Textos Diversos
A Forte Presença do Espírito (Willy Nüesch)
O tempo entre a Ascensão e Pentecostes, nos traz a lembrança dos dez dias especiais, durante os quais os discípulos do Cristo se prepararam para a vinda do Espírito Santo. Durante quarenta dias conviveram eles com o ressurgido da morte, que lhes ensinou a respeito do Reino de Deus. E esse ensinamento talvez fosse como uma continuação das palavras de despedida, conhecidas através do Evangelho de João.
Depois veio o acontecimento que chamamos de Ascensão do Cristo. Porém nos Atos dos Apóstolos, onde esse acontecimento é narrado, não nos é descrito que o Cristo “deixou” a Terra, senão que ele “entrou” no Céu. Ele foi ao Pai. Ele foi a caminho da Galiléia, a frente de seus discípulos. Sua “ida”, seu “caminhar a frente”, é caracterizado mais como um “ser acolhido”. Ali é dito: “... e uma nuvem o acolheu diante de seus olhos (discípulos), acobertando-o”. Isso porém não quer dizer que o Cristo deixou a Terra, pois estaria em contradição com o que diz aos discípulos, como consolação e promessa: “... e vide, Eu estarei convosco até o final dos Ciclos dos Tempos”. Isso quer dizer que Ele estará sempre com eles e com a Terra. O mundo das nuvens, que o acolheram, pertencem também a Terra, envolve-a como um manto vivente, como um manto de fertilidade. O Cristo abarca com o seu ser o Céu e a Terra. “A Mim foi dado todo o Poder, no Céu e na Terra”.
O fato de que os discípulos não mais o conseguem enxergar, a partir disso, é resultado de suas fracas capacidades de visão espiritual. Eles não conseguem mais vê-LO, por que não conseguem acompanhá-LO em sua transformação, pois Ele se transforma constantemente, elevando-se a uma existência espiritual. Os discípulos necessitam para vê-LO novamente, formar um órgão espiritual de visão muito mais sutil. Eles precisam conseguir se elevar a si mesmos para o âmbito de existência das nuvens, onde Ele habita. Só então poderão vê-LO novamente. E esse reencontro seria um “surgir de novo”, seria como uma “vinda”. Os anjos dizem: “Esse Jesus, que foi acolhido no Céu, virá outra vez, assim como O vistes ser acolhido ao Céu”. (Atos dos Apóstolos 1,11).
Cristo mesmo disse essas palavras: “Eu sai do Pai e vim ao mundo; e outra vez deixo o mundo e volto ao Pai” (João 16,28). Ele deixa o mundo da visão dos sentidos, da sensorialidade. Ele volta ao Pai.
Porém o que significa isso exatamente? Quem, ou o que é o Pai?
O Pai é “o Fundamento da Existência do Céu e da Terra”, Ele é o Fundamento de todos os seres e de todas as coisas. Quem vai a Ele, vem muito mais próximo a todos os seres e coisas, pois vai ao fundamento, ao cerne, no mais profundo de todos os seres. Estranhas e distantes nos são todas as coisas na superficialidade. O mundo da sensorialidade e da materialidade é estranho e distante. A nossa corporalidade nos separa uns dos outros. No cerne espiritual porém, todas as coisas são muito próximas. Por isso, a expressão “ir para o Pai” é em verdade o contrário de um afastar-se, é exatamente um “se aproximar mais”.
Uma de nossas orações de Ascensão possui essa expressão misteriosa de “ir ao cerne”: “O Cristo habita em nós, enquanto habita no Pai. O Pai, o Filho e a Humanidade se tornam um só. O Pai, para o qual o Cristo vai, é o mais profundo fundamento do nosso ser. Nós todos temos nossas raízes no Pai. E agora, não existe Nele nenhuma separação mais. A separação terminou, e nunca mais seremos expulsos de sua existência.”
(Christian Morgenstern).
Essa verdade da Ascensão é uma fonte de consôlo. Ela nos assegura a força e a presença do Espírito. Ela porta em si algo que vence o medo. O abandono e a separação do mundo sensório nos amedronta. Agora porém, podemos acolher em nosso coração a força do Espírito do Cristo, que une, que fortalece com a sua paz.
“Isso vos disse, para que tenhais a Paz em Mim. No mundo tereis medo, porém tomai coragem, Eu venci o mundo” (João 16,33).
PENSAMENTO:
“A verdadeira religião não é somente reflexão e pensamentos, senão que atividade... e ela não é uma atividade que se cultiva na solidão, separado de outras pessoas, em certas horas ou dias; Ela é justamente a realidade do Espírito em nosso interior, que se manifesta como uma extensão para o mundo, mergulhando, permeando e vivificando nossos pensamentos, nossas palavras e nossos atos”.
(João GottLiebe Fichte)