Histórias
O Dragão Invasor (Christa Glass)
Christa Glass
Era uma vez um rei bom, sábio e possuidor de muitas riquezas. Era respeitado e benquisto por todos, seu reino era próspero e o povo era feliz.
Certo dia, o céu escureceu de repente, e um imenso dragão invadiu o reino, gritando assustadoramente:
- O rei! Quero falar com o rei o senão destruirei com meu fogo todas as plantações e florestas do reino! Quero falar com o rei!
O rei foi ao encontro do terrível dragão e perguntou:
- O que quer de mim? Que posso fazer para não destruir meu reino e maltratar meu povo?
- Quero que me dê três sacos seios de riquezas!
O rei mandou seus serviçais encherem três sacos com ouro, pedras preciosas e objetos valiosos e entregá-los ao dragão. Este pegou os sacos e saiu voando para as montanhas, onde uma enorme gruta lhe servia de moradia. Espalhou todo o conteúdo dos sacos pelo chão, deleitando-se com a beleza e o brilho dos objetos. Para que ninguém lhe roubasse sua riqueza, deitou-se sobre ela.
Passou-se um ano. Novamente o céu do reino escureceu, e o dragão voltou exigindo três sacos cheios das riquezas do reino. E isso se repetiu o ano todo, e depois de sete anos, já não havia mais riquezas. O rei tornara-se um rei pobre, triste e preocupado com o que iria acontecer da próxima vez que o dragão viesse buscar mais riquezas.
Quando, no ano seguinte, o dragão apareceu e soube que o rei não tinha mais nada para lhe dar, ficou furioso, e seus urros faziam a terra estremecer. De repente o dragão se calou, pensou um pouco e disse:
- Não porei fogo em seu reino se você me entregar sua filha. Ela poderá cuidar de minha casa e cantar para mim, com sua bela voz, todas as canções que souber. Será muito bom adormecer ao som de canções.
O rei empalideceu com o susto que levou.
- Não – disse ele – minha filha você não pode levar!
- Então porei fogo em todo o seu reino!
Nesse momento, a filha do rei saiu do castelo e pediu:
- Meu pai, deixe-me ir com o dragão, cuidarei de tudo como ele desejar, e assim não fará mal ao nosso povo.
Desesperados, o rei e todo o povo viram a filha do rei montar nas costas do dragão e desaparecer com ele atrás das montanhas.
O rei ficou mais triste ainda, sentindo falta de sua filha querida e mandou anunciar em todos os reinos vizinhos que daria sua filha em casamento, seu reino e toda a riqueza que o dragão levara, ao jovem que o dominasse e o vencesse.
Muitos jovens fortes e valentes tentaram libertar a filha do rei, mas nenhum voltou para contar como foi sua luta. Certo dia, apareceu no reino um alfaiate muito corajoso e esperto, que quis apresentar-se ao rei e oferecer-se para libertar sua filha.
- Reflita bem sobre o que quer fazer. Muitos já tentaram lutar com o dragão e ninguém voltou.
- Estou decidido e quero ir!
- Então vá à luta, meu filho, e que Deus o acompanhe!
O jovem caminhou durante muitos dias até chegar ao pé da montanha. Todas as noites, antes de adormecer, lembrava-se de seu grande guia e herói. Pensava no arcanjo Micael e em sua força e sua coragem para lutar contra o dragão e, numa prece, pedia:
- Ò Micael, ajuda-me a ajudar o rei e aquele povo tão sofrido; dá-me força e coragem para vencer o dragão e libertar a pobre filha do rei.
Quando o alfaiate chegou ás montanhas, ouviu um barulho ensurdecedor que fazia as árvores e as pedras estremecerem. Era o ronco do dragão, que estava dormido em sua gruta, sobre as riquezas tiradas do rei. Chegando á entrada da gruta, o alfaiate, sem fazer barulho, tirou de sua caixa de costura uma agulha de ferro muito dura e comprida, assim como um fio de linha muito resistente que tinha ganho de um gnomo amigo. Com muito cuidado, começou a costurar uma asa do dragão na outra e, depois, costurou um pé no outro. A agulha era tão fina que o dragão nada sentiu.
