pode ser descrito como Época de Micael, e Micael pode ser visto como o mensageiro de Jehovah.
Durante o período que recebeu o Mistério do Gólgota por quase quinhentos anos e que continuou muitas décadas após, a forma dominante da cultura levou o selo de Micael. Através de seu poder ele verteu para a humanidade o que era destinado a ser transmitido naquele tempo. E então vieram outros Seres que eram igualmente Inspiradores da humanidade desde o mundo espiritual – outros seres do nível dos Arcanjos. No entanto, como foi dito, Micael era o maior, o mais poderoso entre eles. Assim uma época de Micael é sempre a mais significativa, ou uma das mais significativas que podem ocorrer na evolução humana. Pois as épocas dos diferentes Arcanjos se repetem; e é um fato da maior importância que cada um dos Arcanjos confere a época seu caráter fundamental. Estes Arcanjos são líderes de diferentes nações e povos, mas porque eles são líderes de épocas particulares, e porque eles também foram líderes em tempos passados, eles se tornam num certo sentido também os líderes da humanidade como um todo.
No que diz respeito a Michael, uma mudança aconteceu agora. O próprio Michael atingiu um patamar posterior em seu desenvolvimento. Isto tem enorme importância, pois de acordo com o acontecimento oculto, nas últimas décadas entramos numa nova época inspirada pelo mesmo Ser que inspirou a época durante a qual aconteceu o Mistério do Gógota. Desde o fim do século XIX, então, Michael pode ser visto como o dirigente da época.
Para entender isto, temos que olhar o Mistério do Gólgota sob outro ponto de vista e nos perguntarmos: O que, neste Mistério, é de importância capital? O fato de suprema importância é que o Ser que leva o nome de Cristo passou através do Mistério do Gólgota e pelo portal da morte naquele tempo. Nunca, através de toda a evolução da terra, alguém poderá falar sobre o Mistério do Gólgota sem considerar o fato que Cristo passou pela morte – este é o verdadeiro cerne do Mistério...
A morte não existe para nenhum Ser que pertença às elevadas Hierarquias, com exceção do Cristo. Mas para um Ser supra-sensível tal como o Cristo ser capaz de passar pelo portal da morte, este Ser deve primeiro descer à Terra. E o fato de imensurável significado no Mistério do Gólgota é que um Ser que nunca poderia ter experimentado a morte, no âmbito de sua própria vontade, tenha descido à Terra a fim de passar pela experiência relacionada inerentemente à humanidade. Portanto uma conexão interior foi criada entre a humanidade terrestre e o Cristo, pelo fato de o Ser Cristo ter passado pela morte a fim de compartilhar este destino com a humanidade. Como eu já enfatizei, esta morte foi da maior importância possível, especialmente para o atual período evolucionário da Terra. Um Ser de natureza única, que até então era somente cósmico, foi unido através do Mistério do Gólgota, pela morte do Cristo, à evolução da Terra. No tempo do Mistério do Gólgota, Ele penetrou no verdadeiro processo da evolução terrestre. Isto não tinha acontecido antes daquele evento, pois Ele então pertencia somente aos cosmos; mas através do Mistério do Gólgota Ele desceu do cosmos e se incorporou à Terra. Desde então Ele vive na Terra, está unido à Terra de tal forma que Ele vive nas almas humanas e vivencia a vida terrestre com os seres humanos.
Portanto todo o período anterior ao Mistério do Gólgota foi somente um período preparatório na evolução terrestre. O Mistério do Gólgota conferiu à Terra seu significado e propósito.
Quando o Mistério do Gólgota aconteceu o corpo terrestre de Jesus de Nazaré foi abandonado aos elementos terrestres, e desde aquele tempo em diante Cristo se uniu à esfera espiritual da Terra e vive nela.
Como já foi dito, é especialmente difícil caracterizar o Mistério do Gólgota porque não existe padrão com o qual ele possa ser comparado. Mesmo assim, tentaremos abordá-lo ainda de outro ponto de vista.
