Textos Diversos
Advento e Natal
A Época do Advento inicia-se logo após os dias de finados, quando estamos envolvidos com os entes falecidos, com o tempo já ido, com o passado. No Advento, dirigimo-nos ao futuro, a época vindoura, assim como se expressa a composição da palavra ADVENTO: “aquele que vem”. É uma época cheia de tradições e, aqui, vamo-nos aprofundar um pouco em alguns de seus símbolos.
No advento, deveríamos atravessar um portal enorme e silencioso: o que nos conduz do exterior, que nos rodeia, para dentro do nosso mais oculto interior. O sol, o calor, a vegetação exuberante chamam a nossa alma para fora de nós; isto está certo e correto quando ocorre na ocasião e hora certa. A alma até deve poder viver em um mundo de sensações e de beleza natural. Porém, no advento, devemos iniciar uma introspecção, uma vivência interiorizada.
Se nos interiorizarmos, haveremos de ver como nós somos e nos prepararmos para o SER que virá, sem a necessidade de usar chavões, posturas adquiridas, máscaras. Lembremo-nos do dito popular: “ouça os milagres do silêncio; a sabedoria não reside nos ruídos”.
Chegou a hora certa de contar a lenda do diabo, para quem a festa do Natal era constante razão de aborrecimento. “Se eu não conseguir acabar com esta festa, todo o ano a Humanidade vai ter novamente a visão do céu e esta saudade voltará sempre. Deste modo, não conseguirei acabar com o cristianismo”. E matutou muito; chegou a ficar pálido, mais magro e cheio de preocupações, quando, repentinamente, soube o que fazer! E o que foi? Inventou a febre natalina! O comerciante PRECISA lucrar. Eis que surgem os dias “dourados”. E ao anoitecer da data máxima da cristandade, o homem está acabado; talvez ainda consiga contar seu dinheiro... e provavelmente precisará ter um longo sono! A dona da casa, porém, que deve se preocupar com filhos e parentes, com todos os tios e tias, com os preparativos da casa, quase desfalece no sofá ao chegar a noite santa. “Deixem-me em paz! Não posso mais!”
Estes dois instrumentos infernais, o barulho e a pressa, amortecem em nossa alma todos aqueles sentimentos delicados e suaves que nos querem “re-ligar” à nossa origem celeste, mundo que foi perdido e esquecido.
Esta é uma das tarefas, provavelmente a mais difícil, que nos fica por tentar cumprir na época do Natal: precisamos treinar conscientemente a achar o silêncio, a compenetração e a reflexão. Não somente combatendo ruídos e interferências exteriores, porém, principalmente, tentando encontrar, ou melhor, encontrando uma ligação nova com o mundo espiritual.
Sabemos como é benéfica e cheia de paz uma contemplação prolongada do céu estrelado: sentimo-nos acalmados, mais abertos e confortados até o fundo da nossa alma. Há inúmeros versos e canções a este respeito. Este fato é como um chamado de alerta para a alma: assim como as estrelas querem iluminar a escuridão terrestre, igualmente, nós devemos achar em nossa vida terrena pontos de luz dentro de nós; devemos nos iluminar com o que achamos dentro de nós, com o que vem do mundo espiritual.
A cor que corresponde ao advento é o azul, como a do manto de Maria e ele simboliza a vontade que temos de nos ligarmos novamente com a nossa origem. O azul representa a escuridão que foi permeada de luz. Este azul é a cor do terreno que deve envolver o espiritual, assim como o manto azul de Maria envolve o espírito vindouro, a criança , o germinar celestial que está por vir.
Conseguiremos iluminar-nos interiormente? Conseguiremos que nossa alma possa manifestar sua luz e, com isto, transformar a escuridão em luminosidade? Vejamos, pois,o símbolo da TRANSPARÊNCIA.
Esta é uma forma muito profunda para demonstrar-nos o que nossa alma pode ser: uma iluminação que vem do nosso interior. Podemos comparar cada ser humano com uma transparência que ele mesmo fez de si próprio - com suas peculiaridades, suas dificuldades e seus dons, cada um, dentro do que pode ou quis, recortou, colou, tirou ou adicionou seu papel de seda ou retalhinho colorido. Todos ainda sem a luz interior um mais harmonioso, outro pouco chamativo, mas cada um bem individual, bem “ele mesmo.” Porém, ao acender, as velas de cada um sairá luminosidade, cada um, sem exceção, será iluminado, nenhum ficará esquecido ou precisará de luz quando a vela o iluminar de dentro para fora.
