Textos Diversos
A PEDRA FUNDAMENTAL DO BEM COMO ASPECTO CENTRAL DA ANTROPOSOFIA E SEU EFEITO SOCIAL
Levando-se em conta as indicações de Steiner segundo as quais Ahriman se encarnaria no terceiro milênio, e ainda, as provas pelas quais a humanidade terá de passar relacionadas com este fato, as relações sociais entre as pessoas adquirem um significado especial – principalmente a necessidade de se formarem comunidades de uma maneira totalmente nova, cujo fundamento deve ser um impulso puramente espiritual; pois, quando seres humanos se unem em liberdade em torno de uma base puramente espiritual, eles podem provocar não apenas um incremento, mas uma potenciação das forças do Bem no mundo, algo que não é possível da mesma forma no caso de uma pessoa isolada. Sendo conhecedor desse segredo, Ahriman, ao encarnar-se na Terra, tentará corromper e submeter à sua influência, com todos os meios que estiverem á sua disposição, justamente as comunidades humanas, pois estas podem resistir de modo mais eficaz ao seu poder na humanidade. Por isso, tudo o que for pertinente à vida social e que não estiver permeado por um impulso espiritual cairá inevitavelmente sob a influência mágica de Ahriman. De fato, com sua encarnação todas as tendências do Mal se concentrarão como que num foco terrestre, motivo pelo qual também será extremamente difícil resistir ao seu poder sedutor.
O Apocalipse de João aponta para essa força de Satanás-Ahriman, capaz de corromper comunidades inteiras, pequenas e grandes ( ou seja, até nações inteiras), na imagem de Gog e Magog. Rudolf Steiner também falou sobre “a grande cena de sedução que Satanás pretende realizar com Gog e Magog. Ele explicou o significado dessa imagem apocalíptica da seguinte maneira:
Chegará o momento em que esse poder satânico realmente será tão grande – em conseqüência do que terá conseguido desenvolver esforçando-se em conquistar as forças da inteligência da humanidade – que se aproximará de todos os grupos que se tiverem formado; o poder de Satanás atuará realmente nos quatro cantos do mundo. E esses grupos, agrupamentos menores – Gog – ou agrupamentos maiores – Magog – estarão sujeitos à tentação, à sedução do poder satânico.
A única coisa que desde o início se encontra fora da esfera do poder de Satanás-Ahriman é a esfera espiritual e social, que gradualmente se deve formar, no seio da humanidade, tendo por ponto de partida a Ciência Espiritual:
Numa Ciência do Espírito cria-se então a outra esfera, onde não existe um elemento arimânico. E justamente por acolher aquela espiritualidade à qual os poderes arimânicos não têm acesso, por tê-la reconhecido, o ser humano estará fortalecido para enfrentar Ahriman no mundo.
Nesse contexto, o fato de Rudolf Steiner ter fundado a Sociedade Antroposófica Universal no Natal de 1923 como uma nova estrutura social, oriunda dos impulsos espirituais da Ciência do Espírito, adquire um sentido especial. Em nossa época, essa verdadeira Sociedade do Congresso de Natal deve ser uma imagem arquetípica de uma comunidade humana que não apenas consiga enfrentar Ahriman, mas que também seja capaz de realizar esse princípio de formação comunitária à qual Ahriman não terá acesso. Mas que princípio é esse?
Quando, no início do terceiro milênio, Ahriman surgir no Ocidente, ele advirá como um príncipe deste mundo, com muito poder, autoridade e força que rapidamente estenderá a todos os domínios da civilização atual. De fato, acontecerá aquilo que Vladimir Soloviev descreveu em traços gerais em seu “Breve conto sobre o Anti-Cristo”, ou seja: tudo o que estiver sujeito às forças deste mundo estará inevitavelmente sob seu domínio. Só escapará à sua influência aquilo que originalmente não tiver surgido deste mundo, e por isso, por sua própria natureza, não for acessível ao ‘príncipe deste mundo’. Em outras palavras: somente aquilo que tem sua origem no Reino de Cristo, e não no de Ahriman, tem condições de enfrentar o poder deste.
