Festas Cristãs

Pesquisar, Visualizar e Navegar

Tamanho da fonte:

Textos Diversos

Reflexões (Luiza Lameirão)

Atenção, abrir em uma nova janela. PDFImprimirE-mail

 Quando verdadeiramente, decidimos realizar algo, somos capazes de transformar condições precárias, e até mesmo adversas, em oportunidades. Por exemplo, pode haver uma praça descuidada perto de nossa casa, com bancos quebrados, muito mato, calçadas esburacadas... e mesmo com a correria do dia-a-dia e a falta de recursos imediatos, resolvemos cuidar dessa praça, cultivar pequenas flores, cercar ou colocar estacas nas árvores para que elas cresças eretas.

 Talvez alguns vizinhos notem a diferença e resolvam participar, e assim todo o trabalho se torna mais frutífero. A praça se embeleza e passa a ser freqüentada, a alegria e o entusiasmo são contagiantes diante da conquista. Mesmo assim, ainda resta uma questão: conseguiremos mantê-la, ou também melhorá-la?

 Todos nós temos também um canteiro interior que exige cuidados. Em nosso jardim interno, podem crescer árvores frondosas, eretas e belas como os ipês que recentemente coloriram nossos pátios, ruas e praças. Com suas copas altas eles estão bem perto da luz. Mas, no jardim interno também podem crescer ervas daninhas que se estalam pelo nosso descuido, medo, preguiça ou fraqueza. Até a nova planta que começa a crescer muitas vezes nos assusta; temos medo do desconhecido. Quando bem direcionado, esse sentimento pode se tornar o sinalizador para um novo despertar. No entanto, se desenvolvermos um temor ou uma aflição diante desse sentimento então esse medo pode se transformar num grande monstro que nos paralisa.
 Quem são os vizinhos, ou melhor, os parceiros nesta ação de zelar pelo jardim interior?

 Há um ser que nos acompanha em cada um de nossos propósitos, de nossas atitudes individuais; com toda inteireza, ele cuida de nossos ideais de vida; sua maior qualidade é a fidelidade. As crianças estão sempre protegidas por ele, e mantêm com esse ser uma relação natural. Essa relação se transforma quando nos tornamos adulto; para nos comunicarmos com ele, devemos desenvolver uma linguagem apropriada, por exemplo, a que poetas e artistas edificam com tanta vivacidade. E nós podemos, convivendo com suas obras, caminhar com eles, aprendendo a sua linguagem.

 E, é claro, como em toda boa relação, quanto mais freqüentemente nos comunicamos, mais intenso e frutífero é o relacionamento. A partir dessa convivência nos tornamos co-regentes de nossa vida, e o Anjo, este “gêmeo” que sempre nos acompanha, torna-se nosso parceiro, dando-nos força e direcionamento para decisões e empreendimentos.

 A vida, o destino, também nos coloca em uma família, uma escola, um povo, um grupo de trabalho... O que fazemos em conjunto com as pessoas que nos cercam, especialmente quando temos um ideal em comum pelo qual lutamos e direcionamos nossas ações nos traz coragem, que se origina de outros companheiros espirituais. Estes são os que nos encorajam e nos impulsionam para a vida em grupo, para a vida em comunidade.

 Nosso tempo – esse momento histórico em que vivemos – tem características próprias que o diferencia dos anteriores e dos que ainda virão. O individualista cresce, a perda dos parâmetros tradicionais, a violência e sua contrapartida: a apatia, são aspectos que se tornam atualmente cada vez mais evidentes. Que ser espiritual está agindo? O que está por traz destes fenômenos?

 Estes seres embora invisíveis são reais! Eles nos incentivam e fortalecem, são os portadores de sementes para os canteiros do jardim interior. Se bem cuidadas, eles crescem, florescem e até frutificam, possibilitando que novas semente sejam colocadas em outros jardins. Entretanto, há também aqueles que colocam mudas viçosas de ervas daninhas ou minúsculas sementes de um mato que cresce rápido e toma conta do canteiro, incitando a violência, os preconceitos, o egoísmo, a inveja, o ciúme, a ambição... Talvez o consumo de drogas e o alcoolismo sejam distrações, fugas que nos impedem de ter os cuidados necessários para que as ervas daninhas não sufoquem aquilo que quer crescer e frutificar em nosso jardim interno.

 Que passamos nos dedicar intensamente aos cuidados com o nosso próprio jardim interior. Como já nos disse sabiamente João Guimarães Rosa: ”A colheita é comum, porém o capinar é sozinho”.

 

(extraído da Revista Nós época de Micael 2006 – EWRS)