Pouco tempo depois o dragão acordou e, quando viu o jovem na frente da gruta, ficou furioso!
- O que você está fazendo aqui? Vá embora senão lançarei minhas labaredas de fogo sobre você e o queimarei todo!
O jovem só se afastou um pouco, o suficiente para que o fogo não o alcançasse.
O dragão quis levantar-se e persegui-lo, mas logo caiu com seu pés presos. Urrou de raiva e quis sair voando, para se lançar sobre o jovem alfaiate, e percebeu que suas assas também estavam presas. Furioso, jogou-se para lá e para cá tentando romper a costura, mas tudo foi em vão.
Cansado, desesperado, com fome e com o corpo dolorido, o dragão se dirigiu choroso para o jovem:
- Olha, jovem, assim não dá para continuar, eu não consigo sair e você não consegue entrar para buscar a filha do rei e nem para pegar as riquezas que estão debaixo do meu corpo. Vou lhe dar três enigmas para adivinhar. Se errar um só, você terá de abrir a costura de minhas asas e dos meus pés, e eu prometo que não lhe farei nada de mal se for embora para nunca mais voltar.
- E se eu acertar todas?
- Você abre as costuras, eu vou embora e você fica com a filha do rei e com as riquezas do rei.
- E você tem que prometer que também vai embora para nunca mais voltar.
De má vontade o dragão prometeu!
- Vou fazer-lhe a primeira pergunta: Quem é maior que eu, tem mais fogo que eu e é mais sábio que eu?
O jovem alfaiate pensou, pensou, pensou e finalmente disse:
- è o sol. Ele é maior que você, tem mais fogo que você e, como ilumina o mundo inteiro, sabe de tudo o que acontece, conhece todos os segredos.
- Ui, ui, ui, ui, ui – uivou o dragão – Esta resposta você acertou. Diga-me agora, seu espertalhão, qual é a escrita que revela toda a sabedoria do mundo?
O jovem alfaiate pensou, pensou, pensou e disse:
- È a escrita das estrelas que revela toda a sabedoria. Foi nas estrelas que os três reis magos leram que o Menino Jesus tinha nascido.
- Ui, ui, ui, ui, ui – uivou o dragão mais forte ainda. Esta resposta também está certa. Mas a última pergunta você certamente não vai acertar! Está escondido na escuridão da terra, é tão duro que nada o consegue quebrar. Mas, quando está fora da terra, na claridade do sol, parece delicado, e brilha nas cores do arco-íris como uma gota de orvalho.
O jovem pensou, pensou, pensou e finalmente disse:
- Só pode ser o diamante, que fica escondido na terra e que quando alguém o encontra e o sol bate nele, ele brilha como uma gota de orvalho.
O dragão uivou furioso, jogou-se de um lado para o outro, fazendo todas as montanhas tremerem.
- Você acertou os três enigmas- disse choroso – agora só me resta partir e nunca mais voltar depois que você desatar as costuras dos meus pés e das minhas asas.
O alfaiate pegou a tesoura que seu amigo gnomo lhe dera e conseguiu cortar com facilidade os fios da costura.
Cabisbaixo, o dragão saiu cambaleando da gruta e, com muito esforço, levantou vôo e desapareceu atrás das montanhas.
Pálida de susto e muito feliz pela libertação, a filha do rei apareceu da gruta e correu cheia de gratidão para abraçar o jovem alfaiate que a salvara. Os dois voltaram para o castelo o mais depressa que puderam. O rei e o povo não sabiam o que fazer de tanta alegria e felicidade.
O rei logo entregou o reino ao jovem, que então se tornou rei. Ele foi um rei muito bom, sábio e possuidor de muitas riquezas.
A primeira coisa que o jovem rei fez, foi construir uma bela igreja, num gesto de gratidão para com seu guia e protetor, o arcanjo Micael. Ele também era venerado por todas as pessoas do reino.