Por três anos, depois do batismo no Jordão, o Cristo viveu no corpo de Jesus de Nazaré como ser humano entre os seres humanos terrestres. Isto pode ser chamado à manifestação terrestre do Cristo num corpo físico, humano. Como, então, o Cristo Se manifesta desde o tempo em que, no Mistério do Gólgota, Ele deixou de lado o corpo físico?
Naturalmente devemos pensar no Cristo como um Ser enormemente sublime, mas mesmo sendo tão sublime, foi capaz ainda assim, de Se expressar num corpo humano, durante os três anos após o Batismo. Mas sob que forma ele Se revela desde aquela época? Não mais no corpo físico, pois este foi abandonado à Terra física e é agora parte dela. Para aqueles que desenvolveram a força de olhar para essas coisas através do estudo da ciência oculta, é revelado que o Ser–Cristo pode agora ser reconhecido num ser que pertence à Hierarquia dos Anjos. Assim como o Salvador do mundo se manifestou durante os três anos depois do Batismo num corpo humano - apesar da Sua sublimidade - assim, desde aquele tempo, Ele Se manifesta diretamente como um Anjo, como um Ser espiritual que pertence ao nível hierárquico imediatamente acima daquele ao qual pertence a humanidade. Como tal, Ele sempre pode ser encontrado por aqueles que eram clarividentes, assim como Ele sempre esteve ligado à evolução. Tão verdadeiramente como o Cristo, quando encarnado no corpo de Jesus de Nazaré, era mais que humano, assim também é o Ser–Cristo mais que anjo – esta é somente sua forma exterior.
Mas o fato que um Ser poderoso, sublime desceu dos mundos espirituais e habitou por três anos num corpo humano também inclui o fato que durante este período o próprio Ser alcançou um estágio posterior em Seu desenvolvimento.
Quando um tal Ser toma a forma humana ou Angélica, Ele próprio progride.E é isto que eu indiquei quando falei da evolução de Cristo – Jehovah. Cristo alcançou o estágio no qual Ele Se revela desde então não como um ser humano, não através do Seu reflexo somente, não através do nome de Jehovah, mas diretamente e a grande diferença em todos os ensinamentos e toda a sabedoria que flui para dentro da evolução da Terra desde o Mistério do Gólgota, é que através da vinda de Micael – o Espírito Micael – para a Terra, através da sua inspiração, os seres humanos puderam gradualmente começar a entender tudo o que o impulso Crístico, tudo o que o Mistério do Gólgota significa. Mas anteriormente Micael era o mensageiro de Jehovah, o reflexo da luz do Cristo; Micael ainda não era o mensageiro do Próprio Cristo.
Micael inspirou a humanidade por muitos séculos, por mais de cinco séculos antes do Mistério do Gólgota, como foi indicado nos antigos Mistérios, por Platão e assim por diante. Mas logo depois que o Mistério do Gólgota aconteceu e que Cristo Se uniu à evolução da Terra, o impulso direto de Micael cessou. No tempo em que os antigos documentos que possuímos sob forma de Evangelhos foram escritos – como disse em meu livro O Cristianismo como fato Místico – o próprio Micael não pode mais inspirar a humanidade. Mesmo assim, os seres humanos continuaram a ser inspirados pelos companheiros de Micael entre os Arcanjos de tal forma que muita força anímica foi recebida inconscientemente através de inspiração.
Os próprios escritores dos Evangelhos não tinham um claro conhecimento oculto, pois a inspiração de Micael chegou ao fim logo após o Mistério do Gólgota e os outros Arcanjos, companheiros de Micael, não podiam inspirar a humanidade de tal forma a tornar o Mistério do Gólgota compreensível. Isto explica as inspirações divergentes dos vários ensinamentos cristãos. Muitos destes ensinamentos foram inspirados pelos companheiros de Micael. Ou seja, os ensinamentos não foram inspirados pelo próprio Micael, mas carregavam a mesma relação quanto a sua inspiração que os planetas têm com o poderoso sol.
Somente agora, em nossa época, existe novamente a influência de Micael, a direta inspiração de Micael. A preparação para esta inspiração direta de Micael foi acontecendo desde o século XVI. Naquele tempo, foi o Arcanjo que estava mais próximo a Micael que deu a inspiração à humanidade que levou às grande conquistas da moderna ciência natural. Esta ciência natural não é atribuível a Micael, mas a um de seus companheiros, Gabriel. A tendência desta inspiração científica é criar uma ciência, uma imagem de mundo relacionada ao cérebro físico, que promove a compreensão somente do mundo material.
