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MICAEL e os MICAELITAS (Sergej O. Prokofieff)

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Em uma das últimas palestras proferidas por Rudolf Steiner no Grande Auditório do primeiro Goetheanum, apenas duas semanas antes da destruição do mesmo, na Noite de São Silvestre de 1922, ele transmitiu uma imagem impressionante da relação entre Micael e seus discípulos terrenos, ou seja, aquelas pessoas que hoje, com a ajuda da Antroposofia, procuram trilhar o caminho interior da transformação do pensar descrito neste livro. Este caminho começa com a transformação do pensar terreno, que inicialmente se movimenta apenas em categorias espaciais e se transforma num pensar ligado à corrente do tempo vivo e, por isso, pode entrar no mundo espiritual. Com isso foi dado o primeiro passo para devolver a inteligência tornada humana a Micael, seu antigo administrador.

 

A imagem descrita, ou melhor, essa imaginação Rudolf Steiner apresenta com as seguintes palavras: “A ciência que, como ciência espiritual antroposófica  espiritualiza novamente o julgamento do espaço, novamente o torna suprassensível, trabalha de baixo para cima, de certa forma estende as mãos de baixo para cima, a fim de tocar as mãos de Micael estendidas de cima para baixo. Pois é então que pode ser criada a ponte entre o ser humano e os deuses. (GA 219, 17/12/1922).

 

Após o Congresso de Natal, quando Rudolf Steiner pôde falar aberta e diretamente sobre o Mistério de Micael, ele descreveu o alvo desse caminho ainda da seguinte maneira: “Micael que se esforçou para chegar do Sol à Terra para aqueles (seres humanos) que veem o espiritual no cosmo, Micael que futuramente quer estabelecer sua sede nos corações, nas almas dos seres humanos terrenos” (GA 140, 21/8/1924).

Para realizar esse ideal e passar do aperto das mãos de Micael para a possibilidade de sua nova morada nos corações dos seres humanos, ainda  têm  de ser levados em consideração e realizados os  seguintes  passos intermediários.


Este texto é o epílogo (pg. 203) do livro publicado recentemente sob o título “Das Michael-Mysterium. Eine geisteswissenschaftliche Betrachtung der Michael-Imagination und ihrer Darstellung in Eurythmie“, Verlag des Ita Wegman Instituts, Arlesheim, ISBN 978-3-905919-36-3, CHF 42.-

 

Inicialmente tem de ser alcançado na alma humana aquele estado no qual os corações “começam a ter pensamentos”. Isso significa encontrar uma transição dos pensamentos espaciais para aqueles que transcorrem no elemento temporal, sendo assim os únicos em condições de abranger conteúdos espirituais: “Conteúdos que hoje aspiram a compreensão do espiritual têm de provir de corações que batem por Micael, como o príncipe ardente dos pensamentos cósmicos.

 

Para que isso possa acontecer – e o que vem a seguir é apenas o outro lado do mesmo processo – é preciso aprender, com a ajuda da Antroposofia e suas comunicações sobre o mundo espiritual, a desenvolver em si a capacidade de ver por toda a parte, no material, a ação do espiritual. Pois, apenas desta maneira é possível escapar das tentações da nossa civilização terrestre atual, na qual hoje muitas vezes reinam poderes arimânicos. Para tanto, o ser humano necessita de uma força interior de sua alma, a força do verdadeiro pensar espiritual, que em todo lugar procura a possibilidade de compreender o mundo, no sentido de Micael, e observá-lo com os seus olhos. “Micael é o espírito da força ... Micael tem de penetrar-nos como a força possante que consegue ver através do material, vendo ao mesmo tempo o espiritual, vendo em toda a parte o espírito no material” (GA 194, 22/11/1919).

 

É apenas sobre essa base que a ação do dragão arimânico pode ser vencida. Assim, também do mundo espiritual que confina com a terra, o próprio Micael olha para as ações dos seres humanos e toda a civilização terrena. Somente enquanto essas ações não forem possuídas pelas forças do dragão, Micael pode aceitar o mundo. “Ele peregrina qual entidade como um mundo, apenas afirmando-se a si mesmo ao afirmar o mundo, como que conduzindo forças de todos os lugares do cosmo para a terra.”  Pois ele só aceita um mundo que não contenha nada arimânico.