Se observarmos um vitral na janela de igrejas, a impressão será bem diferente daquele que teremos ao ver uma foto, por melhor que seja, desse mesmo vitral. É o segredo é a magia da iluminação através de algo, da transparência. A transparência deixa isto bem claro: cada ser humano é um “eu” particular e original, inicialmente sem iluminação, ainda escuro. Ele precisa achar a luz interior, que é a MESMA para cada um no mundo, e com esta luz iluminar o seu próprio eu, sem ser necessário amoldar este seu “eu”! Cada individualidade deve manter ( e não esconder) o que lhe é peculiar e pessoal e isto com a luz que é igual para todos! Com esta luz, não só cada um deve trazer ao mundo o que é pessoal e seu, mas com este seu eu iluminado, deve trazer claridade ao mundo TODO!
E damos, então, o passo para o símbolo da VELA. A vela seria como a luz que brilha IGUALMENTE para todos. E é clara e quente; não uma luz ofuscante como a luz artificial e nem somente quente como o calor, mas suave no clarear e no esquentar. A vela é como deveriam ser a cabeça e o coração do homem: clara no pensar e quente no amar. E, assim como a vela se consome ao ofertar luz e calor, o ser humano também deve-se exaurir, sacrificar-se, queimando, para poder dar luz e calor a tudo e a todos!
Se perguntarmos, retrucar-nos-ão que sempre existiu a coroa do advento! E que nasceu junto com o pinheiro de Natal! Mas foi somente no início deste século vinte que ela começou a expandir-se largamente e se divulgou bastante durante o movimento juvenil dos alemães andarilhos (caminhadores, excursionistas). Eles costumavam enviar aos companheiros falecidos em combate uma coroa com velas acesas por cima de lagos e lagoas, como símbolo da viagem ao mundo do além. E, com isto, surgia uma crença e força grande para viverem esperançosos e, principalmente confortados pela fé. Levamos coroas aos túmulos dos falecidos como símbolo de um círculo vital que se completou. E, assim como a natureza que fenece transforma-se em novo crescimento, em florescer e amadurecer, igualmente, a morte do ser humano é apenas uma passagem para um mundo diferente, se contemplarmos o fato através do milagre do nascimento de Cristo.
Uma grande esperança surge-nos desta visão e todo o peão (talvez esta palavra esteja errada) que sentimos se desfaz e nos sentimos aliviados e leves. E o luto fica na terra. A coroa de flores que ficara por terra deitada no túmulo eleva-se a gravita, flutua, como que livres do seu peso físico. E se a dependurarmos abaixo do teto, será um símbolo da vida futura, que fechará seu círculo iniciado na vida física sobre a terra. A coroa, então, espelha a espera e a vinda do que a nossa alma já esta sentindo.
Suas quatro vela, acesas em seqüência de quatro domingos, cada domingo uma a mais até se queimarem todas, mostram-nos quatro direções na imensidão dos mundos, aonde os doze signos do zodíaco se fecham, também em um círculo. As quatro velas do advento são sua cruz luminosa: a cruz dos quatro evangelistas, a quem o simbolismo cristão deu, também, um signo:
Mateus - o Homem
Marcos - o Leāo
Lucas - o Touro
João - a Águia
Se as quatro velas da coroa flutuante estão acesas, o caminho para a vinda ao mundo do “Senhor dos Elementos”( como diziam os Celtas D’Aquele que está por vir) estará iluminado.
O nosso modo tradicional de colocar a árvore de Natal de pé na sala faz perder muito do simbolismo original tão abrangente. Há pessoas na Tchecoslováquia e outras regiões que se recordam de terem sido, também, as árvores penduradas como flutuantes, nos tetos. Assim, seriam um símbolo das amplidões dos mundos. No pé da árvore dependurada pendia uma maça como símbolo da terra, para a qual o milagre da luz havia acontecido. Esta terra, fruto e sinal do pecado original do tempo, vivencia do Natal o milagre da libertação e redenção pelo amor demonstrado por Deus, redimindo e elevando-nos para uma nova humanidade.
O dia 24 de Dezembro chama-se Adão e Eva e esta relação já foi praticamente esquecida. Mas até o começo do século apresentava-se neste dia a peça do paraíso e dos pastores ( o nascimento de Cristo) em Oberufer {Alemanha}, tradição que as Escolas Waldorf continuam, para a alegria de muitos *.
Este lembrar-se, este reatar dos símbolos antigos com a história da humanidade no aspecto anímico-espiritual é que nos dará todo o potencial, a base ( o “background”) que nos dias de hoje irá nos ajudar a reconhecer as forças novas que anunciam a vinda, o advento.