Celebrando como Adultos
Preparação dos adultos para a festa de Micael (Freya Jaffke)
Freya Jaffke
(Tradução Christa Glass)
(o texto refere-se às estações anuais no hemisfério norte)
Depois de termos olhado a colheita no outono, queremos olhar para outro aspecto desta época do ano. Seguindo a grande inspiração da Terra, que teve o seu início depois (10 Solstício do verão e se estende até o solstício dc inverno, veremos então, no fim dc setembro, a época dc Micael nitidamente como um limiar. É como se aqui ocorresse um duelo entre luz e escuridão. Os dias ficam nitidamente mais curtos, ou seja, a luz solar diminui visivelmente, e as forças vitais se retiram dos processos da natureza. Mas o homem contrapõe algo a este morrer da natureza quando ele acolhe em si a luz veranina. Então, no inverno profundo, ele a pode transformar cm luz anímica que permeia luzenternente o Natal. Isto acontece tanto melhor, quanto mais consciência está presente ao passarmos do limiar do outono por ocasião da época de Micael.
Antes de olharmos para a preparação e a forma de uma festa de Micael com as crianças, vamos nos fazer a seguinte pergunta: Como nós, como adultos, podemos encontrar unia referência para esta festa sem que nos apoiemos em nenhuma tradição?
Em grandes imagens imponentes, é nos comunicado no Apocalipse de João, capítulo 12, a luta do arcanjo Micael com o dragão: “E irrompeu uma feérica luta no mundo celestial. Micael e seus anjos lutaram contra o dragão. E o dragão lutava no meio de seus anjos”. Micael conseguiu dominar o dragão e o arrebatou para a Terra. “Pobre Terra e mares, a vocês desceu o dragão”. (Apocalipse 12.12)
Pressente-se o valor de tal imagem simbólica, justamente para a humanidade atual, quando olhamos para trás, para antigas época da humanidade. Considerando as apresentações da história do paraíso, o homem ainda estava ligado com o mundo divino, vivia próximo a Deus, em épocas remotas. Depois da expulsão do Paraíso, o homem dirigiu sua consciência, cada vez mais, para o mundo sensorial. Ele próprio passou por experiências no mundo material e exercitou nele sua inteligência e forças de compreensão. Com isto, porém, turvou-se cada vez mais sua referência ao mundo divino-espiritual, e o homem sentiu-se cada vez mais independente e livre. Mas na terra se encontra o poder pernicioso do mal, das trevas, ou como é dito imageticamente no Apocalipse, o dragão. Este procura distrair as pessoas desviá-las do espiritual e algemá-las ao mundo material. Diariamente somos testemunhas de sua destruição por meio da violência, do ódio, da mentira e mais outros aspectos, e sentimos nitidamente que é necessário um grande empenho para a aquisição de forças e veracidade para lhe fazer oposição. Porém, neste esforço interior e exterior, podemos contar com a ajuda de seres espirituais, quando não nos fechamos a eles.
Quando você expulsa de si toda a irriquietude e agitação, São Micael expulsa dos céus o dragão.
Angelius Silesius
Desde tempos remotos existiam na terra as assim chamadas escolas de mistérios ou de auto-educação, nas quais as pessoas eleitas recebiam intensivamente instruções espirituais e conhecimentos profundos. Com isto, tornavam-se capazes de cultivar conscientemente sua ligação com os mundos espirituais. Tinham, portanto a capacidade de ver o espiritual. Elas eram os Sumos Sacerdotes ou iniciados que, durante um, longo período guiaram a humanidade em seu desenvolvimento e que, por meio de sua orientação, levou-a cada vez mais para uma autonomia e para a liberdade, O homem de hoje se esteia totalmente sobre si mesmo. Por sua própria força de consciência e por uma total liberdade interior,o homem pode procurar sua ligação com os mundos superiores. O arcanjo Micael é visto como um guardião especial das escolas de mistério ou de iniciação. E, assim, podemos dizer que o desejo de Micael é de que a capacidade cognitiva do homem, que se prendeu cada vez mais à matéria, dirija novamente sua cognição às realidades espirituais. Desta maneira, o homem se encontra, mais do que nunca, na lula contra o poder das trevas. Nós encontramos o palco desta luta tanto no nosso derredor como em nós mesmos. Podemos vivenciar diariamente a existência de uma luta em nós, por exemplo, na tentativa de dominarmos a preguiça interior. Mas, quando conseguimos nos opor às forças que nos querem desviar, podemo-nos sentir unidos com as forças de Micael, que nos incentivam a uma caminhada corajosa e repleta de forças.