 

Essa confirmação do mundo por Micael baseia-se no fato de ele não assumir compromissos em nenhum lugar, nem de forma alguma, com o poder adversário arimânico ou – falando mais imageticamente – de ele manter constantemente o dragão sob seus pés. Ao mesmo tempo ele vive com a grande questão, sobre se na terra se encontram seres humanos que querem e podem assumir essa sua característica. É aqui que reside sua grande preocupação com o desenvolvimento da humanidade, mas também pelo estado interior dos seus discípulos na terra. “Ele sabe: para si ele sempre manterá Árimã sob seus pés; mas também será assim para os seres humanos?”

 

Em nossa época da liberdade, ele aparece aos seres humanos como grande exemplo para tudo que eles devem alcançar na atual época de Micael. “Porém, como uma ação majestosa e exemplar no mundo suprassensível que faz limite com o mundo visível, Micael pode desenvolver o que ele quer desenvolver.” Acompanhá-lo significa antes de mais nada, uma total falta de compromisso com relação aos poderes arimânicos, que em nossa época, agem como as forças do dragão entre os seres humanos.

 

Será que hoje o ser humano conseguirá manter sob seus pés esses poderes adversos segundo o exemplo de Micael? Micael lhe dá a força para tanto. Porém, se o ser humano realmente vai assumi-la, permanece uma questão aberta também para aqueles que são seus discípulos na terra. Será que a porta da Sociedade Antroposófica, como a comunidade micaélica realmente existente na terra, permanecerá fechada diante de Árimã, ou ele poderá exercer sua atividade anti micaélica também lá onde, no fundo, apenas a força de Micael tem o direito de reinar?

 

Hoje, esta é a questão decisiva para a Sociedade Antroposófica e, sobretudo, para o seu centro visível, o Goetheanum em Dornach. Será que, partindo das forças espirituais do lugar, onde há quase cem anos atrás (1923/1924) foram fundados os novos Mistérios micaélicos, esta Sociedade conseguirá tornar-se centro, manancial do qual os impulsos micaélicos podem e têm de correr para o mundo atual? Ou ela será arrastada pelo turbilhão arimânico, cujo desejo é levar toda a civilização terrena para o abismo?

 

Dito ao nível da escola de Micael na Terra, isso significa: Esta escola estará em condições de ser uma contra imagem, uma contra força que se opõe às tentações e influências da escola subterrânea de Árimã já tão poderosamente ativas ao nosso redor? Os discípulos de Micael estarão em condições de paralisar os múltiplos efeitos por meio de seu trabalho sério e resoluto com a substância esotérica da escola que lhes foi confiada? O que disso depende hoje em dia, tem uma importância incomensurável.

 

Para realizar esta tarefa, faz-se necessária, sobretudo, certa qualidade específica que também faz parte das virtudes fundamentais de Micael – muita coragem. Pois Micael é o Espírito da Coragem e para a realização de seus alvos na Terra, ele precisa apenas de pessoas realmente corajosas: “Micael é um espírito poderoso, e só pode ter necessidade de seres humanos corajosos, seres humanos interiormente corajosos” (GA 237, 3/8/1924).

 

Desse modo também a futura festa de Micael está ligada à essência da coragem, essencialmente necessária se houver o desejo de ser um verdadeiro adepto de Micael. Pois na verdade o homem de hoje não gosta disso. “Ele não quer ser um adepto de Micael. (Pois) para tanto é preciso coragem interior. Essa coragem interior tem de ser comemorada na festa de Micael” (GA 223, 8/4/1923).

 

Agora podemos nos perguntar: Qual é hoje a situação desta qualidade anímica nos antropósofos? Eles possuem a verdadeira coragem micaélica e fizeram dela sua virtude mais importante? Ou eles agem cada vez mais apenas correspondendo ao que lhes é impingido do mundo exterior como sedução arimânica? Neste sentido, com o movimento antroposófico e com a Sociedade Antroposófica, de fato, nos encontramos numa encruzilhada. As provações estão aí. Pois sem estas não se pode percorrer nenhum caminho de iniciação: a prova do fogo, a prova da água e a prova do ar. Com a primeira aprende-se a captar o espiritual atrás do físico; com a segunda, pela leitura na luz astral - ou seja, hoje, por meio das comunicações da ciência espiritual - se é estimulado em suas ações; com a terceira  leva-se as próprias ações ao encontro de Micael, tendo que conseguir a coragem de suportar a espera, num espaço como que sem ar, até  Micael emitir seu julgamento sobre o agir, em nome dos poderes superiores.

 

Este é hoje o caminho para o templo dos novos Mistérios, o único em que se torna possível a entrada de Micael no coração humano. Somente assim o discípulo de Micael vem a ser um verdadeiro micaelita.

Trad.: K. Glass