O próprio Cristo apontou para isto com as seguintes palavras: “O meu reino não é deste mundo”. Numa de suas palestras, Rudolf Steiner definiu estas palavras como “significativas, incisivas” para nossa época, considerando-as “palavras fundamentais do cristianismo, que deveriam percorrer o mundo inteiro como impulsos sagrados”. O Cristo veio ao mundo justamente onde reina o “príncipe deste mundo” para nele ancorar seu reino que “não é deste mundo”, e ao qual, precisamente por isso, Ahriman não tem acesso. Steiner ainda elaborou mais este pensamento em outra ocasião, numa palestra do mesmo ciclo:
O reino do Cristo Jesus não é deste mundo, mas deve atuar neste mundo, e as almas humanas devem tornar-se os instrumentos daquele reino que não é deste mundo.
Levando-se em conta a intensificação da atuação de Ahriman, o príncipe deste mundo, a tarefa mais importante é a formação, aqui na Terra, de comunidades constituídas por pessoas que impeçam sua entrada – comunidades cuja base seja algo originalmente afim ao reino de Cristo.
A partir de nossa época, o princípio social mais importante deverá ser um princípio comunitário totalmente novo, crístico. Trata-se do princípio de uma comunidade humana vivendo totalmente neste mundo, inserida na civilização da atualidade – pois é nesta que reside sua principal tarefa (vencer o príncipe deste mundo) – mas que ao mesmo tempo tenha como fundamento algo não oriundo dessa civilização pertencente a este mundo.
Tal princípio foi dado por Rudolf Steiner como alicerce à Sociedade Antroposófica Universal, que ele fundou no Natal de 23, tornando acessível `a humanidade uma perspectiva totalmente nova de desenvolvimento espiritual e social: pois a Sociedade Antroposófica Universal está completamente integrada na civilização atual, sendo até mesmo uma entidade civil registrada. Por outro lado, no ato de sua fundação, Rudolf Steiner deu à Sociedade, a Pedra Fundamental – que por sua natureza, não é deste mundo – para que a Sociedade sem cair sob o domínio das forças sedutoras de seu príncipe arimânico possa cumprir sua tarefa no reino deste.
Essa Pedra Fundamental do Congresso de Natal, a qual Rudolf Steiner também designou como uma figura imaginativa dodecaédrica do Amor, teve sua origem naquele mundo eterico-imaginativo em que o Cristo, sob uma nova forma etérica, se revela hoje `a humanidade. Rudolf Steiner trouxe esta Pedra Fundamental do reino atual do Cristo Etérico, do reino celestial de Shambala completamente renovado pelo Cristo – do qual, há milênios, todos os iniciados hauriram suas forças – oferecendo-a à Sociedade Antroposófica para que lhe servisse de fundamento espiritual em sua atuação terrestre futura.; uma Pedra Fundamental que nem mesmo as portas do inferno poderão subjugar.
Oferecendo essa Pedra Fundamental à Sociedade Antroposófica, Rudolf Steiner concedeu a esta, a oportunidade única de, no futuro, que se iniciará em breve, não cair sob o domínio das forças arimânicas do príncipe deste mundo, mas cumprir sua tarefa micaélica. À realização dessa possibilidade está vinculada uma prova muito séria, a ser enfrentada por todos ao antropósofos desde o congresso de Natal. Essa prova pode ser formulada aproximadamente da seguinte maneira: será que, graças à Ciência Espiritual, a ligação deles com o espírito tornou-se tão concreta que eles conseguem vivenciar a Pedra Fundamental supra-sensível como algo real, mantendo-se firmes sobre ela como sobre uma base inabalável, tanto como indivíduos quanto como comunidade no contexto do mundo terreno? Apenas vencendo essa prova e construindo com verdadeiro vigor sua vida inteira sobre essa Pedra Fundamental é que a Sociedade Antroposófica poderá gradualmente tornar-se o arquétipo de uma verdadeira comunidade cristã da época da alma da consciência – o arquétipo de uma comunidade aberta a todos os problemas e questões prementes da civilização atual, possuindo ao mesmo tempo, como seu centro e sua base inabalável, algo oriundo diretamente do mundo espiritual, e, por isso mesmo, de natureza esotérica. Então poderão cumprir-se na Sociedade Antroposófica as palavras de seu fundador, com as quais ele formulou sua verdadeira missão e em razão das quais ela foi fundada na Assembléia de Natal:
Temos de estar cientes de que justamente à nossa Sociedade caberá a tarefa de conjugar o verdadeiro esoterismo com a maior expressão pública imaginável.
Nas palavras de Rudolf Steiner, temos de solucionar esse problema básico em nossos corações, ou seja, onde depusermos a Pedra Fundamental.