Em muitos lugares do mundo encontramos igrejas e capelas de Micael ou também montanhas sacramentadas a Micael. Muitos destes lugares nos indicam que outrora se encontravam lá centros de mistérios ou que lá ocorreram revelações de Micael. O quanto Micael era venerado na Idade Média podemos ver neste hino:
Micael! Altíssimo, poderoso soberano do céu,
Que carregas o brilho dourado,
Do rei Cristo
Santificado é o Teu nome, ó Micael:
“Que é como Deus”
Como companheiro dos Tronos,
Tu és a pedra fundamental do firmamento.
Tu te encontras no burgo dos Quiriótetes
E te sobressais nos Dinameis
Entre os Exusiais e Arqueus
Tu apareces como brilhante luz celestial
Depois, no coro sagrado dos Querubins
Tu és portador do fogo purificador
E reges sobre os Serafins
Apoiado em tua lança sagrada.
Tu és a face
Da ordem nove vezes desmembrada dos Anjos.
Tu és companheiro de Une!
De Gabriel e de Rafael
Que, cada um com seis chamas esvoaçantes,
Encobrem luminosamente flamejante
A divindade desde o início, nos primórdios do mundo.
Realmente, fiques também no fim dos Tempos
Sempre ligado com o necessário.
(De um hino gótico sobre o arcanjo Micael)
Em pinturas antigas, podemos ver representações de Micael na luta com o dragão, em que ele guerreia com a lança ou com a espada. Também vemos rviicaei com a balança ou o globo do mundo. Quando nos aprofundamos na observação destas pinturas, também podemos, por seu intermédio, encontrar um acesso mais consciente a Micael. Primeiro olharemos para a lança. Ela é a imagem para o apontar seguro na direção da meta. Ao mesmo tempo, ela exige certo distanciamento, pois luta-se com ela mantendo certa distância. Fazemos o mesmo com nossa consciência quando, inicialmente, focalizamos algo, quando, por exemplo, olhamos para um fato e nos postamos diante dele com distanciamento no processo de pensar. Falamos de consciência objetiva e de representação mental.
A lança de Micael atinge o alvo (meta), mas seu olhar não está dirigido para ele. Isto significa que ele tem a capacidade dc dominar seu oponente com uma força interior. Na espada temos a imagem que tem a ver com o separar, 011 seja, depois de termos enfocado algo, nosso pensar tem a capacidade de separar singularidades e de discernir. Também falamos em agudez do pensar. Vemos em muitas representações artísticas como Micael arca a espada acima de sua cabeça como se ela fosse desembainhada da esfera dos pensamentos.
Encontramos outro atributo na imagem da balança. Aquilo que inicialmente enfocamos e depois separamos agora tem de ser pesado, ponderado. Temos de tomar uma decisão moral. O pensar nos leva a uma busca do equilíbrio, do meio repousante. Também no homem o coração pode e deve se manifestar quando se conquistou um esclarecimento pensamental.
Assim, a imagem de Micael com a balança nos mostra a atuação conjunta de nossa inteligência desperta com as forças do coração.
O globo terrestre é uma imagem para a unidade que encerra tudo em si, onde a terra e o cosmo estão unidos, uma imagem para unidade total. Micael, com o globo terrestre, quer nos dizer que ele está ligado a todos os acontecimentos cósmicos no céu e na Terra.
Os pensamentos iniciais, dedicados à compreensão da figura de Micael, não devem ser fechados sem que olhemos para a força anímica da coragem. Micael é o representante das forças da coragem. Ele não recua, ele se defronta corajosamente com sua tarefa e sabe como dominar a potência adversa a partir de uma força anímica interior.
Para as crianças pequenas, estas forças anímicas da coragem são vivenciáveis nas imagens contidas nos contos de fadas, quando ouvem, por exemplo, das tarefas, das provas ou do auto-domínio do filho de um rei. As crianças se identificam com ele, sofrem, temem e se alegram com ele, e isto fortalece sua capacidade anímica da coragem. As crianças também percebem no adulto que é possível dominar o medo e é por isso que elas confiam nele e procuram proteção. Criar situações para a criança dar provas de coragem só tem sentido, no mínimo, depois da maturidade escolar.
(extraído do livrinho de Fraya Jaffke sobre as festas do ano)