Celebrando com Crianças
Época de Micael
Desde o século IX se festeja o dia 29 de setembro como o dia de São Micael e os festejos seguem por mais quatro semanas. Micael tem uma tarefa muito especial que é impulsionar a humanidade para que reconheça o espiritual como sendo realidade e o vivencie, passo a passo, para que então o espiritual se torne atuante nas ações.
O modo como realmente deve ser uma Festa de Micael para a humanidade, ainda é uma tarefa a ser realizada no futuro. Mesmo assim, podemos tentar encontrar um meio e, com toda humildade, esforçar-nos para despertar nas crianças uma idéia sutil de Micael.
Não será difícil achar uma apresentação adequada para a mesa ou o cantinho de festas, pois há inúmeras delas. Uma imagem aproximadamente completa da entidade e da atuação de Micael, nos poderá ser dada somente por uma visão conjunta de várias imagens com os mais variados aspectos deste ser. Vejamos alguns.
Ilustrações: Muitas ilustrações trazem Micael lutando contra o dragão, que quase sempre representa o diabo. Micael (que significa: Quem é como Deus?) é um ajudante incentivador e encorajador do homem em sua disputa com o mal, com as forças antagônicas. Em todas as boas representações pode-se ver que o dragão de baixo de seus pés não esta morto, mas com a força descomunal vencida, subjugada. Assim, Micael ajuda aos homens e lhes consegue dar espaço para uma atividade própria, porque conseguiu impor limites à força descomunal do maligno.
Outro motivo básico que se pode encontrar é Micael segurando uma balança. Assim é que ele aparece em representações do juízo final ou em cenas que caracterizam a vida após a morte. O bem e o mal são pesados conjuntamente, e a alma humana vivencia então como doloroso aquilo que, pelo seu atuar, pesou no lado mau, e como bem-aventurança o que pode ser pesado no lado bom.
Micael representado com um globo terrestre transparente, que muitas vezes traz um símbolo crístico, no centro, mostra-nos sua prontidão e atuação para formar um mundo novo (na Bíblia em Apocalipse de São João, 21): A construção de uma Jerusalém celestial.
Mais raras são as representações de Micael sob a cruz do Gôlgata, ou Micael como acompanhante de pessoas falecidas, ou como guardião nos portais de igrejas. Um sem número de imagens o mostra como atuando em lendas. Nestas, conta-se como sua atuação foi uma ajuda da em destinos humanos isolados. (A palavra lenda = legenda, tem origem no latim e significa ler, interpretar. Logo uma lenda deve ser lida com a compreensão adequada para ser entendida corretamente).
Mesa de festas: deve-se escolher a representação mais adequada e, quando as crianças tiverem crescido, se poderá variá-la, para que cada atuação de Micael tenha a sua vez de estar em evidência.
Micael está numa soleira, num limiar, e indica aos homens a outra vida, diversa, resultante do espírito. Um ramo de folhas coloridas do outono e outro de bagos ou frutinhas silvestres refletem um pouco deste ambiente, desta atmosfera.
O pão de Micael: Com tudo o que faz, Micael nos quer aproximar da compreensão daquilo que o Cristo fez e sempre faz por nós.
Se colocarmos, no cantinho das festas, as dádivas da natureza, teremos feito, de um modo sutil, uma relação com os profundos mistérios do Cristianismo. Em diferentes partes da Europa, conhece-se o pão ou o bolo de São Micael. Este uso pode ser retomado e, no dia, haverá então na mesa de festas uma cesta de pãezinhos (levemente adocicados e com uva-passa) na feitura dos quais, logicamente, as crianças participaram.
A balança: Há poucas tradições para esta época. Mas, para que as crianças participem atuando nos preparativos e demonstrem sua boa vontade (o que é o ponto importante e essencial desta época) pode-se fazer o seguinte: Na manhã do dia festivo, em cima da mesa de festas, encontra-se uma balança de dois pratos (pode ser feita facilmente com material simples de encontrar). Um prato se acha bem baixo, pesado, com uma pedra escura, escurecida ou tingida. A criança deve ajudar então, diariamente, São Micael e poderá colocar no outro prato uma pedrinha que tenha encontrado no jardim ou em passeios. Pedra que deverá ser bem clara, talvez com um desenho especial ou de formato distinto; ou a criança transforma uma pedrinha simples em uma “preciosa”, enfeitando-a com pedacinhos de massa de cera de abelha. À noite, quando já passou o dia com suas vivências, chega o momento adequado para a pequena cerimônia da pesagem. A criança vivência então como, diariamente, o prato do lado bom vai ficando cada vez mais pesado, chegando ao equilíbrio e finalmente alcançando o vitorioso peso maior. Também, numa ocasião propícia, pode-se contar à criança que nada se perde, nem o mínimo ato bom, por menor que seja, e que passou despercebido de todos, pois nos mundos celestiais ele é recebido com muita alegria e fortalece a força do bem no mundo. Na noite após a época festiva (sábado após o quarto domingo), os dois pratos devem ser esvaziados e as pedrinhas devem desaparecer. Não são guardadas e, sim, procuradas cada ano novamente, para que adquira sentido o que a criança faz. Com isto, as quatro semanas de festas micaélicas não são vivenciadas como se perdessem suas forças; pelo contrário, neste pequeno exercício se perceberá uma força crescente.
Empinar um papagaio: É uma tradição muito propicia para esta época. As crianças maiores terão alegria em empinar papagaios feitos por elas próprias com os pais. É uma vivência infantil muito especial ter o controle, em sua mão, do papagaio que flutua tão alto lá em cima - e também de poder trazê-lo de volta para baixo! É um símbolo que fala por si.
O dragão sob os pés: Talvez se possa achar uma raiz de forma bizarra. Com a ajuda de cera de abelha colorida para modelagem e um pouco de fantasia (imaginação) poderá surgir um dragão de talvez até várias cabeças. Em cima dele ficará de pé o arcanjo Micael, também modelado pela mesma cera. Toda família poderá moldar estas formas e será uma vivência muito importante para a criança. Na mesa de festas, fica o local de colocar a imagem trabalhada em conjunto.
Dramatizações: Quando se reúnem crianças nesta época, ficará fácil dramatizar pequenas lendas e histórias com roupas adequadas, facilmente encontradas. Após ouvirem a história, as crianças são vestidas, combina-se em poucas palavras o transcorrer da peça, e ela pode começar. Às vezes, é aconselhável tomar somente cenas ou acontecimentos curtos, isolados e relatar a história nos intervalos.
Como as crianças se identificam e assumem facilmente sua personagem, estas brincadeiras podem ser usadas nesta época, através da escolha de histórias próprias, para fortalecerem o impulso específico da época: fazer o bom e o bem corajosamente e igualmente trazer absolvição e libertação para o mundo.
(Livro “Festejando as festas anuais com crianças” (pg 78-84)
Stuttgart v. Brigitte Barz)
(extraído da Revista Nós 1990 – Escola Waldorf Rudolf Steiner)