Há poucas décadas Micael tomou o lugar de inspirador da ciência. E nos próximos séculos Micael dará ao mundo algo que, no sentido espiritual, será igualmente importante – de fato mais importante, porque mais espiritual – incomensuravelmente mais importante que a ciência física que avançou passo a passo desde o século XVI. Assim como seu companheiro Gabriel doou ao mundo a ciência, assim também irá doar à humanidade o conhecimento espiritual, do qual nós só estamos agora no início. Assim como quinhentos anos antes do Mistério do Gólgota Micael foi enviado como o mensageiro de Jehovah, como reflexo do Cristo, para fazer soar o tom daquela era, assim como ele era então o mensageiro de Jehovah, assim também agora, em nossa época Micael se tornou o mensageiro do próprio Cristo. Tal como nos antigos tempos Hebreus, que foram uma preparação direta para o Mistério do Gólgota, os iniciados entre os Hebreus podiam voltar a Micael como a revelação exterior de Jehovah ou Jahvéh, assim somos agora capazes de voltar a Micael – que de mensageiro de Jehovah se tornou o mensageiro do Cristo – para receber dele, durante os próximos séculos revelação espiritual crescente, que irá lançar mais e mais luz sobre o Mistério do Gólgota . O que aconteceu há 2000 anos só podia se tornar conhecido no mundo dentro das várias seitas cristãs e sua profundidade só pode ser desvelada no século XX, quando ao invés da ciência, o conhecimento espiritual do nosso tempo presente. Seremos capazes de perceber que nas últimas décadas uma porta se abriu, através da qual a compreensão pode entrar.
Micael pode nos dar nova luz espiritual que pode ser vista como uma transformação da luz que foi dada através dele no tempo do Mistério do Gólgota; e as pessoas hoje podem receber luz. Se pudermos compreender isso, podemos alcançar a abrangência da nova época que está agora vertendo sobre nós mesmos; podemos estar conscientes do despertar de uma revelação espiritual que está por entrar na vida da humanidade sobre a terra nos próximos séculos. De fato, porque os seres humanos se tornaram mais livres do que em tempos passados, devemos ser capazes através de nossas vontades, de progredir para o estágio no qual esta revelação pode ser recebida.
Devemos agora fazer referência ao evento nos mundos superiores que levou a este estado alterado da situação – a este tempo de uma renovação do Mistério do Gólgota.
Lembremos o que foi dito – que nos mundos invisíveis não há morte. O próprio Cristo, porque desceu ao nosso mundo, passou por uma morte semelhante à dos seres humanos. Quando novamente se tornou um Ser espiritual, Ele reteve a memória de Sua morte; mas como um ser de hierarquia dos Anjos, na qual Ele continua a Se manifestar externamente, Ele só pode experimentar uma diminuição de consciência.
Através daquilo que era uma necessidade para a evolução humana – desde o século XVI – ou seja, o triunfo da ciência natural em todos os níveis – algo penetrou a evolução humana que também era significativo para os mundos espirituais. Com o triunfo da ciência, sentimentos materialistas e agnósticos de intensidade maior do que nunca antes surgiram na natureza humana. Houve tendências materialistas em tempos antigos, mas não o intenso materialismo que prevaleceu desde o século XVI. De maneira crescente, as almas que passaram pelos portais da morte para dentro do mundo espiritual carregavam em si o surgimento das idéias materialistas que tiveram na terra. Depois do século XVI, mais e mais de tais sementes do materialismo foram levadas adiante – e estas sementes se desenvolveram de forma particular.
Cristo veio no antigo povo Hebreu e foi levada a Sua morte dentro dele. O Ser Angélico que, desde então, tem sido a forma externa assumida por Cristo, sofreu uma extinção de consciência ao longo dos dezenove séculos seguintes como um resultado das forças de oposição materialistas que foram trazidas para dentro do mundo espiritual pelas almas humanas que passaram pelo portal da morte. Este declínio de consciência nos mundos espirituais levará à ressurreição da consciência do Cristo nas almas dos seres humanos que vivem na Terra no século XX. Num certo sentido, pode ser dito que, iniciando no século XX, a consciência perdida pela humanidade surgirá novamente para a visão clarividente. De início apenas alguns e depois um número sempre crescente de seres humanos no século XX serão capazes de perceber a manifestação do Cristo Etérico – por assim dizer, o Cristo sob a forma de um Anjo. Foi pelo bem da humanidade que o que podemos chamar de uma extinção da consciência ocorreu nos mundos imediatamente acima do nosso mundo terrestre, onde o Cristo tem sido visível no período entre o Mistério do Gólgota e os dias de hoje.
No tempo do Mistério do Gólgota algo aconteceu num lugarejo pouco conhecido na Palestina, algo que foi o maior acontecimento de toda a evolução humana, mas pouco foi percebido pelas pessoas daquela época. Se isso pode acontecer, porque ficarmos espantados quando ouvimos que condições havia durante o século dezenove, sobre aquelas pessoas que desde o século XVI passaram pela morte e encontraram o Cristo?
Portanto a consciência do Cristo pode estar unida à consciência terrestre da humanidade daqui pra frente; pois a morte da consciência do Cristo na esfera dos Anjos no século XIX significa a ressurreição da consciência direta Cristo – ou seja, a vida do Cristo será sentida nas almas humanas cada vez mais como uma experiência pessoal direta do século XX em diante.
Uma vez aqueles que podiam ler sinais dos tempos foram capazes de perceber, contemplando o Mistério do Gólgota, que Cristo havia descido do mundo espiritual para viver na Terra e se submeter à morte, de tal forma que através de Sua morte as substâncias incorporadas Nele pudessem passar para a Terra; da mesma forma, hoje, somos capazes de perceber que em certos mundos imediatamente atrás do nosso uma espécie de morte espiritual, uma suspensão de consciência aconteceu. Isto é uma renovação do Mistério do Gólgota, a fim de possibilitar um despertar da consciência do Cristo anteriormente oculta no interior das almas humanas na terra.
Desde o Mistério do Gólgota muitos seres humanos foram capazes de proclamar o Nome de Cristo, e do século XX em diante um número sempre crescente será capaz de tornar conhecido o conhecimento do Cristo que é dado na Antroposofia. A partir de suas próprias experiências serão capazes de proclamá-lo. Já duas vezes o Cristo foi crucificado: uma vez fisicamente, no mundo físico no início de nossa era, e uma segunda vez espiritualmente, no século XIX, da maneira descrita acima. Poder-se-ia dizer que a humanidade experimentou a ressurreição de Seu corpo numa época passada e irá experimentar a ressurreição de Sua consciência do século XX em diante.
As breves indicações que pude lhes dar gradualmente encontrarão seu caminho para dentro das almas humanas e o mediador, o mensageiro será Micael, que é agora o embaixador do Cristo. Assim como uma vez ele levou almas humanas à compreensão da vida do Cristo descendo do céu para a Terra, assim também ele está agora preparando a humanidade para experimentar o surgimento da consciência do Cristo da esfera do desconhecimento para o âmbito do conhecido. E assim como na época da vida terrestre do Cristo a maior parte dos seus contemporâneos foram incapazes de acreditar que acontecimento magnífico havia acontecido na evolução terrestre, assim também, em nosso próprio tempo, o mundo exterior está lutando para fazer aumentar o poder do materialismo e irá continuar por muito tempo a olhar para o que foi dito hoje como pura fantasia, sonho e talvez até desatada loucura. Isto, também, será o veredicto sobre a verdade no que diz respeito a Micael, que no momento atual está começando a revelar o Cristo de novo. Mesmo assim, muitos seres humanos reconhecerão a nova aurora se aproximando, que durante os próximos séculos irá verter suas forças para dentro das almas humanas como um sol – pois Micael pode ser sempre associado ao sol. E mesmo que muitos falhem em reconhecer esta nova revelação de Micael, ela irá se espalhar pela humanidade inevitavelmente.